Depois de cinco anos de restauro, Apolo Belvedere, a célebre escultura do século II, voltou a ser exposta esta terça-feira no Cortile Ottagono, nos Museus do Vaticano.

Desde 2019 — num período que se dilatou devido à pausa imposta pela pandemia da Covid-19 — os especialistas estiveram a reparar fissuras nos joelhos e pernas, a limpar toda a estátua com lasers e a criar um poste de fibra de carbono para aumentar a estabilidade desta peça que “inspirou gerações de artistas e poetas”, como referiu Barbara Jatta, a diretora dos Museus do Vaticano à imprensa.

Foi “uma operação que exprime o que gostaríamos que os Museus do Vaticano fossem hoje: uma síntese de tradição e inovação com um olhar sempre aberto às novas tecnologias’, sublinhou a responsável, citada pelo Vatican News, depois de abrir as cortinas para mostrar ao mundo o deus da mitologia grega renovado.

Esculpida em mármore no século II d.C., é muito provavelmente uma réplica de uma obra grega em bronze atribuída ao renomado artista ateniense Leochares, datada de 330 a.C, recorda o  Vatican News.

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Descoberta em 1489 nas ruínas de uma antiga casa no Monte Viminal, em Roma, foi imediatamente adquirida pelo Cardeal Giuliano della Rovere — que se tornaria o Papa Júlio II — e transferida para o Vaticano em 1508. Desde então, atraiu admiradores e estudiosos ao longo dos séculos, tornando-se numa referência no estudo da escultura clássica.

No entanto, com o passar do tempo, o deus grego que acaba de disparar uma flecha com o seu arco sofreu danos significativos, incluindo a perda de partes do corpo e alterações na estrutura.

“Na véspera de Natal de 2019”, recorda ao Vatican News Claudia Valeri, conservadora do Departamento de Antiguidades Gregas e Romanas das Coleções Pontifícias, “o gabinete de investigação científica detetou um movimento impercetível da escultura”. Decidiram intervir imediatamente, conta: “A estátua foi protegida por um sistema de emergência e, infelizmente, fechada ao público. Tínhamos de perceber porque é que ela estava a mover-se, ainda que impercetivelmente, e identificar uma estratégia que fosse o menos invasiva possível e que pudesse basicamente restaurar um equilíbrio firme”.

A estrutura estava num estado “incrivelmente dramático”, disse Guy Devreux, conservador da oficina de restauro de pedra e mármore dos Museus, à agência de notícias Reuters, que refere ainda pequenas fissuras nas pernas e joelhos.

O vídeo Museus do Vaticano. A eterna primavera do Miradouro de Apolo volta a brilhar disponível no youtube no canal da News Vatican, revela o processo de restauro, passo a passo, da peça e as várias técnicas utilizadas, num equilíbrio entre métodos clássicos e a tecnologia e materiais de ponta.

O uso de um suporte exterior de fibra de carbono, preso na base da escultura, foi uma solução inovadora para estabilizar a estátua sem comprometer a sua estética. “Foi um trabalho manual, mas ao mesmo tempo intelectual”, explicou Guy Devreux, diretor do Laboratório de Restauro de Materiais Pétreos. “Consultámos engenheiros e técnicos e, entre as várias propostas, escolhemos a de uma haste, uma curva elíptica feita de fibra de carbono e aço, para suportar a escultura, mas praticamente não tocámos na obra”.

Além disso, a mão esquerda de Apolo, que tinha sido restaurada no século XVI por Giovannangelo Montorsoli, foi substituída por uma outra retirada do molde de gesso encontrado nos anos 50 nas ruínas do palácio imperial de Baia, a norte de Nápoles, para garantir “uma representação mais autêntica, proporcional e leve”.

A escultura finalmente revelada ao público gerou uma onda de entusiasmo. “Hoje, os sentimentos são definitivamente de felicidade”, disse Barbara Jatta. “É um dia de alegria porque, após tantos anos, um ícone da beleza clássica que inspirou gerações de artistas, escritores e poetas regressa à vista do nosso público.”

Para garantir a proteção futura da escultura, há planos para implementar medidas adicionais, como uma possível cobertura do Cortile Ottagono para reduzir os danos causados por agentes atmosféricos. Giandomenico Spinola, diretor artístico-científico adjunto dos Museus, declarou que “há várias ideias, mas não há planos concretos: a possibilidade existe, é viável e é necessária”.