Os eurodeputados do BE e PCP admitiram esta terça-feira um conflito de interesses da comissária portuguesa na tutela dos Serviços Financeiros por ter estado no setor privado, enquanto PS apontou apreensão e IL, Chega, CDS e PSD apoiaram a escolha.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, propôs esta terça-feira a atribuição da pasta dos Serviços Financeiros e União de Poupança e Investimento à comissária nomeada por Portugal, a antiga ministra das Finanças Maria Luís Albuquerque, segundo a sua proposta de equipa.

Em reação à escolha à margem da sessão plenária do Parlamento Europeu, na cidade francesa de Estrasburgo, a eurodeputada do BE Catarina Martins comentou que “Maria Luís Albuquerque tem problemas de transparência, de conflito de interesses e está envolvida também na privatização da TAP, que está agora a ser investigada”.

“Maria Luís Albuquerque, quando era ministra, fez ganhar o sistema financeiro contra os interesses do nosso país e, a seguir, foi trabalhar para as mesmas empresas que beneficiaram das suas decisões quando tinha a tutela do sistema financeiro e, agora, sai dessas empresas para ir fazer essa tutela a nível europeu, o que é péssimo para Portugal e péssimo para a Europa”, elencou Catarina Martins.

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Pelo PCP, João Oliveira observou que “esta pasta, em si, não é propriamente um elemento muito tranquilizador para os povos da Europa e, particularmente, para os trabalhadores, para os reformados e para quem vê as suas condições de vida a serem postas em causa com estas opções de favorecimento do setor financeiro”.

“É uma escolha que certamente deixará satisfeitos os interesses do setor financeiro, mas será talvez mais difícil de explicar no Parlamento Europeu qual é efetivamente o distanciamento que Maria Luís Albuquerque tem destes interesses financeiros”, concretizou, afirmando esperar um “escrutínio [parlamentar] apertado”.

A socialista Marta Temido apontou, por seu lado, que “há aspetos que suscitam preocupação e apreensão” no que toca ao “perfil político” de Maria Luís Albuquerque, nomeadamente por ter avançado, enquanto ministra das Finanças, com “decisões do ponto de vista da política económica e financeira portuguesa, ainda que num contexto específico, foram inegavelmente associadas a fórmulas que não foram um sucesso”.

Vincando que a “avaliação técnica que será feita” pelos parlamentares, a eurodeputada do PS falou ainda assim numa “pasta substantiva para aquilo que são os interesses da União Europeia”.

O eurodeputado da IL João Cotrim de Figueiredo considerou que a escolha “faz sentido tendo em conta o percurso profissional da Maria Luís Albuquerque”, por ter passado pelas finanças públicas.

“Tem um percurso profissional suficiente e tem os instintos políticos […] para nos dar algumas garantias”, reforçou, desvalorizando críticas sobre eventuais conflitos de interesse.

O parlamentar do Chega António Tânger Corrêa disse reconhecer “competência pessoal e profissional […] para desempenhar este cargo”.

Porém, ressalvou: “Achamos que o caso da TAP a fragilizou […]. Ainda que nós daremos o benefício da dúvida, não deixamos de lamentar que esta situação exista”.

Pelo CDS, Ana Pedro falou numa pasta “de relevância significativa tendo em conta a experiência que ela tem e o percurso profissional na área das finanças”, após ter desempenhado funções “num dos momentos mais delicados da economia portuguesa”.

Já o social-democrata Paulo Cunha referiu que esta é “uma boa notícia” para Portugal e para a Europa.

“Temos uma portuguesa com credenciais de bom desempenho […] numa pasta que é muito relevante para a Europa”, adiantou.

Maria Luís Albuquerque, 57 anos, foi ministra de Estado e das Finanças durante o período em que Portugal estava sob assistência financeira da ‘troika’, sucedendo a Vítor Gaspar em julho de 2013 e mantendo-se até final do executivo liderado por Pedro Passos Coelho (PSD/CDS-PP).