O secretário-geral do PS garantiu, na noite desta quarta-feira em entrevista à RTP3, que a intervenção do partido no debate do Orçamento do Estado na especialidade será “cirúrgica”. “Não vamos fazer alterações de fundo”, disse sem detalhar mais e apenas garantindo que a intenção não é “transformar” o Orçamento que é do Governo.

O PS já disse que se abstém, permitindo a viabilização do OE, tanto na primeira votação como na final global. E embora não se exclua de participar no debate na especialidade, que acontece entre os dois momentos, promete não querer desvirtuar o que o Governo apresentou.

O socialista falou também do processo negocial, garantindo que “não houve nenhum ziguezague, o PS só decidiu o voto uma vez” sobre o Orçamento do Estado para 2025. “Neste processo é inteligente ter dúvidas e não é muito inteligente ter certezas”, acrescentou ainda na mesma entrevista.

Muito justificativo, Pedro Nuno considerou que “o percurso [da negociação] revela a capacidade do PS não se fechar sobre uma posição” e que a abstenção no Orçamento não coloca em causa o seu perfil: “Sou um homem de esquerda, sou um socialista e disso ninguém tem dúvidas e não se alterou”, afirmouMas a geringonça está lá atrás, vai dizendo por agora.

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Sobre as críticas da esquerda à sua esquerda à posição do PS no OE, Pedro Nuno diz que tem “respeito pelo que decidem” mas “as conclusões do PS são diferentes das do PCP e do BE”. Sobre a geringonça, diz que foi “uma experiência governativa que não é património de António Costa” ou dele mesmo: “É património positivo de todo o PS. Estamos noutro tempo“, concluiu sobre este assunto.

O socialista ainda respondeu a uma pergunta sobre as acusações de condicionamento da liberdade de expressão interna, depois dos avisos que deixou há duas semanas, aos comentadores do partido que ocupam o espaço mediático. Na entrevista, Pedro Nuno disse que o fez porque as posições expressas “fragilizavam a negociação”, num momento em que o partido ainda não tinha definido uma posição. E que era preciso que “todos tivessem consciência do impacto das suas declarações”, ao mesmo tempo que garantiu que não quis condicionar ninguém.

Caso de Rangel com militares “é sério e é caso de Estado”

A entrevista também passou por alguns dos temas da atualidade, para lá do Orçamento, como por exemplo o caso que envolveu o ministro dos Negócios Estrangeiros e chefias militares no aeroporto de Figo Maduro, à chegada de um voo de repatriamento de portugueses do Líbano. O que o líder do PS diz ter ouvido e lido, citando um artigo no Expresso do ex-chefe do Estado Maior das Forças Armadas, é que “o chefe do Estado Maior das Força Aérea foi destratado” pelo ministro Paulo Rangel.

“O silêncio do Governo sobre o que aconteceu está a alimentar tabu que tem de ser clarificado o quanto antes”, defendeu Pedro Nuno. “É um caso sério e é um caso de Estado“, acrescentou mesmo sobre este assunto em que o PS já pediu a audição do ministro no Parlamento.

Já sobre a violência dos últimos dias em bairros da Grande Lisboa, Pedro Nuno Santos pediu “cautela” na avaliação do caso que esteve na origem da situação e repetiu várias vezes que existem problemas de “criminalidade” nesses bairros, mas também que “existe racismo e violência policial”. “Precisamos de um Estado de Direto sólido, forte, democrático que implica o respeito pela lei. E queremos que seja para todos e não apenas para um dos lados”, disse ainda.

[Já saiu o quarto episódio de “A Grande Provocadora”, o novo podcast Plus do Observador que conta a história de Vera Lagoa, a mulher que afrontou Salazar, desafiou os militares de Abril e ridicularizou os que se achavam donos do país. Pode ouvir aqui, no Observador, e também na Apple Podcasts, no Spotify e no Youtube. E pode ouvir aqui o primeiro episódio, aqui o segundo e aqui o terceiro.]

“Há um líder político em particular que explora estes episódios para benefício eleitoral e revela total ausência de empatia com o outro. Há um cidadão que perdeu a vida e isso deve suscitar a todos empatia desde logo com a família deste cidadão”, afirmou sobre André Ventura e as declarações que tem feito sobre o caso. E acrescentou que “ao mesmo tempo também se deve pensar no jovem agente de segurança” que também deve “suscitar empatia”.

Já quando questionado sobre as medidas relativas ao reforço da segurança que Luís Montenegro já tinha anunciado no congresso do PSD, mesmo antes desta situação em Lisboa,  o socialista disse que não equipara “os discurso do primeiro-ministro aos do líder da extrema direita portuguesa” nesta matéria, “mas é muito importante que quem tem responsabilidade de chefiar um Governo não se concentre no tema da segurança pelo lado da repressão, mas que perceba o que está a acontecer e fazer o que tem de fazer para promover a coesão social”.

Liderança “não está em disputa” nas autárquicas do próximo ano

Quanto a desafios eleitorais futuros, como as próximas autárquicas, o líder do PS negou na entrevista que impliquem a sua liderança. “Não estamos a disputar a liderança do PS”, afirmou já depois de ter dito que quem acompanha o partido sabe que não há uma questão interna neste momento.

“No caso das autárquicas, o que está em causa é continuar a ser a primeira força política ao nível autárquico”, firmou numa fasquia mínima uma vez que o PS ganha estas eleições de forma consecutiva desde 2013 e na últimas autárquicas conquistou  161 câmaras, mais de metade dos 308 municípios existentes.

Ainda foi questionado sobre se está preparado “para o caminho das pedras” na oposição, respondendo que está “preparado para defender o país, os portugueses e uma visão para Portugal” e que isso “faz-se no Governo ou na oposição” — não recusando, no entanto, que “o PS é um partido de poder” e que esse é o objetivo.