Com o início da fase 5 do Universo Cinematográfico da Marvel (MCU) vieram as séries, mais sequelas e regressos inesperados (ou talvez nem por isso) à vida, como será o caso de Robert Downey Jr., que regressará ao cinema de super-heróis como Dr. Doom em Avengers: Doomsday (2026). Não se pode dizer que a fase 4 tenha corrido bem, com vários filmes a não corresponder às expectativas, especialmente ao nível da bilheteira. No ano passado, o New York Times escrevia mesmo sobre uma certa fadiga do público em relação ao género: “É este o fim do jogo [Endgame, alusão ao último capítulo da fase 4, que se tornou numa das produções mais rentáveis de sempre] para os super heróis?” Não será o fim, garantia do patrão da MCU, Kevin Feige, sempre de chapéu e sorriso em riste, que não atira a toalha ao chão, mesmo depois de um dos principais vilões, Kang, ter sido “apagado” das próximas aventuras dos novos Avengers (porque o actor Jonathan Majors foi acusado de violência doméstica).
Por falar em vilões, Agatha Harkness (interpretada por Kathryn Hahn), bruxa que tenta aproveitar-se do poder de Wanda Maximoff em WandaVision — mas que acaba sem o próprio — foi uma das boas surpresas da fase 4. Tão boa que os responsáveis decidiram criar uma mini-série só para ela, com estreia marcada para esta quinta-feira, dia 19, na Disney+. Foi Sempre a Agatha acompanha a história de uma personagem que tem de fazer de tudo para recuperar a única razão da sua existência: os poderes mágicos. A vilã torna-se, assim, anti-heroína. Ou será que é heroína, mas de outra forma? Não vale a pena estragar tudo com spoilers.
[trailer oficial da mini-série “Foi Sempre a Agatha”:]
O que vamos ver é um grupo de bruxas numa roadtrip liderada por Kathryn Hann, com quem falámos à distância durante curtos minutos (regras da indústria cada vez mais a isso obrigam) sobre feitiçaria, preparação para o papel e comédia, género onde tem sido mestre: Trip de Família, Filhos e Enteados, Mrs. Fletcher, Vida Privada ou a extraordinária série Transparent. São alguns títulos que têm marcado uma carreira muito particular na fronteira por vezes óbvia, por vezes ténue, que separa a comédia do drama. “Esta é uma série mais obscura do que WandaVision. A Agatha já não pode confiar nos seus truques, não tem esse luxo. Tem de ir à procura do poder. Vamos mais longe”, diz Kathryn Hann.
Antes de se ir mais longe, Foi Sempre a Agatha volta para trás. A série segue o tom de outras produções parceiras, como Loki, onde se explora uma narrativa que se apresenta mais complexa, menos democrática, centrada numa só personagem que, apesar de vinda de outro mundo com capacidades extraordinárias, sente, sofre e vive como um ser humano. Ficamos a saber que Agatha Harkness foi, em tempos, uma polícia que liderava a investigação sobre uma série de mortes misteriosas mas que é subitamente interpelada por um jovem gótico (Joe Locke) que a ajuda a voltar ao seu “verdadeiro eu” de bruxa, quebrando o feitiço que a impedia de ter os seus poderes. Só que a única forma de Agatha realmente restabelecer a sua magia é partir para o Witches Road, local inóspito, repleto de criaturas e desafios pouco recomendáveis a quem quer continuar a respirar.
Não vai sozinha. Junta-se a um grupo de outras bruxas caídas em desgraça que, caso consigam chegar “ao fim da estrada”, vão ter o que mais desejam. Outro dos ingredientes de Foi Sempre a Agatha, que se revestiu bem de um elenco no feminino, o que tem sido uma aposta maior do MCU, é a introdução de Aubrey Plaza (Parks and Recreations, White Lotus e também Megalopolis de Francis Ford Coppola, que se estreará ainda este ano em Portugal) no universo da Marvel como Rio Vidal, uma bruxa verde desejosa de matar Agatha Harkness. E já o sabemos: a introdução de novas personagens em filmes ou séries de super-heróis pode ser para o resto da vida.
Quando o Observador pergunta a Kathryn Hann se foi preciso trazer os seus trunfos cómicos, a atriz norte-americana foi rápida a avisar que o MCU está bem nessa categoria. “Sim, é verdade que existem muitos super-heróis demasiado sérios, mas existe muita comédia e química neste universo. No caso desta série, muita da comédia foi cozinhada na escrita, o que tornou tudo mais delicioso. Assim damos a oportunidade ao público de se desligar um pouco dessa seriedade.”
Ainda sobre seriedade, como é que a palavra se usa quando se fala de bruxas? A história não é simpática sequer com a palavra — aliás, “cruel”, talvez seja a palavra mais acertada, que ase associa também a outras, como “caça” e “queima”. Segundo a atriz, nos Estados Unidos da América, a fama continua a não lhes ser favorável. “Historicamente os americanos não gostam delas. E ainda hoje são olhadas de lado”, confirma Kathryn Hann, que confessou ao Observador ter conhecido uma destas mulheres. “Foi incrível, estive várias semanas com ela durante a pré-produção da série. Claro que a definição dela no que diz respeito ao que ela própria é e representa, é diferente da de Agatha”. Por isso, o facto da personagem ter resultado bem junto do público em WandaVision explica-se, na opinião de Kathryn Hann, por existir um fator de identificação com quem se sente excluído da sociedade: “As bruxas são figuras marginalizadas, daí que muita gente se identifique com elas”, completa
Kathryn Hann teve ainda aulas para saber mexer as mãos — “porque nem todas as bruxas têm os mesmos movimentos” — e teve de se preparar fisicamente para o papel. Mais do que nunca na sua carreira, aliás: “É verdade, nunca tinha passado por nada assim”, finaliza.