Um “norte-americano” que passou oito anos preso no Irão contou, numa entrevista à CNN, as “indignidades indescritíveis” de que foi alvo durante o período que esteve em cativeiro. Siamak Namazi foi preso depois de três meses de interrogatórios, por “formalmente cooperar” com os Estados Unidos da América, descritos como um “Estado hostil” na acusação.

Nasceu no Irão, emigrou para os Estados Unidos com 12 anos, e voltou ao Irão em 2015 para um funeral, no “auge” das relações entre os dois países, conforme descreveu. Porém, ao aterrar em solo iraniano, Siamak foi surpreendido por um homem de fato que lhe disse: “Vem comigo”. Apesar de se recusar a acompanhá-lo, o norte-americano foi novamente apanhado de surpresa por um funcionário fardado que o deteve no aeroporto. Nesse momento, Namazi enviou uma mensagem urgente ao irmão a dar conta do inesperado. Depois disso, foi ilegalmente interrogado durante três meses, até ser preso. Assim começou um calvário de oito anos.

Assim que entrou na cadeia de Evin, Siamak Namazi foi “atirado para uma cela solitária… do tamanho de um armário”, onde esteve durante oito meses. Foi nessa cela que começaram as atrocidades contra Namazi, que foi aconselhado a cooperar com as autoridades sob a ameaça de ficar ali até “dentes e cabelos ficarem da mesma cor”. O americano foi vendado e espancado, mas o pior foi a “humilhação”, contou à conhecida jornalista Christiane Amanpour.

Mas antes de ser espancado, Siamak teve direito a receber visitas. A primeira foi a mãe que não reconheceu o filho por este apresentar uma longa barba: “Lembro-me de a ver a soluçar e de tentar fazê-la rir, dizendo-lhe: ‘Pareço o Saddam'”, referiu Namazi. Numa segunda visita da mãe, já após meses de espancamentos, o recluso foi aconselhado a não contar nada do que ali se passava, mas não cumpriu e lembra-se de ter dito: “Olá, mãe. Estes tipos têm estado a torturar-me. Preciso que vás falar em público sobre isto”.

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Quanto ao resto dos pormenores relativos às “indignidades” que sofreu, o norte-americano diz não sentir “à-vontade para falar sobre isso”, acrescentando que ainda nem conseguiu falar sobre o assunto em terapia.

Siamak Namazi garante ter consciência de quão “inseguro” estava e sublinha que os oito anos de prisão no Irão tiveram um “profundo efeito” nele. “Eles queriam uma sentença de morte para mim”, recorda Namazi.

Para além de todas as sensações de “humilhação” a que foi sujeito, ainda sentiu que foi abandonado pelo seu governo, adiantou à CNN. No tempo em que esteve na cadeia,  Siamak recorda-se de acordos entre Estados Unidos e Irão para a libertação de outros presos, durante os governos de Obama e Trump. Sem saber se iria sobreviver, Namazi só tinha duas opções: esperar por uma eventual negociação ou lutar. A negociação que o libertou surgiu em 2023 e pôs fim a um martírio de oito anos, com os Estados Unidos a alegar que Siamak foi preso injustamente.

O primeiro passo e o cheiro da liberdade

Há pouco mais de um ano, a 18 de setembro de 2023, Siamak Namazi aterrou em solo norte-americano para voltar a sentir a liberdade. Ainda no avião, levantou-se do assento e dirigiu-se para a saída. Depois, nos primeiros passos que deu fora da aeronave, deteve-se e respirou fundo, num tributo ao seu tio, o ar da América.

Namazi lembra-se do que, em 1983, o tio lhe disse a si e ao irmão quando emigraram e aterraram pela primeira vez nos Estados Unidos: “Conseguem cheirar isto? Isto é o cheiro da liberdade”. Quarenta anos depois, Siamak voltou à América depois da prisão e, ao sentir o ar da noite norte-americana, homenageou o tio: “Senti-o desta vez. Senti o cheiro da liberdade”, realçou.

Seguro e regressado aos Estados Unidos, Namazi debate-se sobre ideias de como alterar a diplomacia que abrange a negociação de reféns norte-americanos. Compara o processo a um jogo de ‘rugby’: “Temos de deixar de jogar xadrez político. É diferente”, referiu.

Apesar de defender que o Ocidente pode lidar com este tipo de questões de uma forma muito mais eficiente, Siamak mostra gratidão a Joe Biden, pois foi sob a sua governação que foi libertado: “Gostaria muito de apertar a mão do Presidente [dos EUA] um dia. Adorava mesmo”, concluiu emocionado.