As memórias de Melania Trump trouxeram para as notícias um hábito antigo do Rei Carlos III: escrever cartas, a maioria delas à mão, em plena era digital. A ex-primeira dama dos Estados Unidos da América conta no seu livro que há vários anos, se corresponde com o monarca britânico: “A nossa amizade com a família real continua e trocamos cartas com o Rei Carlos até hoje.”

Melania Trump, que no seu novo livro de memórias, revela que mantém “uma correspondência contínua” com o Rei, desde que se conheceram em 2005, em Nova Iorque. De acordo com The Telegraph, Melania escreveu no seu livro: “A nossa amizade com a família real continua, e ainda hoje trocamos cartas com o Rei Carlos.” Embora os detalhes das trocas de cartas não sejam públicos, especula-se que temas como o ambiente possam ter sido abordados.

Melania não revela o teor das cartas mas uma das hipóteses mais prováveis colocadas pelo jornal The Telegraph é que os temas ambientais estejam presentes já que a ex-modelo, mulher de Donald Trump, revelou a sua admiração por Carlos se interessar por estas questões quando se reencontrou com ele em 2019.

Foi durante uma visita de Estado do então casal presidencial ao Reino Unido, onde Melania se sentou ao lado do então princípe de Gales num banquete em Buckingham.  “Foi um prazer absoluto voltar a conversar com ele”. A ex-primeira-dama menciona no livro que tiveram “uma conversa interessante sobre o seu compromisso profundo com a conservação ambiental”. O Rei é amplamente reconhecido como um defensor das questões ecológicas e ambientais, ainda antes de ganharem tanta importância global.

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Mas Melania não foi a única primeira-dama dos EUA a receber cartas de Carlos. Também Nancy Reagan manteve correspondência com o filho de Isabel II, desde 1981 — numa visita a Washington enquanto príncipe de Gales, com Diana ao lado — e até à morte da atriz, em 2016.

Numa carta destinada a Reagan logo depois de um outro encontro, em 1985, na Casa Branca, Carlos escreveu que a Princesa de Gales, “ainda não tinha superado a experiência de ter dançado com John Travolta, Neil Diamond, Clint Eastwood e o Presidente dos Estados Unidos numa única noite”. Mais tarde, noutra carta de 1992, não escondeu o que se passava com o fim do seu casamento: “Uma espécie de tragédia grega”, confessou. “É horrível. Poucas pessoas acreditariam”, rematou, segundo o The Telegraph.

Já há décadas que Carlos III se corresponde com muitas pessoas de várias geografias e quadrantes políticos, de estatutos diferentes, e com diversos interesses. Enquanto Príncipe de Gales escreveu aproximadamente 2.400 cartas por ano,  ou seja seis cartas e meia por dia, sendo que a maioria delas foram manuscritas, revela o jornal britânico.

Entre os seus destinatários está a comediante australiana Kathy Lette, que destacou ao The Telegraph o “encanto desarmante” do monarca e o seu “compromisso com questões ambientais”. A comediante republicana elogiou a capacidade do Rei para estar “à frente do seu tempo” em questões ambientais e realçou a sua ligação com Carlos nesse aspeto.

A atriz Miriam Margolyes também tem trocado cartas com o Rei. A correspondência começou  após o Rei ter elogiado a leitura da atriz de um audiolivro de Oliver Twist, de Charles Dickens. Margolyes declarou, também ao The Telegraph, que o Rei “faz imenso que as pessoas não conhecem”. E a atriz também revelou que, tal como o monarca, escreve todas as suas cartas à mão e nunca utiliza o computador : é uma forma de preservar a sua privacidade, e por sua vez, a da correspondência.

O Rei Carlos parece, de facto, preferir a caneta ao teclado. Recentemente, descreveu Dinah Johnson, fundadora da Handwritten Letter Appreciation Society, como sendo “inspiradora”, numa clara demonstração de apreço por este meio tradicional de comunicação.

O jornalista Richard Kay afirmou que o Rei trabalha, com frequência, até tarde, depois de toda a sua equipa já se ter retirado, e que responde às cartas que recebe. Uma das suas correspondentes mais antigas, Ena Mitchell, viúva de um soldado e com  104 anos, recorda como o Rei se interessou pelos livros de arquitetura que ela lhe ia enviando ao longo dos anos.

As cartas do Rei também são uma fonte de consolo em momentos difíceis. O ator Richard E. Grant partilhou que, quando a sua mulher Joan foi diagnosticada com cancro do pulmão, Carlos enviou-lhe uma “carta manuscrita de duas páginas, cheia de amor, compaixão e encorajamento”.

Este hábito epistolar parece vir de criança. O The Telegraph recorda como no ano passado foi descoberta e leiloada uma carta de 15 de março de 1955 escrita por Carlos aos seis anos para a Rainha Mãe, sua avó: “Querida avó, lamento que estejas doente. Espero que fiques melhor em breve. Muito amor do Charles”.