Tal como aconteceu com Rui Pinto, podemos dizer que Fábio Loureiro foi ‘atraiçoado’ pelo amor. Sem saber, nem disso ter consciência, foi a namorada do fugitivo de Vale dos Judeus quem conduziu a Polícia Judiciária a Tânger — conhecida cidade do norte de Marrocos onde Fábio Loureiro estava escondido, noticiou a CNN Portugal e confirmou o Observador.

Aconteceu o mesmo Rui Pinto em janeiro de 2019, quando a PJ seguiu a sua namorada para Budapeste e conseguiu localizar com sucesso o ex-hacker na capital da Hungria.

Um mês depois da fuga de cinco presos considerados perigosos de Vale de Judeus, em Alcoentre, um deles — Fábio “Cigano” — foi detido este domingo pelas autoridades marroquinas.

“O evadido do Estabelecimento Prisional de Vale de Judeus, Fábio Loureiro, foi detido, ontem, pelas 22h00, em Tânger, pelas autoridades marroquinas, com a colaboração das autoridades espanholas, em estreita articulação com a Polícia Judiciária (PJ) que, desde o dia da fuga, a 7 de setembro, desenvolveu um trabalho ininterrupto de investigação e de recolha de informação”, refere a Judiciária em comunicado.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A operação foi desencadeada em menos de 24 horas e “contou com o forte apoio da Cuerpo Nacional de Policia (CNP) espanhol e da Direção Geral de Vigilância Territorial Nacional (DGST) marroquina, com base em informação credível da PJ, de que Fábio Loureiro estaria em Marrocos, sobre quem recaía um mandado de detenção internacional emitido pela autoridade judiciária competente, constando de notícia vermelha na Interpol”.

[Já saiu o primeiro episódio de “A Grande Provocadora”, o novo podcast Plus do Observador que conta a história de Vera Lagoa, a mulher que afrontou Salazar, desafiou os militares de Abril e ridicularizou os que se achavam donos do país. Pode ouvir aqui, no Observador, e também na Apple Podcasts, no Spotify e no Youtube]

Namorada sob vigilância da Polícia Judiciária

A PJ tinha sob vigilância apertada diversos membros da família de Fábio Loureiro, sendo que a namorada também fazia parte desse grupo. Tal como a CNN Portugal avançou, e o Observador confirmou, a Judiciária monitorizou os movimentos da namorada do fugitivo quando esta saiu na sexta-feira de Portugal pela fronteira terrestre com Espanha. Com a cooperação da polícia espanhola, a PJ conseguiu seguir o movimentos da jovem portuguesa.

A SIC revelou que a namorada de Fábio Loureiro seguiu para Madrid, e não para Algeciras (cidade andaluza que tem um serviço diário de ferry boat para Tanger). Na capital madrilena, deslocou-se para o Aeroporto Internacional de Barajas e apanhou um avião para Casablanca. Na capital de Marrocos, apanhou outro meio de transporte e deslocou-se para Tânger.

Foi naquela conhecida cidade do norte de Marrocos que a viagem da namorada de Fábio Loureiro terminou e o fugitivo foi localizado. Após um novo pedido de cooperação policial, este dirigido às autoridades marroquinas, o fugitivo foi detido.

Do fugitivo mais procurado do Algarve a um argentino que raptou o filho de um ministro. Quem são os cinco reclusos que fugiram da prisão

Fábio Loureiro, conhecido como Fábio “Cigano”, está condenado pelos crimes de rapto, tráfico de estupefacientes, associação criminosa, roubo à mão armada e evasão. Agora, “será presente às autoridades judiciárias de Marrocos tendo em vista a sua extradição para Portugal para efeitos de cumprimento de pena”.

Detenção noticiada em Marrocos

A detenção foi já notícia em Marrocos, sendo na manhã desta segunda-feira a manchete do site Morrocco World Newsque partilha imagens genéricas, que não as do momento da detenção.

Fábio “Cigano” terá fugido para Espanha e daí para Marrocos, onde se escondeu na casa de um amigo, também português, avança o jornal Expresso, que cita uma fonte policial. A mesma fonte revela que foi capturado em Tânger com um aspeto quase “irreconhecível”, visivelmente mais magro e sem barba. Fábio foi detido, juntamente com o cúmplice, numa rua da cidade que fica próxima do local onde aportam os barcos vindos de Algeciras (em Espanha), na parte norte do estreito de Gibraltar.

Os dois homens não terão oferecido resistência e serão presentes a um juiz esta terça-feira.

Quem é Fábio “Cigano” e que crimes cometeu?

Com 21 anos, já liderava um gangue. Algarvio, Fábio Loureiro estava a cumprir pena pelos crimes de tráfico de menor quantidade, associação criminosa, extorsão, branqueamento de capitais, injúria, furto qualificado, resistência e coação sobre funcionário e condução sem habilitação legal. Estava condenado a 25 anos de prisão e conseguiu fugir a 7 de setembro.

Foi detido em 2014. Na casa que utilizava como refúgio, segundo relata o Diário de Notícias, foram apreendidas quatro caçadeiras, duas carabinas, uma pistola e cerca de um quilo de haxixe. As autoridades já o tinham detido em 2011, mas saiu em liberdade. Três anos mais tarde, encontrava-se novamente foragido à Justiça, movimentando-se por todo o Algarve e por Espanha.

Miguel Matias: “Pode ser aplicada uma pena para lá que estava a cumprir”

O passado de Fábio Loureiro é marcado pela criminalidade, principalmente pelo tráfico de droga. Ficou conhecido, como recorda a TVI, como o fugitivo mais procurado da região algarvia. Liderava um gangue desde os 21 anos e cometia crimes com contornos violentos. Por exemplo, em 2011, segundo o Correio da Manhã, utilizou uma Kalashnikov para metralhar uma casa em Albufeira, no que terá sido um acerto de contas.

Além de Fábio “Cigano”, no dia 7 de setembro fugiram daquele estabelecimento prisional, que dispõe de um nível de segurança elevado, Fernando Ferreira, Rodolf Lohrmann, Mark Roscaleer, Shergili Farjiani. Todos eles, são considerados reclusos perigosos — dois deles estão condenados à pena máxima em Portugal, de 25 anos.

Encontro junta guardas prisionais em solidariedade com colegas de Vale de Judeus

Ministra soube da detenção logo no domingo e elogia “trabalho” da PJ

A ministra da Justiça, Rita Alarcão Júdice, que foi informada logo na noite deste domingo, sabe o Observador, congratulou-se na manhã desta segunda-feira com o “trabalho ininterrupto de investigação e recolha de informação” da Judiciária.

“É devida uma palavra de agradecimento aos profissionais da PJ que, desde o dia 07 de setembro, desenvolveram um trabalho ininterrupto de investigação e recolha de informação e que permitiu, no exato período de um mês, a recaptura de um dos evadidos do Estabelecimento Prisional de Vale de Judeus”, disse numa mensagem enviada ao Observador.

A ministra fez ainda questão de deixar “uma palavra de reconhecimento às autoridades espanholas e marroquinas que colaboraram neste desfecho”: “Muito obrigada a todas as equipas envolvidas”.

7 fotos

A gravidade e os contornos da fuga levaram à demissão do então diretor-geral de Reinserção e Serviços Prisionais, Rui Abrunhosa e Gonçalves. Também a ministra da Justiça, Rita Alarcão Júdice ordenou uma auditoria à segurança das cadeias portuguesas.

Esta segunda-feira, no dia em que se assinala um mês desde a fuga, é esperado junto àquele estabelecimento prisional um encontro de Solidariedade da Guarda Prisional que juntará guardas de várias cadeias do país.

Fuga Vale dos Judeus. “Boa relação entre autoridades foi fundamental”

Sindicatos congratulam-se com captura de Fábio “Cigano”

À CNN, o presidente do Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional diz congratular-se com “o excelente trabalho que a PJ fez na captura de Fábio Cigano”, um dos cinco fugitivos de Vale de Judeus, que o responsável que possa ter fugido para Marrocos, a partir do Algarve, a bordo de uma lancha, com o objetivo de chegar à Argélia.

“Logo ali ao lado está a Argélia, que não tem acordo de extradição [com Portugal]”, disse Frederico Morais, que participava na manifestação de apoio aos guardas prisionais de Vale de Judeus, que decorre esta manhã junto à prisão.

Presidente do Sindicato Nacional do Corpo de Guardas Prisionais: “Não mudou nada”

Também o presidente da Associação Sindical de Chefias do Corpo da Guarda Prisional, Hermínio Barradas, considera que a captura de Fábio “Cigano” é importante e “demonstra que os órgãos de polícia criminal trabalham”. À RTP 3, o responsável disse acreditar que, “mais cedo ou mais tarde”, todo os fugitivos venham a ser capturados. Em relação à atuação do corpo de Guarda Prisional da prisão de Vale de Judeus no dia da fuga (a 7 de setembro), Hermínio Barradas admite que os guardas “possam ter cometido erro por negligência”, em resultado da “pressão do serviço” e do “acumular de horas de trabalho”.

“Só ficamos contentes com os cinco fugitivos recapturados”

À rádio Observador, o guarda prisional Sérgio Brilhante adianta que, desde a fuga de cinco prisioneiros, “houve um reforço de efetivos no pátio e no sistema CCTV” mas sublinha que continuam a faltar guardas na prisão de Vale de Judeus e critica a falta de torres de vigilância. “A falta das torres sente-se muito“, disse o guarda, adiantando que “a fuga abalou muito a corporação”. “[Vive-se] um ambiente de receio, porque as condições de segurança são as mesmas e os cuidados têm e ser a triplicar”, garante o guarda prisional.

Sérgio Brilhante considera que, a haver responsabilidades a apurar pela fuga, estas nunca poderão ser atribuídas aos guardas. “Nós trabalhamos com os meios que nos dão e não podem ser atribuídas responsabilidades, que só podem ser atribuídas à Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais e ao Governo”, referiu.

Se fosse hoje, fuga semelhante não “seria possível”, garante diretor da prisão

Também à Rádio Observador, o atual diretor da prisão diz que os problemas de Vale de Judeus “estão identificados” e que “a tutela tem informação sobre o que se fez e o que se vai fazer ao longo do tempo”. Sem se querer alongar sobre eventuais mudanças nas condições de segurança da cadeia, Carlos Moreira garante que as sugestões foram bem recebidas pela ministra da Justiça, Rita Júdice, e que as torres de segurança são uma das questões elencadas, dando a entender que haverá um regresso daquele tipo de vigilância a Vale de Judeus. Ainda assim, Carlos Moreira garante que, se fosse hoje, já “não seria possível” uma fuga semelhante à que ocorreu a 7 de setembro.

Já o diretor-adjunto da prisão, que estava em funções aquando da fuga, diz estar de “consciência tranquila” e garante que avisou a GNR às 11h18 daquele sábado, poucos minutos depois de saber da evasão dos cinco reclusos. À rádio Observador, Horácio Ribeiro criticou o que diz ser o “clima de suspeição” que envolve o caso. “Não é adequado criar um clima de suspeição sobre os guardas. Os processos têm os seus cursos e as responsabilidades serão apuradas”, disse.

Texto alterado às 22h57. Corrigida informação sobre o trajeto seguido em Espanha e Marrocos pela namorada de Fábio Loureiro