A estratégia nacional para os semicondutores, que foi apresentada esta quinta-feira, quer dar resposta à “urgência de fortalecer” a capacidade de produção destes componentes, presentes em praticamente todos os dispositivos eletrónicos.

A pandemia da Covid-19 mostrou a relevância dos “chips” – e também a necessidade de a Europa ser mais autossuficiente e resiliente nesta área. Nesse sentido, em 2022, a Comissão Europeia apresentou o “Chips Act”, que desafiou os Estados-membros a elaborar medidas para reforçar a autonomia estratégica da Europa em tecnologias que são consideradas críticas.

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Numa apresentação no Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa, que contou com a presença de Elvira Fortunato, a ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior reforçou que “só se fossemos ignorantes é que não teríamos a iniciativa” de avançar nesta área. “O Governo fez esta escolha porque percebeu que há a capacidade instalada” para avançar nesta área dos “chips” em Portugal.

Segundo a ministra, “ficar fora desta área era dar um tiro no pé”, considerou, uma vez que “Portugal já tem capacidade nestas áreas”.

A estratégia dos semicondutores foi descrita por António Grilo, da Agência Nacional para a Inovação, que vai executar esta estratégia com a Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), como um “contributo valioso” para a competitividade da economia portuguesa.

Diogo Vaz, adjunto no Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e especialista em semicondutores, explicou que, na hora de definir a estratégia, que acredita “verdadeiramente que terá um impacto muito grande no ecossistema nacional”, foram analisadas as áreas da cadeia de produção de semicondutores que já tinham presença em Portugal.

“A estratégia nacional passou por ver o que já temos em Portugal, o que é feito de bom e o que é possível fazer”, enumerou Vaz. “Portugal já tinha capacidades na área de design e encapsulamento” de semicondutores, notou, referindo que o “ecossistema já se tornou bastante grande em Portugal, com a presença de várias empresas internacionais”, dando como exemplo a Amkor, que se dedica à encapsulagem de “chips”, uma das fases finais da cadeia de produção, a partir de Vila do Conde.

Atualmente, existem quatro “clusters” no país ligados à indústria de semicondutores: Aveiro, Porto, Lisboa e Setúbal, com mais empresas concentradas na zona de Lisboa.

A estratégia nacional vai necessitar de investimento por parte da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) e Agência Nacional para a Inovação (ANI), num máximo de 121 milhões de euros entre 2024 e 2027. Só este ano, a estratégia receberá uma verba de 39,3 milhões de euros.

Um dos objetivos da estratégia passa pelo desenvolvimento de um “centro de competências a nível nacional com capacidade para agregar educação, investigação e desenvolvimento de instituições e empresas”, explicou Diogo Vaz. Além disso, a estratégia quer também identificar possíveis complementaridades e sinergias a nível nacional e “ter uma implementação fortificada do lado da indústria e produção, através do estabelecimento de linhas de ação concretas”.

As linhas de ação estarão assentes em três eixos estratégicos: desenvolvimento de competências especializadas; expansão da capacidade de desenho de chips e também de encapsulamento e, por fim, no aumento da transferência tecnológica em áreas emergentes.

Na competência da educação, Diogo Vaz explicou que há muita falta de competências na área dos semicondutores, “que é importante que sejam desenvolvidas”. Para isso, será feita uma avaliação “das necessidades imediatas, das necessidades a médio e longo prazo na área do talento”. Este especialista acredita que vai ser necessário “trabalhar no desenho de estágios específicos para o que o ecossistema necessita”.

No âmbito do segundo eixo de ação, há a ambição de expandir a capacidade de desenho de chips e encapsulamento avançado, “áreas que são absolutamente críticas para Portugal”. Neste momento, antecipa-se que sejam necessárias entre 10 a 20 vezes mais engenheiros de design e dois a três vezes mais profissionais só na área do encapsulamento avançado.

No documento da estratégia, é dado destaque à questão do encapsulamento avançado, considerando-se que “as capacidades desenvolvidas em Portugal encontram-se bem enquadradas com a estratégia europeia, permitindo um apoio crucial ao número crescente de iniciativas europeias de fabricação de chips, previstas no âmbito do Regulamento dos Circuitos Integrados”.

É referido que, ao prever-se um “aumento considerável da capacidade de produção de ‘chips’ a nível europeu, a ausência de plataformas industriais de encapsulamento, assemblagem e teste acabarão por limitar a resiliência europeia”, tendo em conta que muitas destas estruturas estão na Ásia.