A Volvo não acredita que seja possível pedir aos clientes que paguem eternamente subscrições de equipamento que até podem ser interessantes e agradáveis, mas não são essenciais para o dia-a-dia ou para o funcionamento do veículo. O CTO (director técnico) da marca sueca, Anders Bell, garantiu que “os clientes detestam pagar por este tipo de assinaturas” e, embora admita que “há umas subscrições boas”, não deixa de apontar o dedo às outras, “as terríveis” que só exploram os clientes. Durante uma mesa redonda com alguma imprensa internacional, Bell afirmou mesmo que, para ele, seria “muito difícil pagar uma mensalidade para desbloquear um equipamento que já está instalado no carro”. E por a Volvo ter presente os erros ou os abusos de outras marcas, está apostada em não enveredar por este caminho.
A moda das subscrições, ou seja, adquirir o direito de utilizar um determinado equipamento ou solução — já instalados no veículo — durante um período limitado, um mês ou um ano, através do pagamento de uma determinada mensalidade, é algo relativamente recente, que passou a ser oferecido com a chegada de software mais sofisticado e com a capacidade de beneficiar de actualizações, idealmente de modo remoto, isto é, over-the-air (OTA).
Inicialmente, esta solução permitia que os condutores acedessem a uma maior capacidade de bateria, que poderiam utilizar nas deslocações nas férias de Verão, ou durante um salto à montanha nas férias de neve, bem como usufruir de mais uma centena ou mais de cavalos no motor, para reforçar o gozo num track-day com os amigos. Mas depois alguns construtores europeus começaram a ver as subscrições como uma forma de reforçar a facturação. Alguns acharam mesmo que tinham descoberto uma “mina de ouro”, daí que passassem a propor aos seus clientes que pagassem por equipamentos que tradicionalmente incluíam de série em determinados modelos, como o aquecimento dos bancos da frente, o controlo separado (à esquerda e à direita) do ar condicionado ou até funcionalidades que muitos fabricantes oferecem, como o acesso ao Android Auto, Apple CarPlay ou ao Spotify, que algumas marcas insistem em cobrar.
Muitas vezes, estes ataques à bolsa dos clientes começam pela subscrição da própria app da marca (e, muitas vezes, do modelo), sem a qual não é possível explorar algumas das potencialidades do veículo, especialmente se for eléctrico e permitir controlar a carga da bateria à distância e a cada instante. Sucede que estas aplicações, instaladas no smartphone, surgiram a este nível com a Tesla, que a oferece aos seus clientes. Estes agradecem a atenção, mas simultaneamente isto torna muito difícil (ou quase injustificável) que os outros fabricantes — com aplicações mais básicas e com menos capacidade de interacção com o veículo — decidam cobrar uma ou duas centenas de euros por ano por elas. É o que acontece, por exemplo, no universo de marcas do Grupo Volkswagen, além de outros construtores germânicos.
Um dos exemplos mais frequentes deste exagero das subscrições, que não foi bem aceite pelos clientes, envolveu a BMW. O construtor bávaro pretendia que os clientes pagassem uma mensalidade para poder usar o aquecimento dos bancos, que já estava instalado e que em muitos mercados há muito que faz parte do equipamento de série em muitas gamas. A insatisfação falou mais alto e a marca alemã acabou por se ver obrigada a fazer marcha-atrás, tendo repetido a manobra na necessidade de subscrever o CarPlay da Apple.