O líder do PS surgiu este sábado com um discurso radical sobre a direita, voltando a ideia de que pouco diferencia PSD e Chega: “Não são de confiança”. Entre Luís Montenegro e André Ventura, Pedro Nuno Santos diz não saber “quem mente” no caso das reuniões que os dois tiveram e aproveita o episódio para deixar suspeitas sobre o “não é não” do primeiro-ministro. O líder do PS levou ainda aos dirigentes distritais com quem esteve esta manhã avisos sobre “discórdia” interna.

Pedro Nuno Santos sabe que tem o partido dividido, ouviu-o ainda na semana passada nas reuniões que teve com os líderes eleitos das federações do partido e, logo de seguida, com os deputados do PS. São múltiplas as opiniões sobre o caminho que o PS deve tomar sobre o Orçamento de 2025, desde a orientação de voto à estratégia negocial. Tudo tem sido alvo de crítica e de opinião de dirigentes, responsáveis e senadores do partido nos últimos dias e Pedro Nuno quer menos divergências públicas.

Na intervenção que fez no congresso federativa do Braga, o secretário-geral socialista tocou várias vezes neste ponto. Primeiro para dizer que, nesta fase, é preciso “credibilizar e unir o PS, combater o oportunismo e divisões internas. É nesta disputa que temos de estar todos concentrados. Sem esquecer que, se estão aqui dentro, é porque são do PS“, avisou: “Que nenhum socialista se engane e faça o jogo da AD”.

Pediu mesmo muito diretamente aos dirigentes e socialistas com responsabilidades de comentarem nas televisões que a mensagem a passar é que “este Orçamento é mau”. Isto numa altura em que são muitos os socialistas que têm tornado público a sua posição sobre o Orçamento do Estado, como por exemplo o ex-ministro das Finanças, Fernando Medina, ou o deputado Sérgio Sousa Pinto, ou o antigo dirigente José António Vieira da Silva. Posições que têm colocado pressão sobre o líder, que adiou a sua decisão sobre como votar a proposta do Governo depois de ter falhado o acordo com o Governo.

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“A distância entre nós e o Governo da AD é muita. E é bom que nenhum socialista e dirigente do PS se engane de qual é o seu partido e quais são os nossos adversários”. Pedro Nuno Santos falou diretamente para quem estava na sala para dizer que este OE “nunca será” do PS, “porque é de um Governo que não vai responder aos problemas do país e, sobretudo, um Governo que não é de confiança”. E no final da intervenção voltou à carga nos avisos internos para dizer que este é o momento em que o PS não pode “cometer os erros do passado nem fomentar discórdia dentro das concelhias e secções. Tem de promover a unidade”, apontou.

Quanto à direita, o discurso foi forte, com Pedro Nuno a aproveitar a discórdia pública entre André ventura e Luís Montenegro, nas últimas 48 horas, para tentar distanciar-se e também voltar a colocar a direita no mesmo saco — uma estratégia que usou durante a campanha das legislativas na tentativa de concentrar no PS o voto moderado. “A direita portuguesa não é de confiança”, afirmou este sábado acrescentando que aquilo que se tem passado entre o primeiro-ministro e o líder do Chega “é preocupante, uma vergonha para a nossa democracia. Dois lideres partidários a acusarem-se na praça publica de mentirem”. Entre os dois, o líder socialista que esteve nas últimas emanas a negociar diretamente com Montenegro sem chegar a um acordo sobre o Orçamento diz agora não ver diferenças.

O PS “disponibilizou-se para aprovar” o Orçamento do Estado, sendo que, ao mesmo tempo, “todos acreditaram” que o PSD “não negociaria com o Chega”, afirmou deixando o ar a sugestão de que Montenegro acabou por procurar, afinal, esse entendimento. “Para se dizer que não negociamos com o Chega basta uma reunião”, sendo que até ao momento soube-se que houve “pelo menos cinco”, sublinhou.  Para Pedro Nuno, esta questão tem de ser clarificada para perceber se “a palavra do primeiro-ministro é para levar a sério”.

Embora ainda não tenha decidido e esteja a guardar esse momento para mais à frente — ainda não marcou a reunião da Comissão Política nacional, órgão do partido que terá de votar a sua decisão –, Pedro Nuno vai dizendo que não há nada que possa vincular o PP a esta proposta do Governo. Nem mesmo uma viabilização da mesma. E isto porque a narrativa passa agora por vincar que “este Orçamento do Estado não é nem nunca será um orçamento do PS. Pelas medidas que tem e pelo que não tem.”.

Acusando o PSD de “falta de ambição relativamente à economia”, o socialista disse que “o Governo apresentou um plano orçamental de médio prazo que estabelece uma média de crescimento de cerca de 2%, abaixo da média dos oito anos de governação do PS”. “O Governo do PSD não vai colocar Portugal a crescer. O Orçamento deles é mau”, acusou.

O socialista fala nas três propostas que o PS fez (à margem da negociação das linhas vermelhas no IRS Jovem e no IRC), para se queixar de só uma ter entrado na proposta do governo e, mesmo assim, mal. “Dissemos que queríamos habitação para a classe média; garantir casa para os jovens viverem. Para nós era preciso dotação orçamental para a habitação”, disse, mas queixa-se de que o que acabou por ser feito foi dar aos jovens e tirar à habitação carenciada. Acusou mesmo o Governo de colocar “jovens contra pobres e pobres contra jovens”.

Na Saúde, criticou o facto de haver “zero para a exclusividade de médicos no OE”, medida que o PS queria que existisse com caráter voluntário. E criticou ainda a falta de resposta para o aumento extra nas pensões, que o Governo deixou para decidir só no próximo verão e de acordo com a disponibilidade orçamental que existir na altura. Neste ponto, Pedro Nuno acusou o PSD de estar a pôr os pensionistas “à espera da Festa do Pontal” para saber se vão ter algum suplemento extraordinário: “O que o Governo não percebe é que os reformados e pensionistas não podem ficar à espera.”