A realizadora Patty Jenkins diz que quer filmar em Portugal e que só não o faz pela política fiscal. Questionada pelo Observador à margem de uma das conversas durante o Tribeca Festival Lisboa, que decorre esta sexta-feira e sábado, em Lisboa, Jenkins respondeu ao motivo porque ainda não filmou em território português.
“O tax credit. Há ótimos tax credits pelo mundo agora. Quando fiz a Mulher-Maravilha no Reino Unido consegui 40% de tax credit de volta [ou seja, reembolso de despesas e deduções de impostos], qualquer coisa como 40 milhões de dólares. Não se consegue competir com isso. Quando se filma na Europa há uma pressão enorme para escolher um país que tenha um bom tax credit.”
A realizadora de filmes como Monstro (2003), Mulher-Maravilha (2017) e Mulher-Maravilha 1984 (2020), diz que “Portugal tem um bom tax credit, mas não tem dinheiro suficiente a financiá-lo. Só há cerca de 10 milhões por ano para qualquer filme [referindo-se ao programa de cash rebate]. Um filme como Mulher-Maravilha não pode vir [para cá], não é suficiente. Se o governo português percebesse, poderia haver aqui uma indústria de cinema fulgurante, mas é preciso financiá-la”, apontando Espanha e Itália como países que “têm tax credit excelentes e são capazes de ter vários filmes em rodagem ao mesmo tempo”.
[Já saiu o terceiro episódio de “A Grande Provocadora”, o novo podcast Plus do Observador que conta a história de Vera Lagoa, a mulher que afrontou Salazar, desafiou os militares de Abril e ridicularizou os que se achavam donos do país. Pode ouvir aqui, no Observador, e também na Apple Podcasts, no Spotify e no Youtube. E pode ouvir aqui o primeiro episódio e aqui o segundo.]
Em Portugal, o Fundo de Apoio ao Turismo e ao Cinema, criado em 2018, é um dos mais importantes incentivos fiscais para produções de cinema, nacionais ou estrangeiras, filmadas em Portugal. Reforça a vertente turística do país e inclui um mecanismo de incentivo (cash rebate) para a rodagem de produções de cinema e audiovisual em Portugal.
Em julho, o Observador dava conta que o Estado português, responsável por devolver, através deste sistema de incentivo, uma percentagem das despesas assumidas pelos projetos, está em falta com pagamentos que superam milhares de euros a estúdios de cinema e produtoras audiovisuais.
O mecanismo de incentivo tem tido uma procura muito superior à capacidade financeira disponível, em parte porque é encarado, entre as produtoras portuguesas, como uma alternativa aos apoios financeiros anuais do Instituto do Cinema e do Audiovisual. Entre os projetos já abrangidos estão o filme Velocidade Furiosa 10 e a série Rabo de Peixe.