As baterias continuam a ser, e de longe, a peça mais dispendiosa de um veículo eléctrico, embora o custo por kWh de capacidade tenha vindo a baixar continuamente. Não só o processo de fabrico é complexo, como os materiais utilizados, todos eles metais, são caros no mercado dos produtos minerados. Isso leva a que a solução mais barata para ter acesso a lítio, cobalto, níquel e manganês para fabricar novas baterias passe por reciclar as antigas e recuperar esses metais, com a Mercedes a ser o mais recente construtor a recorrer a esta forma de obter os materiais de que necessita, ainda que tal implique um investimento importante nas instalações de reciclagem.
A Mercedes, que já possui inúmeras instalações espalhadas pelo globo destinadas a construir carros e motores, estreou em Kuppenheim, no sul da Alemanha, a sua primeira fábrica para desconstruir baterias, apesar da marca germânica adquirir os seus acumuladores aos chineses da CATL. O processo da reciclagem está longe de ser simples ou barato, pois ao estar localizado em solo europeu, para mais num país com tantas preocupações ambientais, obriga a realizar um tratamento apurado dos gases resultantes da reciclagem.
A reciclagem de uma bateria começa por a descarregar por completo, antes de a triturar, transformando-a em pó. É depois que os diferentes materiais são separados e recuperados os metais que têm utilidade para fabricar acumuladores novos. A Mercedes reivindica para a sua fábrica de reciclagem um processo hidrometalúrgico a baixa temperatura (80ºC), que passa também por uma dissolução em diversas fases de um processo químico. Com isto, a marca consegue recuperar os metais que vai utilizar para produzir os eléctrodos (ânodo e cátodo) das novas células, que são a parte mais cara de uma bateria.
Além de pretender reciclar 2500 toneladas de baterias, de que prevê extrair os metais necessários para fabricar 50.000 novos acumuladores (longe dos 222.000 eléctricos que vendeu em 2023), a Mercedes reclama ainda para a fábrica de Kuppenheim a capacidade de recuperar o que denomina de “massa negra”, um termo técnico associado à produção de baterias e que se refere a uma parte considerável (40% a 50% do peso total do acumulador) dos materiais originados pela trituração da bateria, uma vez retirados os componentes com menos valor, como os plásticos, alumínio, electrólito e cobre. A black mass deve a sua cor muito escura ao facto de incluir sobretudo a grafite, o material utilizado em grandes quantidades na produção de elétrodos.