A organização Human Rights Watch (HRW) acusou esta quarta-feira as autoridades sírias de continuarem a apoiar o recrutamento de crianças para grupos armados, retirando-as das suas casas e escolas e mantendo-os isolados das famílias.
“Um grupo de jovens curdos no nordeste da Síria, com ligações às autoridades ‘de facto’, está a recrutar crianças, aparentemente para eventual transferência para grupos armados“, avançou a organização de defesa dos direitos humanos num comunicado hoje divulgado.
Segundo a HRW, o Movimento Revolucionário da Juventude da Síria “recrutou raparigas e rapazes com apenas 12 anos, retirando-os das suas escolas e casas, negando às suas famílias o contacto com eles e rejeitando os esforços frenéticos das famílias para os encontrar”.
Lembrando que o recrutamento de crianças rouba-lhes a infância e pode causar traumas físicos e psicológicos duradouros, a organização sublinha que as Forças Democráticas Sírias (FDS) se tinham comprometido a pôr fim à prática.
No entanto, refere no comunicado, “o grupo parece envolver-se na doutrinação ideológica de crianças em nome de grupos armados abertamente e com impunidade”.
“O envolvimento flagrante de grupos como o Movimento Revolucionário da Juventude e o número persistente de casos de recrutamento de crianças ano após ano mostram uma falha crítica”, afirmou o vice-diretor da HRW para o Médio Oriente, Adam Coogle.
“As FDS têm de tomar medidas imediatas e decisivas para garantir que todos os grupos que operam nas áreas que controla aderem a políticas rigorosas contra o recrutamento de crianças e que todas as crianças estão protegidas da exploração”, defendeu.
Embora não seja um grupo armado propriamente dito, o grupo de jovens parece, segundo a HRW, estar “profundamente interligado às estruturas políticas e militares da Administração Autónoma para o Norte e Leste da Síria, liderada pelos curdos, e às Forças Democráticas Sírias, apoiadas pelos EUA e lideradas pelos curdos”.
O recrutamento de crianças com menos de 15 anos para forças ou grupos armados viola o direito internacional humanitário, avisa a organização de direitos humanos, sublinhando que a utilização de crianças em conflitos é um crime de guerra
No ano passado, o relatório anual da ONU sobre Crianças e Conflitos Armados acusou todas as partes sírias no conflito de recrutar crianças, tendo sido verificados 231 casos atribuídos às FDS e grupos afiliados.
Um relatório de julho de 2023 do Sírios pela Verdade e Justiça documentou 43 casos no Movimento Juvenil Revolucionário só no primeiro semestre do ano.
Já este ano, entre junho e agosto, a Human Rights Watch entrevistou sete famílias em território governado pela Administração Autónoma que afirmaram que os seus filhos, seis raparigas e dois rapazes com idades entre os 12 e os 17 anos, foram levados pelo Movimento Revolucionário Juvenil.
“Nenhuma das famílias conseguiu estabelecer contacto com os filhos desde que desapareceram”, adianta a HRW, acrescentando que, em dois casos, as famílias viram fotografias dos seus filhos com fardas militares.
A Síria vive uma guerra civil desde 2011, na sequência da chamada ‘Primavera Árabe’ e que começou com protestos contra o governo de Bashar al-Assad — cuja família controla o país de forma ditatorial desde a década de 19070 — e uma repressão violenta.