A igreja de Nossa Senhora do Rosário, arredores de Maputo, foi pequena para receber esta manhã milhares de pessoas, incluindo centenas de advogados, o funeral de Elvino Dias, assessor jurídico do candidato presidencial Venâncio Mondlane.

O cortejo fúnebre, que partiu do centro de Maputo cerca das 9h20 locais (menos uma hora em Lisboa), levou uma hora a chegar àquela paróquia, escoltado pela polícia e ladeado por um grupo de motociclistas, percurso feito sem qualquer incidente.

À chegada, centenas de advogados moçambicanos receberam os restos mortais de Elvino Dias, um dos dois apoiantes de Venâncio Mondlane assassinados na sexta-feira em Maputo, incluindo o próprio bastonário da Ordem, Carlos Martins.

Num ambiente de profunda consternação, o interior da igreja tornou-se pequeno, levando centenas a improvisarem cadeiras no exterior do templo.

Ao intervir na homília, o arcebispo da diocese de Maputo, João Carlos Nunes, reconheceu o sentimento geral no templo: “Sentimo-nos materialmente esmagados por este golpe”.

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Classificando este crime como “cruel e inesperado”, o arcebispo acrescentou: “A violência e a barbaridade que levou a sua vida nos choca profundamente“.

O arcebispo disse mesmo que Elvino Dias, apesar da “sua partida precoce, viveu uma vida cheia de significado”, dedicando a sua atividade à “defesa dos direitos dos mais vulneráveis”.

“Se calhar terá sido por isso que não foi bem entendido e acolhido”, criticou o arcebispo da diocese de Maputo.

Acrescentou mesmo que esta morte é “um alerta“, assumindo: “O mal continua a ameaçar a nossa sociedade, o nosso país e a nossa cidade”.

Para o arcebispo de Maputo, “não pode ser apenas lamentar” a morte de Elvino Dias, defendendo que é preciso “transformar a dor” com um “compromisso renovado com a justiça, com a verdade e acima de tudo com a paz”.

“A sua morte nos desafia a dar continuação a esta missão, da busca da verdade, da justiça e da paz. Não podemos ser indiferentes ao sofrimento que afeta tantas famílias nossas”, disse ainda João Carlos Nunes.

O candidato Venâncio Mondlane, que apelou à participação em massa nas cerimónias fúnebres desta quarta-feira, não esteve presente, tendo anunciado nos últimos dias que se encontra “em parte incerta”, contudo, o candidato presidencial e líder do Movimento Democrático de Moçambique (MDM, terceira força parlamentar), Lutero Simango, assistiu, na igreja.

Ao mesmo tempo decorria na morgue do Hospital Central de Maputo, centro da cidade, o velório de Paulo Guambe, mandatário eleitoral do partido Podemos — que apoia o candidato presidencial Venâncio Mondlane, de que foi membro fundador, além de docente, argumentista, produtor e realizador.

O seu funeral está agendado para o cemitério de Jangamo, província de Inhambane, sul de Moçambique, na quinta-feira.

A polícia moçambicana confirmou no sábado, à Lusa, que a viatura em que seguiam as vítimas, mortas a tiro, foi “emboscada”.

O crime, bem como a contestação aos resultados provisórios das eleições gerais de 09 de outubro, levaram Venâncio Mondlane a convocar marchas pacíficas em Moçambique, na segunda-feira, que foram dispersadas por forte atuação da polícia, com tiros para o ar e gás lacrimogéneo, e os confrontos provocaram, segundo fonte hospitalar, pelo menos 16 feridos em Maputo.

A resposta policial às manifestações foi condenada pela comunidade internacional e houve vários apelos à contenção de ambas as partes, nomeadamente de Portugal, da União Europeia e da União Africana.

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As eleições incluíram as sétimas presidenciais, em simultâneo com legislativas e para assembleias e governadores provinciais.

A Comissão Nacional de Eleições (CNE) tem 15 dias para anunciar os resultados oficiais, data que se cumpre quinta-feira, 24 de outubro, cabendo depois ao Conselho Constitucional a proclamação dos resultados, após concluir a análise, também, de eventuais recursos, mas sem prazo definido para esse efeito.