Um poliglota apaixonado por ski, música clássica e filosofia. É assim que a Casa Grã-Ducal caracteriza Guillaume, o grão-duque herdeiro do Luxemburgo, de 42 anos, que em breve vai assumir o cargo de lugar-tenente, após o pai, o grão-duque Henri, ter anunciado no passado mês de junho que irá dar início ao processo de abdicação do trono, uma decisão que não surpreende, uma vez que é algo comum no grão-ducado.
“Decidi entregar o cargo de lugar-tenente ao príncipe Guilherme em outubro. Com todo o meu amor e confiança, desejo-lhe uma liderança feliz. Olhemos para o futuro com otimismo, sabendo que só juntos podemos alcançar grandes feitos”, proclamou o grão-duque. “A assinatura do decreto grão-ducal que nomeia S.A.R. o grão-duque herdeiro como lugar-tenente de S.A.R. o grão-duque terá lugar esta terça-feira, 8 de outubro, no Palácio grão-ducal. Seguir-se-á a tomada de posse de S.A.R. o grão-duque herdeiro perante a Câmara dos Deputados, conforme previsto na Constituição. As cerimónias serão transmitidas em Monarchie.lu“, refere o comunicado divulgado este domingo pela casa grão-ducal.
O início do momento está previsto para as 15h (menos uma hora em Lisboa), quando será assinado o decreto grão-ducal de nomeação do príncipe como lugar-tenente. Nesse momento estará presente o grão-duque Henri e o primeiro-ministro do país, Luc Frieden. Meia hora mais tarde, pelas 15h30 locais, decorre a cerimónia na Câmara dos Deputados, na qual o grão-duque herdeiro fará o juramento.
Sua Alteza Real, o discreto príncipe Guillaume
Nascido na maternidade Grande-Duchesse Charlotte, no Luxemburgo, a 11 de novembro de 1981, Guillaume Jean Joseph Marie, príncipe do Luxemburgo, príncipe de Nassau e Bourbon-Parma foi educado para um dia assumir a chefia do grão-ducado. Filho do grão-duque Henri e da grã-duquesa Maria Teresa, Guillaume é o mais velho de cinco irmãos: Félix, Louis, Alexandra e Sébastien. Após a subida do seu pai ao trono, a 7 de outubro de 2000, o príncipe prestou juramento a 18 de dezembro do mesmo ano e tornou-se oficialmente grão-duque herdeiro do Luxemburgo.
Apesar do papel de destaque que sempre teve desde o berço, uma vez que se sabia que um dia assumiria o trono do país, Guillaume tem-se mantido discreto na sua vida pessoal. Na infância frequentou a escola primária pública em Lorentzweiler e, mais tarde, estudou no Liceu Robert Schuman, na cidade do Luxemburgo. Aos 16 anos deixou o grão-ducado e mudou-se para a Suíça, onde estudou primeiro no Institut Le Rosey, um colégio interno, e, mais tarde, no prestigiado Collège Alpin Beau Soleil, onde concluiu os estudos em 2001, tal como refere a biografia do herdeiro na página da família grão-ducal.
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Seguiu o percurso do pai e do avô, o grão-duque Jean, e ingressou durante um ano letivo na Royal Military Academy Sandhurst, em Inglaterra, tendo terminado o treino de oficial em agosto de 2002. Quatro meses mais tarde tomou posse como oficial do exército luxemburguês e atualmente ocupa o cargo de Coronel. Estudou política internacional no Reino Unido e prosseguiu os estudos em França, onde obteve uma dupla licenciatura em Literatura e Ciência Política na Universidade de Angers, em 2009.
Paralelamente aos seus estudos universitários, o príncipe teve também experiência nas áreas da política e também da economia, ao estagiar em empresas multinacionais, como a União Química Belga, em 2003, e o Deutsche Bank, em Londres, em 2004. No ano seguinte trabalhou para a sucursal espanhola do grupo siderúrgico ArcelorMittal.
À medida que foi crescendo, e a par da sua formação, o príncipe Guillaume foi desenvolvendo hobbies e gostos pessoais, como é o caso da natação, do ski e do ténis, na área do desporto, sendo também amante de música clássica. Cantou num coro quando era criança e aprendeu a tocar guitarra. No campo das línguas é fluente em luxemburguês, francês, alemão, inglês e espanhol.
Em 2017, Guillaume juntou-se ao Conselho de Administração da Fundação Mundial dos Escuteiros para apoiar o movimento escutista em todo o mundo e após a morte do grão-duque Jean, que era Chefe dos Escuteiros do Luxemburgo desde 1945, o príncipe fez a sua promessa em outubro de 2019 perante cerca de três mil escuteiros no parque municipal da cidade do Luxemburgo e assumiu orgulhosamente o título que pertencera ao avô. Em setembro de 2021, aceitou o cargo de Presidente da Fundação Mundial dos Escuteiros.
Foi com apenas 23 anos, a 24 de junho de 2005, que o príncipe se tornou membro do Conselho de Estado, assistindo regularmente às sessões plenárias e às diferentes comissões, tarefas essenciais para o futuro papel que irá desempenhar. Desde que alcançou o primeiro lugar na linha de sucessão ao trono, Guillaume passou a acompanhar os pais em diversas atividades representativas e institucionais, como celebrações do nacionais, audiências de Ano Novo e numerosas visitas de Estado e visitas oficiais.
Enquanto membro da família grão-ducal, Guillaume detém os títulos de Cavaleiro da Ordem do Leão de Ouro da Casa de Nassau, da Grã-Cruz da Ordem do Mérito Civil e Militar de Adolfo de Nassau e da Grã-Cruz da Ordem da Coroa de Carvalho. Além fronteiras, o príncipe recebeu a medalha de Grande Oficial da Legião de Honra de França, em 2015.
O casamento com Stéphanie de Lannoy e o futuro do grão-ducado
A 26 de abril de 2012, os grão-duques anunciaram o noivado do grão-duque herdeiro com a condessa Stéphanie de Lannoy. O casamento civil decorreu a 19 de outubro de 2012 e no dia seguinte aconteceu a cerimónia religiosa na Catedral de Notre-Dame do Luxemburgo. A celebração começou pelas 11h (hora local) e foi presidida pelo arcebispo Jean-Claude Hollerich da Arquidiocese Católica Romana do Luxemburgo.
A noiva casou-se com um vestido de cor marfim com manga francesa, bordado, com rendas, da autoria do criador libanês Elie Saab. A condessa usou a tiara da família Lannoy e um véu feito de seda de tule com desenhos florais. Já o príncipe usou a farda militar luxemburguesa. Após o casamento, Stéphanie tornou-se grã-duquesa herdeira do Luxemburgo. À cerimónia assistiram inúmeras figuras da realeza europeia, tanto de monarquias reinantes como de não reinantes. De Portugal estiveram presentes D. Duarte Pio, duque de Bragança, e D. Isabel de Herédia.
A 10 de maio de 2020 o casal deu as boas-vindas ao primeiro filho, o príncipe Charles, que ocupa a segunda posição na linha de sucessão ao trono, atrás do pai, pelo que se espera que um dia venha a ser grão-duque do Luxemburgo. Três anos mais tarde, a 27 de março de 2023, nasce o segundo filho, o príncipe François. Tal como o pai, os dois irmãos nasceram na maternidade Grande-Duchesse Charlotte.
Desde muito pequenos que os príncipes têm acompanhado os pais em diversos atos oficiais, e mais recentemente, no passado dia 26 de setembro, estiveram presentes com os grão-duques e os grão-duques herdeiros na receção ao Papa Francisco no palácio Grão-ducal.
Em que consiste o cargo que passará a ocupar o príncipe Guillaume?
A posição de lugar-tenente corresponde a um papel semelhante ao de um príncipe regente. “O grão-duque pode ser representado por uma pessoa que reúna as condições do artigo 56.º, n.º 1, e que tenha o título de lugar-tenente do grão-duque”, indica o artigo 58.º da nova Constituição do país, que entrou em vigor a 1 do julho de 2023.
Guillaume só poderá tomar posse depois de prestar juramento perante a Câmara dos Deputados. “Juro defender a Constituição e as leis e desempenhar fielmente as minhas funções constitucionais”, serão as exatas palavras que o mais velho dos cinco filhos do grão-duque Henri terá que proferir. Entre as condições do artigo 56.º, o primeiro parágrafo estipula que a “função de Chefe de Estado é hereditária na descendência direta de Sua Alteza Real Adolfo, grão-duque do Luxemburgo, duque de Nassau, por ordem de primogenitura e por representação. Somente os filhos nascidos de um casamento têm direito à sucessão”. Após tomada a decisão da abdicação, a Constituição prevê ainda que este é um ato “irrevogável”.
No que respeita aos poderes que Guillaume poderá exercer, “o grão-duque é livre de anexar ao mandato quaisquer limitações que considere necessárias. Os poderes do lugar-tenente são delimitados pelo mandato e as medidas que toma em virtude da sua missão têm o mesmo efeito como se emanassem do próprio grão-duque”, refere o jornal Virgule.
Este será o primeiro passo da transição, seguindo a linha do que já aconteceu anteriormente. Enquanto alguns monarcas reinam até à sua morte, como é tradição em países como Inglaterra, Noruega e, até este ano, Dinamarca, a abdicação voluntária tornou-se comum em destinos como os Países Baixos e também o Luxemburgo. Henri governou como lugar-tenente durante dois anos antes de suceder ao seu pai, o grão-duque Jean, em outubro de 2000. Da mesma forma, Jean herdou o trono quando a sua mãe, a grã-duquesa Charlotte, abdicou em 1964. No entanto, já ocupava a posição de lugar-tenente há três anos, desde maio de 1961.