A diretora da Obra Católica Portuguesa de Migrações (OCPM), Eugénia Quaresma, contestou este sábado a realização de uma manifestação contra imigrantes no domingo, Dia Mundial do Migrante e Refugiado da Igreja Católica.
“Não faz sentido uma manifestação contra os imigrantes”, principalmente no dia em que a “Igreja mostra a sua compaixão e compreensão por quem é migrante”, afirmou à Lusa Eugénia Quaresma.
No domingo celebra-se o 110.º Dia Mundial do Migrante e do Refugiado e o Chega convocou para o mesmo dia um protesto contra o que classifica de “imigração descontrolada em Portugal”, o que mostra uma “tentativa de instrumentalização política” do fenómeno migratório, afirmou a dirigente.
“Estamos num tempo em que se procura instrumentalizar politicamente as migrações” e “temos de olhar para as pessoas na sua humanidade, para aqueles que acolhem e aqueles que não conseguem continuar nos seus países”, afirmou.
Este sábado, o discurso contra os imigrantes é feito por aqueles que “estão a provocar guerras e não conseguem promover a paz”, disse.
Para a dirigente da OCPM, é “essencial olhar para o lado humano deste fenómeno que é cada vez mais estrutural” e “veio para ficar”, como o provam os dados recentes de Portugal, que apontam para mais de um milhão de imigrantes em 2023.
“Não nos devemos assustar com os números”, porque “só é possível construir uma sociedade mais coesa e mais humana com os imigrantes, refugiados, e estudantes internacionais”, afirmou, recordando a mensagem do Papa Francisco para domingo: “Deus caminha com o seu povo”.
A Igreja recomenda aos cristãos que “olhem para o potencial do imigrante como pessoa de fé, como pessoa completa” e não apenas um instrumento económico.
Para Eugénia Quaresma, “há um profundo desconhecimento daquilo que é o magistério da Igreja quanto aos imigrantes, que defende a inclusão e não a exclusão”.
Até porque, acrescentou”, “sem imigrantes, a economia parava”.
Por isso, referindo-se à ação do partido de André Ventura, Eugénia Quaresma considera que “não é contra os imigrantes que se têm fazer manifestações, mas sim contra as desigualdades, contra a pobreza e para promover a paz”.
Os políticos deveriam “promover a dignidade das pessoas e dos pobres e a liberdade para que as pessoas possam escolher ficar num país ou noutro”, afirmou a dirigente católica, recusando a ideia de que “quem precisa de emigrar é um criminoso”.
Por outro lado, “a diversidade é um dom, as migrações ajudam-nos a crescer como Igreja, somos chamados a dialogar com diferentes culturas, a dialogar com diferentes religiões, e isso é positivo, porque somos chamados a ser construtores de pontes”, acrescentou.
“Só partir das nossas diferenças podemos ser melhores, temos de aprender com os outros”, disse ainda Eugénia Quaresma.
O líder do Chega anunciou a manifestação contra as medidas do governo e o excesso de imigrantes no país, associando esse fenómeno ao que diz ser um aumento de “insegurança nas ruas”.
Quer as autoridades nacionais quer o governo têm alegado que não há qualquer relação entre a criminalidade e os imigrantes, rejeitando que existam dados que apontem para mais insegurança.
Na apresentação do Plano de Ação para as Migrações, o primeiro-ministro, Luís Montenegro, voltou a rejeitar “qualquer ligação direta” entre a “capacidade de acolher imigrantes e aumentos de índices de criminalidade”.