O Real Madrid cancelou pelo menos até março todos os concertos que estavam marcados no novo Estádio Santiago Bernabéu, em Madrid, depois de uma onda de queixas da vizinhança sobre o ruído. A história é relatada em diversos jornais espanhóis como o El País. O estádio de futebol está no coração da cidade, muito perto de prédios de habitação e hotéis, e há meses que havia queixas do volume que saía do recinto em noites de espetáculos.
Em comunicado, o clube diz que “esta decisão faz parte de uma série de medidas que o clube tem vindo a adotar para garantir o estrito cumprimento das normas municipais em vigor durante os concertos” e que “apesar das condições de insonorização do estádio Santiago Bernabéu e das medidas de reforço que têm sido tomadas, o cumprimento deste regulamento por parte dos diferentes organizadores e promotores tem sido afetado pelo grande desafio que têm enfrentado para ter em conta todos os seus preceitos”. O Real Madrid acrescenta que “novas datas serão anunciadas em breve”.
A decisão afeta concertos de artistas como as espanholas Aitana e Lola Índigo e um festival de K-Pop, segundo a imprensa espanhola, citando uma fonte da Câmara Municipal de Madrid. A cantora pop Aitana já anunciou no Instagram novas datas no mesmo local: 27 e 28 de junho.
Os moradores da zona circundante no estádio na capital de Espanha queixam-se de barulho excessivo desde que o Santiago Bernabéu começou a receber concertos. Em 2019, o estádio foi alvo de uma renovação de 900 milhões de euros para ir ao encontro da visão do presidente Florentino Pérez de aumentar as receitas do clube para além do futebol. Uma fonte do clube disse à Reuters que, em 2021, a remodelação aumentaria as receitas anuais do estádio de 150 milhões para 400 milhões de euros.
Em maio, a polícia de Madrid chegou a controlar os decibéis dos concertos de Taylor Swift após queixas de barulho. No final de julho, a autarquia de Madrid revelou que tinha acordado com o clube a realização de, no máximo, “20 grandes concertos por ano”, o que limitava os planos do Real Madrid para “encher” o calendário de eventos quando não há jogos. Além disso, o clube tinha-se comprometido a fazer uma remodelação para limitar o ruído com telas isoladoras, uma obra que deveria durar vários meses.
Escreve o El País que estes anúncios não apaziguaram nem os residentes nem o setor. Segundo o periódico espanhol, citando fontes da indústria musical, os artistas que tinham planeado tocar no Bernabéu para 2025 já estavam a considerar transferir os seus eventos para o estádio do Atlético de Madrid, face aos rumores da possível suspensão — que se viria a verificar.
Em Portugal, a prática de concertos em estádios de futebol já foi mais regular, sobretudo nos anos 1980 e 1990, quando o antigo Estádio José Alvalade, em Lisboa, se tornou palco do então fenómeno de mega-concertos ao ar livre. Por ali passaram nomes como David Bowie (1990), Tina Turner (1990), Dire Straits (1992), Elton John (1992), Michael Jackson (1992) ou Prince (1993).
Nas últimas décadas, outros estádios portugueses também foram escolhidos pelas produtoras para receber concertos com esta evergadura. O Estádio do Dragão, no Porto, por exemplo, recebeu concertos dos Coldplay (2012), Muse (2013) ou One Direction (2014) e o Estádio Cidade de Coimbra, naquela cidade, as atuações de U2 (2019), Madonna (2012) ou Coldplay (2023). Nos últimos anos, tem sido o Estádio da Luz, em Lisboa, a acolher estas produções: em 2023 foi a banda alemã Rammstein, em 2024 a cantora Taylor Swift, e para 2025 já está programado o concerto de Imagine Dragons.