A Agenda da Microeletrónica, lançada há dois anos no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), atingiu uma taxa de execução global de cerca de 60%. A iniciativa, que surgiu num contexto de escassez de semicondutores no mercado global durante a pandemia de Covid-19, foi estabelecida para mobilizar o crescimento do setor dos “chips” e microeletrónica em Portugal.
A agenda é liderada pela tecnológica Amkor — ATEP, e envolve 17 parceiros da indústria, num projeto com um montante de 67,5 milhões de euros.
Pedro Almeida, o diretor técnico da agenda, mostra-se satisfeito com a taxa de execução do projeto até agora. “Estamos muito contentes de hoje em dia ser a agenda que, a nível nacional, está no topo em termos de execução financeira”, diz ao Observador.
O diretor técnico acredita que o facto de já haver planos anteriores ao lançamento da agenda e do PRR teve influência nesta capacidade de execução. “São as empresas que estão a puxar pela agenda para as coisas funcionarem mais rápido”, contextualiza. “Era um movimento que já vinha de trás”, os projetos “não foram desenhados exclusivamente para o propósito da agenda” e querem principalmente “responder às necessidades das empresas”. “Obviamente isso dá outra robustez e solidez ao projeto.”
Alguns dos exemplos de efeitos da agenda estão ligados a projetos de inovação produtiva, como investimentos feitos para as empresas adquirirem novos equipamentos “para a linha de produção”, exemplifica Pedro Almeida. Tendo em conta a “evolução tecnológica hoje em dia, em que quase a cada seis meses há uma tecnologia nova”, os projetos e investimentos deste tipo “são fundamentais, para não dizer críticos, para manter as empresas em Portugal”.
Em Portugal, o setor dos semicondutores tem um perfil maioritariamente exportador, com pouca dependência do mercado interno. Para se conseguir manter as “estruturas empresariais em Portugal, com este nível de competitividade, este tipo de projetos também são fundamentais para garantir que há uma atualização dos equipamentos da linha de produção e das tecnologias que há na linha de produção para conseguirem captar projetos de clientes internacionais”, acredita.
Observatório vai traçar o retrato da indústria
Esta terça-feira, foi anunciado durante a segunda edição do Congresso Anual da Agenda da Microeletrónica, em Aveiro, o lançamento de um observatório dedicado à indústria. A ideia foi apresentada já no ano passado e foram precisos alguns meses para concretizar a ambição de uma plataforma que quer ser uma “ferramenta dinâmica” para se conhecer o setor, completa Paulo Marques, gestor executivo da InovaRia, associação de empresas para uma rede de inovação em Aveiro, e membro do consórcio.
“Há uma necessidade de se conhecer melhor aquilo que é a realidade deste setor da microeletrónica e dos semicondutores em Portugal”, acrescenta Pedro Almeida, o diretor técnico da Agenda da Microeletrónica. “Aliás, quando a agenda arrancou não existia nenhum mapeamento daquilo que é este setor de atividade em Portugal, microeletrónica e dos semicondutores.”
“Há necessidade de mapearmos e termos a capacidade de nós, em Portugal, percebermos em que é que efetivamente podemos contribuir [para a indústria], onde, como, quem, quantos somos, de que forma, ou seja, é um bocadinho isto que é o observatório”, refere Paulo Marques. A iniciativa quis “tentar desenhar uma plataforma que pudesse agregar tudo aquilo que são os vários players da cadeia de valor, seja a zona das empresas, em que parte da cadeia de valor, o que é que elas produzem”, exemplifica.
A ideia é que o observatório esteja acessível a todos e que possa conter informação pesquisável. Noutra vertente, ao disponibilizar online o retrato da indústria, também é admitida a ambição de querer tirar partido da “oportunidade para atração de investimento” internacional, reconhece Paulo Marques, da InovaRia. Nesse sentido, a plataforma vai estar disponível também em inglês.
“Nas oportunidades, os incentivos, o emprego, o ensino e a formação… Aquilo que pretendemos é que seja também um sítio onde possa existir alguma informação mais qualificada, estudos, orientações… Gostaríamos muito de conseguir que o observatório pudesse ser uma ferramenta orientadora, um repositório daquilo que tem interesse para a cadeia de valor dos semicondutores e da microeletrónica em Portugal”, remata o responsável da InovaRia.