O reduto de S. Pedro, uma estrutura secular portuguesa, construída no município de Catumbela, província angolana de Benguela, espera por restauro, sob pena de a história se apagar, devido ao avançado estado de degradação.

Erguido num morro à margem do rio Catumbela, por forças portuguesas, exibe, na entrada, a descrição: “Foi feito à custa dos habitantes de Benguela, honra à digna Câmara Municipal. Os contínuos insultos feitos aos brancos pelos indígenas deste distrito, originaram a construção deste reduto. As guarnições dos brigues Mondego, Tâmega e corveta Relâmpago, commandadas pelo chefe F. A. Glz Cardodo, os submeterão por ordem do Governador Geral, o Exmo Snr. Pedro Alexandrino da Cunha, F. X. Lopes Major do Exto., traçou e construiu 1ª pedra 5 de outubro de 1846″.

A origem desta estrutura é relatada pelo historiador e guia turístico angolano, Jorge Augusto, 62 anos, reformado e o primeiro responsável pela Cultura em Catumbela, segundo o qual o forte de S. Pedro foi construído para reprimir as revoltas de Catumbela.

“No passado, os portugueses que se instalaram em Benguela, confrontados com a insalubridade do local onde estava a povoação de Benguela, ficaram preocupados e exigiram que os seus responsáveis encontrassem melhor lugar, que oferecesse melhores condições sanitárias. Entre vários locais esse foi o mais ideal”, contou.

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Foi assim que por volta de 1618, continuou o historiador, os portugueses, comandados por Cerveira Pereira, expulsaram as autoridades tradicionais locais, que residiam nas duas margens do Rio Catumbela, tendo este facto originado muitos confrontos, que se prologaram de 1618 até 1647.

Noutra inscrição epígrafe lê-se: “Este reduto foi classificado monumento de interesse público por portaria nº 8579 de 17 de junho de 1954, e restaurado de abril a junho do mesmo ano, sendo governador geral o capitão José Agapito da Silva Carvalho”.

Hoje, aquela estrutura – que, informa outra epígrafe, recebeu “Visita do Presidente da República Portuguesa General Francisco Higino Craveiro Lopes ao Forte de S. Pedro da Catumbela, construído em 1846-1847, por seu bisavô, ao tempo major Francisco Xavier Lopes, 17 de junho de 1954” – exige novo ato de restauração.

Totalmente sem cobertura, Jorge Augusto disse que assim ficou por altura da construção da Ponte 4 de Abril, a mais nova das quatro sobre o rio Catumbela, inaugurada em 2009.

Jorge Augusto explicou que, por altura da construção da ponte, havia também um projeto para transformar o reduto em alguma coisa que não soube explicar, mas a ideia não avançou.

“Por isso é que se retirou a cobertura, havia um projeto de fazer disso alguma coisa, mas o Ministério da Cultura reprovou, razão pela qual isso ficou sem cobertura. (…) Ainda estava em condições, tinha telhas, barrotes, retiraram e amontoaram dentro do espaço, mas os amigos do alheio foram levando tudo e ficou assim”, lamentou.

Apesar do seu estado de degradação, o forte é visitado maioritariamente por estudantes e académicos nacionais, mas também por turistas estrangeiros que se deslocam a Benguela, disse o historiador, regozijando-se que a história daquele local “teve ecos no exterior”, referindo-se aos visitantes americanos que chegam em navios cruzeiros.

A continuar assim, sem qualquer guarnição, em estado de abandono, corre-se o risco de ter a história apagada, disse Jorge Augusto.

“Estaremos em via de termos isso a desaparecer (…). se isso fosse reabilitado teríamos essa segurança, mas como está assim aos escombros, ninguém ainda pensou na sua segurança”, acrescentou.

Com as atenções hoje viradas para o Corredor do Lobito, infraestrutura ferroviária que liga Angola às zonas de minérios da República Democrática do Congo e da Zâmbia, urge a restauração de espaços como este, pontos turísticos, e “um imposto a entrar para os cofres do Estado”, defendeu aquele guia turístico.

E como a história se repete, o local serviu novamente de guarnição militar. Chama a atenção uma placa no interior daquela arquitetura militar, num dos seus compartimentos, que diz “Comando da 3ª CIA”.

Questionado sobre o que significava, Jorge Augusto explicou que, em 1992, no conflito pós-eleitoral, foi ali colocado um comando de artilharia para guarnecer a ponte, para que não fosse destruída.

Daquele local, a vista alcança também a primeira residência do primeiro administrador colonial, edificada em 1770 e inaugurada em 1836, por Decreto de D. Maria II, Rainha de Portugal, também em avançado estado de degradação.

“[Era] a casa do chefe, havia aqui uma povoação. Os portugueses tinham a ideia de mudar a povoação de Benguela para esse local. Antes Catumbela chamava-se Asseiceira e queriam que houvesse a coabitação com os europeus, mas os nativos não aceitaram e continuaram a atacar esta povoação, foi assim que os portugueses tiveram que mandar vir o reforço de três navios que conseguiram derrotar a resistência dos mais velhos”, narrou.