Depois de acabar o domínio de Lionel Messi e Cristiano Ronaldo na Bola de Ouro, numa altura em que era só olhar para o rendimento coletivo e individual de um e de outro para se saber de forma antecipada quem seria o vencedor do prémio em determinado ano, a entrega do troféu continuou com a sensação de gala pro forma para anunciar algo que já se sabia. Porquê? Havia sempre fugas de informação. Eram desmentidas, ninguém queria comentar de forma pública, todos sabiam que o “mal” estava feito. Foi assim com Karim Benzema em 2022, foi assim com Lionel Messi em 2023, seria assim com Vinícius Jr. em 2024. Num par de horas, tudo mudou. Num par de horas, houve notícias em todos os sentidos: voos cancelados, listas distintas que foram circulando, acusações de “traição” e “roubo”. Num par de horas, o mundo do futebol deu uma volta.

Rodri bate Vinícius Jr. e conquista Bola de Ouro entre Reais ausências (com clube, Ancelotti e Mbappé a ganharem sem troféus)

Ponto inicial de conversa: Vinícius Jr. ia ganhar a primeira Bola de Ouro da carreira. A Marca avançou com essa informação há algumas semanas (como tinha acontecido com o Sport em relação a Leo Messi no último ano), muitos órgãos foram seguindo a mesma linha nos dias que se seguiram, todos abordaram a antecâmara do El Clásico à luz do último encontro antes da coroação máxima do brasileiro. Estava tudo montado para que fosse uma noite de glória para o Real Madrid, que passaria a ser o clube com mais Bolas de Ouro à frente do rival Barcelona, e estavam dois jatos privados reservados e preparados para a festa. Os jatos não saíram do aeródromo, os muitos convidados também não chegaram a Paris e os olhos viraram-se para a Rodri.

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“Nenhum jogador ou clube sabe na tarde de segunda-feira quem ganhou o troféu da Bola de Ouro. Estão todos no mesmo barco nesta fase”, assegurou uma fonte da France Football à AFP. “Se os critérios de atribuição não designam Vinícius Jr. como vencedor, esses mesmos critérios deveriam designar Carvajal como vencedor. Como não foi o caso, é óbvio que a Bola de Ouro da UEFA não respeita o Real Madrid”, comentou uma fonte do clube merengue ao jornal As. “A partir de agora deixa de existir Bola de Ouro para nós. Não existe. Devemos concentrar-nos no que resta na competição”, dizia o jornal Marca, citando uma mensagem que terá sido passada no interior do clube depois de se saber que Vinícius Jr. não seria vencedor.

Nesse momento, tudo foi cancelado. Os jatos privados que iriam levar cerca de 50 convidados para Paris deveriam sair do aeroporto de Barajas às 15 horas mas alguns minutos antes a operação foi abortada. O Sport escreveu que Vinícius Jr., apesar de considerar que deveria ser o vencedor, queria estar presente na gala mas terá sido impedido pelo próprio presidente do clube, Florentino Pérez. Nem ele, nem Kylian Mbappé, nem Jude Bellingham, nem Toni Kroos, nem Dani Carvajal, nem Fede Valverde, nem Antonio Rüdiger, nem Arda Güler, nem Lunin, nem Carlo Ancelotti. Ninguém do Real Madrid marcava presença na cerimónia, numa atitude que não é inédita mas que desta vez ganhou uma força e uma proporção sem paralelo.

O vazio foi demasiado notado na gala da Bola de Ouro e até mesmo a guião que estava previamente feito foi um catalisador para haver um autêntico “elefante na sala”. Depois do prémio Kopa para Lamine Yamal, que ganhou de forma natural a distinção de melhor Jogador Jovem, Joan Laporta, Alexia Putellas e todas as jogadoras do Barcelona subiram ao palco quando as catalães ganharam o Melhor Clube Feminino do Ano e se ouviu em Paris o hino dos blaugrana em ambiente de festa. Logo a seguir, o Real Madrid foi eleito Melhor Clube Masculino do Ano, houve um vídeo e nada mais. Nem aí, nem quando Mbappé ganhou o prémio Gerd Müller a par de Harry Kane, nem quando Carlo Ancelotti foi distinguido como Melhor Treinador. No final, com Vinícius Jr, Jude Bellingham e Dani Carvajal no top 4, confirmou-se: Bola de Ouro para Rodri.

“Eu farei 10 vezes se for preciso. Eles não estão preparados”, escreveu Vinícius Jr. depois da cerimónia, numa publicação nas redes sociais que não demorou a provocar inúmeros comentários enquanto jogadores de topo se iam dividindo entre a solidariedade com o brasileiro e o orgulho no espanhol galardoado. “Quero agradecer à minha família, ao meu presidente, ao meu clube, aos meus jogadores e acima de todos ao Vini e ao Carvajal”, destacou também Carlo Ancelotti, em mais uma “farpa” ao que tinha acontecido. “Football politics. Irmão, és o melhor jogador do mundo e nenhum prémio pode dizer o contrário”, acusou Camavinga. “És o melhor e ninguém pode mudar isso”, defendeu Éder Militão. “Ninguém é capaz de tirar-te tudo o que tens conseguido. Todos sabemos…”, disse Tchouaméni. “Não há prémio para o bom que és e não estou a falar apenas das tuas qualidades como jogador mas também fora de campo”, argumentou Fede Valverde.

Em paralelo, houve ainda uma declarações de Clarence Seedorf, antigo internacional neerlandês que jogou no Real Madrid, que fizeram “soar alarmes”: “Eu votei há quase um ano, creio que o Vini merece ganhar este prémio, creio que há alguma coisa entre o Real Madrid e a UEFA que parece não se resolve e é uma pena porque as coisas têm de ser separadas especialmente para um jogador, para um momento especial mas vamos ver o que acontece”. Já Luís Figo fez questão de esclarecer que nunca pronunciou a frase “A Bola de Ouro era um prémio de prestígio, até hoje”, ameaçando avançar para tribunal se a mesma não fosse retificada na conta da rede X onde tinha sido inicialmente publicada, algo que aconteceu umas horas depois.

Os jornais espanhóis tentaram também perceber o que se tinha passado para a viragem de intenções do Real Madrid depois de ter tudo marcado para seguir para Paris. Ao contrário do que tem sido normal, numa tentativa de evitar as habituais “fugas”, foram feitas entrevistas com dez possíveis vencedores pela France Footbal e nem os próprios clubes foram informados de forma antecipada de quem ficaria com o galardão de 2024. Assim, só mesmo o editor-chefe da publicação, Vincent García, sabia quem iria ganhar. “O vencedor pode contar ao seu agente, à sua família, ao seu cabeleireiro… Queríamos limitar este risco não revelando o segredo a ninguém”, explicou numa entrevista anterior. No entanto, a “fuga” voltou a aparecer…