A manifestação em defesa do espaço público Kidical Mass, que foi proibida em maio pela PSP, no Porto, vai realizar-se em bicicleta no domingo, coordenada com as autoridades, disse à Lusa uma representante da organização.
“Está tudo confirmado, tudo em conformidade”, disse à Lusa Vera Diogo, da Mubi — Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta, que coorganiza a Kidical Mass, um movimento global em defesa do espaço público e da necessidade e vontade das crianças e adultos usarem modos ativos (caminhar, bicicleta, etc) nas deslocações diárias.
Sob o mote “A rua também é nossa! Criar espaço para esta geração”, a manifestação reivindica “leis de trânsito rodoviárias amigas da criança”, “rotas seguras para as escolas”, “envolventes escolares seguras e livres de poluição do ar, ruído e tráfego motorizado de atravessamento”, “limite de 30 km/h nas localidades e ruas com pessoas” e “ciclovias largas, contínuas e com cruzamentos seguros, em estradas principais”.
Em maio, a PSP emitiu um parecer negativo a outra Kidical Mass, por a presença de bicicletas alegadamente conflituar “com a liberdade de circulação dos demais cidadãos”, sendo que um dos propósitos da manifestação proibida era precisamente reivindicar essa liberdade de circulação para meios alternativos ao automóvel, que ocupa mais espaço público.
Desta vez, segundo Vera Diogo, os organizadores da Kidical Mass reuniram-se antecipadamente com a PSP e Polícia Municipal, tendo já a confirmação da autarquia quanto à realização da manifestação, após parecer positivo das autoridades.
Os organizadores pediram a inclusão das ciclopatrulhas da Polícia Municipal e da PSP, algo que segundo a também presidente da Mubi está em aberto.
Partindo da Praça da República, no Porto, pelas 15h00, o trajeto seguirá pela Avenida da Boavista, Praça do Império, Avenida do Brasil e Castelo do Queijo, terminando num convívio no Parque da Cidade.
Tal como tem acontecido informalmente pelos ciclistas desde a conclusão do pavimento do metrobus na Avenida da Boavista, os manifestantes ponderam utilizar o novo canal viário.
“É possível. Falámos com a polícia sobre isso, até porque [num passeio realizado] na semana passada, com a Polícia Municipal, nós utilizámos. Foi decisão da polícia fazermos isso, porque é mais seguro neste momento. Falámos sobre isso e eles pareceram concordar”, disse à Lusa Vera Diogo.
No caso do novo desenho da Avenida da Boavista, que já viu duas pessoas morrerem em incidentes rodoviários entre 2019 e 2023 (total de 118 ocorrências com 139 vítimas), a dirigente associativa coloca o foco na “questão da vida, na questão da segurança”.
“O modo como a avenida está desenhada, com um piso novo, mantendo as mesmas vias para os automóveis, convida a acelerar e a que mais carros a utilizem”, considera, não sendo um ambiente “seguro para as pessoas, e particularmente para as crianças, jovens e idosos”, ou “para qualquer pessoa com menos mobilidade”.
A Kidical Mass acontece no Dia Mundial sem Carros e no final da Semana Europeia da Mobilidade, pretendendo também sensibilizar para um desenho urbano mais favorável aos peões e modos ativos de mobilidade.
Para Vera Diogo, muitos acidentes “não são acidentes, são consequências do planeamento urbano e da falta de fiscalização das velocidades”.
“O modo de nós mudarmos a perceção das pessoas, e abrirmos a sensibilidade das pessoas para este tema, é não nos focarmos na mobilidade em si, mas na vida, no que é mais importante”, vinca.
Para a coorganizadora da Kidical Mass, é importante “as pessoas saberem que, por exemplo, as suas crianças estão em segurança junto às escolas e que podem ter alguma autonomia, que não estão completamente dependentes do pai ou da mãe que os vai buscar”, algo que “também cria uma obrigação, um ‘stress’ nas famílias”.
“É uma questão de vontade política”, considerando necessário “que eles [políticos] também sejam sensibilizados e percebam a importância disto”.