Esta quarta-feira, um homem pegou numa arma e disparou três tiros na barbearia “Granda Pente”, na Penha de França, em Lisboa. Não falhou nenhum alvo. Passava pouco tempo da uma da tarde quando matou três pessoas — Carlos Pina, dono da barbearia, e Bruno Neto e Fernanda Júlia, um casal de clientes. Quer o atirador, quer as vítimas são todos moradores daquele bairro. Duas das vítimas foram alvejadas na cabeça. Pina, o barbeiro, morreu dentro da barbearia, o casal à entrada. O suspeito, com cerca de 30 anos, fugiu com a ajuda de dois cúmplices e continua a ser procurado.
A investigação está a cargo da Polícia Judiciária, que já terá identificado os três suspeitos em fuga, não tendo, no entanto, localizado nenhum deles. Para já, há duas versões em cima da mesa: moradores e vizinhos falam em motivo fútil — o principal suspeito queria uma vaga para cortar o cabelo e, como não conseguiu, matou o dono da barbearia da rua Henrique Barrilaro Ruas, muito conhecido na zona. Mas fonte relacionada com o processo não descarta a hipótese de um crime motivado pelo tráfico de droga.
Suspeito terá discutido com barbeiro durante a manhã
Ao Observador, um dos moradores relatou que estava esta manhã numa das lojas que fica ao lado da barbearia e ouviu uma discussão entre o barbeiro e o principal suspeito, que vive no prédio da barbearia e é conhecido no bairro. “Ele disse que queria cortar o cabelo e o Pina disse que já não dava, que já não tinha espaço, porque as marcações já estavam todas feitas e não podia cortar-lhe o cabelo”, relatou o morador, que não quis ser identificado.
Esta discussão terá acontecido por volta das 10h30 e, menos de três horas depois, o suspeito terá voltado à barbearia para insistir numa marcação de última hora. Queria cortar o cabelo, mas Pina continuava a não ter agenda para o atender. “Ele voltou depois à uma da tarde com a mesma conversa e assassinou-o”.
[Já saiu o primeiro episódio de “A Grande Provocadora”, o novo podcast Plus do Observador que conta a história de Vera Lagoa, a mulher que afrontou Salazar, desafiou os militares de Abril e ridicularizou os que se achavam donos do país. Pode ouvir aqui, no Observador, e também na Apple Podcasts, no Spotify e no Youtube]
Carlos Pina, de 24 anos, estaria, segundo os relatos dos vizinhos, dentro da barbearia com outro jovem que trabalhava consigo. Esse jovem “não foi assassinado, porque o outro casal entrou na loja e ele acabou por fugir”, disse o mesmo morador. “O assassino olhou para ele, ia disparar para esse segundo barbeiro, mas nesse segundo, em que ele aponta a arma, entrou o casal e ele acabou por assassiná-los primeiro”, acrescentou. Ainda de acordo com os relatos, Bruno Neto, taxista de 43 anos, já estava dentro da barbearia quando foi baleado e ainda terá conseguido caminhar para o exterior. “A mulher [de 36 anos] foi alvejada a seguir e ainda deu dois passos para trás antes de cair no chão.”
Os vizinhos relatam ainda que, depois de ter baleado três pessoas, o suspeito agora em fuga terá tentado apontar a arma a um dos trabalhadores da loja de lavagem de carros, situada mesmo ao lado da barbearia. “Só não aconteceu, porque a arma encravou”, relatou o morador. “E logo a seguir disse para essa pessoa ir embora.”
Suspeitos fugiram em direção a Santa Apolónia
Os moradores descrevem também o momento da fuga deste suspeito. Terá saído da barbearia a correr e terá, num primeiro momento, fugido a pé. “Fugiu a pé em direção à roulotte do pai, porque o pai dele mora numa roulotte aqui na rua e lá é que apanhou boleia do pai e o pai fugiu com ele”, acrescentou o mesmo morador.
As autoridades procuram ainda um terceiro suspeito e, segundo apurou o Observador, os suspeitos terão fugido em direção à estação de Santa Apolónia num jipe verde.
No momento do crime, o suspeito estaria acompanhado pela sua mulher, que terá avisado Pina: “Olha que ele está bêbado, deixa o gajo, não fales com ele, não respondas”. Os vizinhos referem ainda que, no momento da fuga, a mulher também terá fugido, “mas fugiu do marido”, não tendo ido na direção de Santa Apolónia.
Retaliação durante a noite. Carros de família do suspeito incendiados
Já durante a noite, arderam dois automóveis que deverão pertencer à família do principal suspeito que está em fuga. Para o local foram enviados bombeiros e agentes da PSP que fazem parte das Equipas de Intervenção Rápida. Segundo fonte da PSP ao Observador, não foram registados feridos, o policiamento no local foi reforçado e os dois carros ficaram “totalmente destruídos pelas chamas”.
Este incidente obrigou ao corte do trânsito na rua Henrique Barrilaro Ruas e foi criado um perímetro de segurança para facilitar o trabalho dos bombeiros. Cerca de uma hora depois, mantinha-se o reforço policial e o ambiente naquela rua continuava tenso.
Vídeo. Carros possivelmente ligados ao principal suspeito foram incendiados esta noite