Já são 37 o número de mulheres que dizem ter sido abusadas por Mohamed Al-Fayed, o magnata egípcio que foi proprietário dos armazéns de luxo Harrods, em Londres, e que morreu em 2023 aos 94 anos. A BBC emitiu na última quinta-feira o documentário Al-Fayed: Predator At Harrods, para o qual ouviu mais de 20 ex-funcionárias que afirmam que o bilionário as agrediu sexualmente ou as violou.

Numa conferência de imprensa na sexta-feira, em Londres, os advogados das vítimas descreveram o empresário como um “monstro”, que terá abusado de jovens mulheres e de raparigas que trabalharam nos armazéns durante os 25 anos em que foi proprietário. Mas não só. Também no Fulham, equipa inglesa que era detida pelo empresário, os comportamentos de Al-Fayed seriam semelhantes.

“Um predador sexual sem bússola moral”

Os alegados incidentes com as antigas funcionárias do Harrods tiveram lugar em Londres, Paris, St Tropez e Abu Dhabi. “Mostrei que não queria que aquilo acontecesse. Não dei o meu consentimento. Só queria que acabasse”, afirmou uma das mulheres, que diz no documentário que Al-Fayed a violou no seu apartamento de Park Lane, em Londres.

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Já outra mulher assegura que era adolescente quando terá sido violada por Al-Fayed em Mayfair. “Mohamed Al-Fayed era um monstro, um predador sexual sem qualquer bússola moral. Estávamos todos muito assustados. Ele cultivava ativamente o medo. Se ele dissesse ‘salta’, os funcionários perguntavam ‘de que altura'”, contou.

Alice, nome fictício, contou em entrevista que recebeu um telefonema do chefe de segurança de Al-Fayed depois de, em 1995, ele ter descoberto que ela tinha falado com um jornalista sobre o comportamento do magnata. A mulher diz que tinha 16 anos quando Al-Fayed a agrediu sexualmente. “Ele disse que eu não podia estar envolvida no artigo e que, se fosse contra o seu conselho, deveria ter conhecimento de que ele sabia onde viviam os meus pais”, pelo que não voltou a falar sobre o que aconteceu até à entrevista que deu recentemente à BBC.

Em declarações ao mesmo documentário, os novos proprietários do Harrods, que adquiriram os armazéns em 2010, disseram estar “absolutamente chocados” com as acusações, mas referiram que só tiveram conhecimento delas no ano passado. “Embora não possamos desfazer o passado, estamos determinados a fazer o que é correto enquanto organização, guiados pelos valores que defendemos hoje em dia, assegurando ao mesmo tempo que este tipo de comportamento nunca mais se repita no futuro”, refere o comunicado.

A carreira empresarial de Mohamed Al-Fayed começou nas ruas de Alexandria, no Egito, onde vendia bebidas com gás aos transeuntes, refere a BBC, mas o casamento com a irmã de um milionário negociante de armas saudita fez com que estabelecesse novos contactos e construísse um império empresarial.

Mudou-se para o Reino Unido em 1974 e 11 anos mais tarde, em 1985, assumiu o controlo do Harrods. Nas décadas de 1990 e 2000, aparecia regularmente em programas de entretenimento na televisão e em 1997 o seu nome esteve sob os holofotes após a trágica morte do filho. Dodi Al-Fayed perdeu a vida no mesmo acidente de viação que Diana, princesa de Gales, a 31 de agosto desse ano.

Jogadoras do Fulham eram protegidas

Um antigo treinador da equipa feminina afirmou à BBC que o clube tomou medidas adicionais para proteger as jogadoras do falecido proprietário. Gaute Haugenes, que esteve à frente da equipa entre 2001 e 2003, disse que os membros da equipa se aperceberam de que o falecido bilionário “gostava de raparigas jovens” e que as jogadoras nunca eram deixadas sozinhas com Al-Fayed, que deteve o clube durante 16 anos.

Os advogados que representam as ex-funcionárias do Harrods informaram, em conferência de imprensa, que era “improvável” que não houvesse mais alegadas vítimas, mas que atualmente não representavam nenhuma antiga jogadora do clube. “Nesta fase, não representamos nenhuma mulher que, por exemplo, tenha sofrido ataques no Fulham Football Club, mas as nossas investigações estão obviamente a decorrer em todas as entidades em que ele esteve envolvido”, afirmou a advogada Maria Mulla. “É altamente improvável que não existam vítimas nesses outros locais de trabalho. Onde quer que ele tenha ido, haverá vítimas”, acrescentou.

O Fulham informou a BBC que está a tentar apurar se alguma antiga jogadora do clube foi afetada, encorajando a participação de alegados crimes ao departamento de proteção do clube ou a polícia.”Li todos os jornais ontem, claro, e para ser honesto não estou surpreendido”, disse Haugenes. “Sabíamos que ele gostava de raparigas jovens e loiras. Por isso, certificámo-nos de que [não havia espaço para] essas situações ocorrerem. Protegemos as jogadoras”, acrescentou.