Jogos Olímpicos, a competição que todos os atletas querem disputar. A prova mais democrática do desporto. Aquela que pára o coração dos adeptos de quatro em quatro anos. Falar de Jogos Olímpicos é falar de histórias bonitas, de superação e de caminhos que são verdadeiramente uma inspiração. Mas nem sempre é assim. Que o digam aqueles que assistiram à final dos 1.500 metros femininos em Londres-2012, naquela que é considerada uma das provas mais sujas da história do atletismo. Certo é que, volvidos 12 anos, a distribuição das medalhas ainda é discussão.

No Estádio Olímpico de Londres, a prova ficou marcada por um grande espectáculo dentro e fora da pista, mas não terá sido bem assim. A corrida continha um lado bastante obscuro, navegado em corrupção sob a forma de doping. Afinal, cinco das 13 atletas em competição deverão ser desqualificadas por ter violado as regras do doping. As turcas Asli Çakir Alptekin e Gamze Bulut acabaram por conquistar o ouro e a prata mas viriam a ficar sem as medalhas. Também a russa Tatyana Tomashova, que até tinha ficado em quarto, perdeu a prata que veio a receber.

Este último caso remonta ao início do mês de setembro, altura em que o Tribunal Arbitral do Desporto (TAS) baniu a russa durante dez anos, após as amostras recolhidas em junho e julho de 2012 apresentarem resultados positivos de esteroides anabolizantes. Segundo a CNN internacional, Tomashova contestou a decisão, disse durante o julgamento que nunca tomou substâncias proibidas e tem até esta quinta-feira para recorrer da decisão, sob pena de ver retirados todos os seus resultados entre junho de 2012 e janeiro de 2015.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Confirmando-se esta desqualificação, a grande beneficiada é a norte-americana Shannon Rowbury que, depois de ter ficado em sexto na prova, será promovida à medalha de bronze mais de 12 anos depois da corrida. Deste modo, a atleta tornar-se-à a primeira norte-americana a conquistar uma medalha olímpica nos 1.500 metros. À CNN, Rowbury contou que “começou a tremer” quando soube da notícia e sentiu uma “libertação de 12 anos de dor” por ver que um “sonho se tornou realidade”.

“Atletas na nossa posição vivem no escuro. É super emocionante porque tens a esperança de que, depois disso que se suspeitou durante muito tempo, a justiça pode realmente estar à chegar. Depois de 12 anos, tinha perdido a esperança de que isso ia acontecer. Não chorei muito mas houve algumas coisas que realmente me tocaram. Estávamos a competir num momento muito sujo. Estou a tentar dar tudo o que posso para trazer para casa aquele resultado que deixará todos orgulhosos”, acrescentou.

Shannon terminou a sua carreira profissional no fim de 2018, depois de ter engravidado da sua filha. A partir daí surgiu uma ferida que tarda em sarar. A ex-atleta contou ainda que ficou bastante desiludida com o atletismo, ao ponto de não ter conseguido assistir aos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2021. Contudo, em Paris-2024 trabalhou para a NBC como analista. “Foi agridoce porque assisti a essas corridas e fiquei emocionada. Mas também fiquei de coração partido novamente por ter corrido uma década antes e não poder fazer parte disso”.

A carreira profissional de Rowbury chegou ao fim em 2018, na época em que ela engravidou de sua filha. Para além desta hipotética medalha de bronze, a norte-americana disputou cinco Campeonatos do Mundo, tendo conquistado o bronze nos 1.500 metros em 2009. Para além de Londres-2012, esteve nos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008, e do Rio de Janeiro, em 2016.