O candidato republicano à Presidência dos Estados Unidos, Donald Trump, falou esta sexta-feira publicamente sobre uma série de acusações passadas de atos de má conduta sexual por si protagonizados, provavelmente recordando aos eleitores incidentes pouco conhecidos ou já esquecidos.

Fê-lo pouco depois de comparecer em tribunal para recorrer de uma decisão que o considerou culpado de agressão sexual.

O ex-presidente norte-americano (2017-2021) fez da reação com ataques rasteiros a adversários e acusadores um elemento central da sua identidade política, mas as declarações que esta sexta-feira emitiu na torre de escritórios de Manhattan com o seu nome foram desconcertantes, mesmo para os seus padrões.

Segundo a agência noticiosa norte-americana Associated Press (AP), por vezes, pareceu inclusive estar a gostar de utilizar linguagem explícita e de fazer descrições do caso que poderão causar-lhe novos problemas legais, em comentários que surgem apenas a quatro dias do seu debate televisivo com a candidata democrata, Kamala Harris, atual vice-presidente dos Estados Unidos, e quando a votação antecipada prestes a começar em algumas zonas do país, a dois meses das eleições presidenciais de 5 de novembro.

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Embora tenha esta sexta-feira repetidamente referido a ausência de conferências de imprensa da sua adversária, as suas declarações centraram-se, durante mais de meia hora, nos processos judiciais em curso contra ele, sem abordar quaisquer temas de campanha.

E, no final, depois de ter convocado os jornalistas para o que afirmou ser uma conferência de imprensa, abandonou o local sem responder a perguntas.

Um júri emitiu uma sentença condenando Trump ao pagamento de uma indemnização no valor de cinco milhões de dólares (4,5 milhões de euros), considerando-o culpado de abusar sexualmente da colunista E. Jean Carroll em 1996, uma decisão de que a sua equipa jurídica recorreu e em relação à qual apresentou esta sexta-feira os seus argumentos.

Dois júris atribuíram já a Carroll somas avultadas, por Trump ter alegado que ela inventou uma história sobre ele a ter atacado no provador de uma loja em 1996 para ajudar às vendas de um livro de memórias que escreveu.

Mas tal não o impediu de continuar a fazer declarações quase idênticas aos jornalistas: esta sexta-feira, voltou a dizer que Carroll estava a contar uma “história inventada, falsa”.

A advogada de Carroll, Roberta Kaplan, alertou em março, depois de um júri ter atribuído a Carroll mais 83 milhões de dólares (74,8 milhões de euros), que continuaria a monitorizar os comentários de Trump e que consideraria processá-lo novamente se ele mantivesse a mesma atitude.

E. Jean Carroll é uma de mais de uma dúzia de mulheres que acusaram Trump de assédio ou agressão sexual.

Trump enfrenta um risco criminal e civil sem precedentes nos Estados Unidos num candidato de um partido maioritário.

Foi condenado separadamente por 34 crimes num processo que correu no Estado de Nova Iorque relacionado com pagamentos alegadamente feitos a uma atriz pornográfica para comprar o seu silêncio.

Foi também condenado a pagar pesadas multas ao Estado por ter mentido sobre a extensão da sua riqueza durante anos.

E ainda está a braços com casos relacionados com manuseio incorreto de documentos confidenciais, as suas ações após a eleição presidencial de 2020 e o seu envolvimento na incitação à insurreição no Capitólio, a 6 de janeiro de 2021, enquanto decorria uma sessão conjunta das duas câmaras do Congresso para validar os resultados eleitorais que davam a vitória ao seu adversário democrata, Joe Biden.

É, contudo altamente improvável que algum destes casos vá a julgamento antes do dia das eleições.