A espera durou 1.544 dias. Mais de quatro anos depois de entrar pela última vez no Estádio da Luz, Bruno Lage repetiu a proeza este sábado, novamente como treinador do Benfica e outra vez frente ao Santa Clara. Na altura, em plena pandemia da Covid-19, o anfiteatro vermelho e branco encontrava-se totalmente vazio, mas a crise instalada no universo benfiquista e o resultado desse jogo (3-4) acabaram por definir a rutura entre o clube e o treinador. De lá para cá, a situação pouco mudou e o destino voltou a unir Benfica, Bruno Lage e Santa Clara. Desta vez o resultado foi diferente e deu um sinal de esperança aos adeptos encarnados.

O primeiro voo da nova águia começou na varinha de um mágico e amainou no chapéu de um Fideo (a crónica do Benfica-Santa Clara)

O dia começou cedo para o novo treinador das águias. A mais de seis horas do pontapé de saída, começaram a surgir nas redes sociais vídeos de Lage no relvado da Luz, a contemplar um Estádio que, naturalmente, se encontrava vazio. Passaram-se quatro anos, mas a rotina do setubalense antes dos jogos parecia continuar. Já com as bancadas mais compostas apareceu a primeira ovação: assim que o speaker anunciou o nome do treinador, os adeptos responderam com um grande aplauso.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Já com as equipas no relvado, o treinador saudou os adeptos quando se dirigiu para o banco de suplentes e aproveitou para galvanizar um Estádio, numa ligação perfeita entre adeptos e equipa como há muita não se via na Luz. O jogo até não começou de feição, já que o Santa Clara inaugurou o marcador aos 21 segundos, mas a equipa lá conseguiu responder durante a primeira parte e garantiu o triunfo na segunda, naquela que foi a primeira vitória da época com direito a reviravolta. Para já fica na retina a imagem de um novo Benfica, assente no treinador.

E foi através da emoção que Bruno Lage voltou a apelar aos adeptos, desta feita na flash-interview da BTV, onde aproveitou para recordar a importância da ligação entre a massa associativa e a equipa. “A equipa jogou sempre num ritmo muito alto, a procurar o meio-campo ofensivo, mas o mais importante foi o ambiente que se viveu. Deixou-me muito feliz. A equipa não vinha de um momento positivo, sofreu um golo aos 21 segundos e sentir aquele apoio ajudou-nos imenso a vencer o jogo. Um dos elementos da equipa técnica disse que estava frio cá dentro quando cá chegou e eu disse: ‘Espera que já vai aquecer’. ‘Aquecer’ é isto. O coração bombeou muito e o pulmão esteve bem, mas ainda tem que fazer muito para estar ao nível do coração. É isso que vamos fazer”, assumiu o técnico de 48 anos.

Quanto ao papel de Kökçü, médio que fez duas assistências e tem estado em debate desde que Lage regressou ao Benfica, o treinador explicou que pediu ao turco para “ligar mais o jogo”. “Entrou muito melhor na segunda parte. O Álvaro [Carreras] esteve mais largo e, assim, resultou a situação do canto e do golo. Gostei, mas temos um longo trabalho pela frente. São três pontos, mas o primeiro passo foi este, de trazer os adeptos para junto de nós”.

Já na sala de conferências de imprensa do Estádio da Luz, Bruno Lage recordou o golo sofrido, lembrando que, naquela altura, o Benfica “ainda tinha 90 minutos para colocar as coisas em prática”. “Ainda temos um longo trabalho para fazer e para que a equipa continue a jogar forma positiva, com muitas oportunidades de golo. Esse é o meu foco, preparar a equipa da melhor maneira e para que joguem este jogo, que já fizemos a espaços. É este o jogo de que os adeptos gostam e, para mim e para os jogadores, o fundamental é estarmos preparados para o difícil e aí estamos focados no plano de jogo. Quando as coisas não correm bem individualmente, temos de ir para o porto seguro e daí construirmos o nosso jogo”, concluiu.