Uma gata, um esquilo e um pássaro têm mais direitos do que uma mulher ou uma rapariga no Afeganistão, disse esta terça-feira Meryl Streep. E o apelo ao mundo da conhecida atriz para que haja uma intervenção no regime repressivo talibã tornou-se rapidamente viral nas redes sociais.

A estrela norte-americana foi uma das oradoras num evento dedicado à inclusão das mulheres no futuro do Afeganistão, à margem da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque, Estados Unidos da América.

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Hoje, em Cabul, uma gata tem mais direitos do que uma mulher. Uma gata pode sair de casa e apanhar sol na cara, pode ir atrás de um esquilo no parque. Um esquilo tem mais direitos do que uma rapariga no Afeganistão, uma vez que pode frequentar os parques livremente, ao contrário das mulheres e das raparigas para quem estão fechados. Um pássaro pode cantar em Cabul, uma rapariga não o pode fazer em público“.

Streep concluiu pedindo aos líderes mundiais para “pararem a lenta asfixia” das raparigas e mulheres afegãs. Acusando o regime atual de promover a “supressão da lei natural”, a atriz sublinha que “a forma como esta cultura, esta sociedade, foi subvertida, é um alerta para o resto do mundo”.

O vídeo das suas declarações teve milhões de visualizações na rede social X, por exemplo, e foi partilhado por milhares de pessoas.

Para além das dezenas de discursos no evento, também o Secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que o Afeganistão “nunca irá ocupar o lugar que lhe cabe no palco mundial”, sem mulheres com educação e emprego.

Em resposta aos comentários de Meryl Streep, um porta-voz dos talibã citado pela BBC afirmou que “ninguém pode tirar às mulheres os direitos que o Islão lhes deu “. E Suhail Shaheen, líder do gabinete político do regime, foi mais longe nas declarações que fez à cadeia televisiva britânica:

Respeitamo-las muito no seu papel de mãe, irmã e esposa. São uma parte essencial da família e da sociedade, mas nunca as comparamos aos gatos”.

E argumentou que atualmente, centenas de milhares de mulheres trabalham em departamentos estatais e empresas.

Os talibãs têm promulgado uma série de mudanças radicais desde que assumiram o poder no Afeganistão, afetando a liberdade e os direitos de 14 milhões de mulheres no país, desde reformas no sistema de ensino, à proibição da voz feminina em espaços públicos.

Não podem cantar, recitar ou falar. Afeganistão proíbe voz das mulheres em público