A Comissão de Trabalhadores da RTP disse esta terça-feira, no parlamento, que pediu acesso aos relatórios que podem dar informação sobre a gestão financeira da empresa, mas que ainda não lhos foram cedidos.

Pedimos esses dados já por várias vezes à administração, mas não nos foram dados. Inclusive no próprio dia 8 de outubro [dia da apresentação do Plano de Ação para a Comunicação Social] percebemos logo que tinha existido mais esta conversação entre o Governo e o Conselho de Administração sobre esta matéria e pedimos que os dossiers nos fossem fornecidos, designadamente em relação ao corte da publicidade e em relação ao plano de saídas voluntárias”, afirmou o elemento da CT Pedro Teichgräber numa audição no parlamento

Pedro Teichgräber, que falava numa audição na Comissão de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, na Assembleia da República, após ter sido chamado pelos grupos parlamentares do Partido Comunista Português, Bloco de Esquerda, Partido Socialista e Livre, apontou que a CT tem apenas acesso aos documentos públicos e não a relatórios sobre custos concretos com pessoal ou com programas.

A Comissão de Trabalhadores assegurou ainda que existe vontade de alguns trabalhadores rescindirem contrato com a empresa.

“Eu não sei se vão querer aderir, cinco, 10, 20, 200, 300 ou 400, que é o número de pessoas que temos acima dos 60 anos na empresa. O que lhe posso dizer é que existe vontade de parte de alguns trabalhadores rescindirem o contrato”, afirmou.

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De igual forma, Pedro Teichgräber apontou que a saída de até 250 trabalhadores significará a entrada de outros 125 — “mais jovens”, perante uma idade média de 53 anos.

Esta questão das rescisões é pacífica e é calma porque só se vai candidatar quem quiser. Até podiam abrir mil e só concorrerem cinco”, sublinhou o representante da CT.

Ainda assim, garantiu que o número de trabalhadores está estável, “porque existe essa regra de sai um trabalhador, entra um trabalhador para aquela categoria profissional”.

O responsável apontou que a digitalização e a modernização da RTP é algo “muito importante” e que, caso não se assegure “uma compensação para a perda de 20 milhões de euros, teremos uma RTP ‘low-cost'”.

“Vamos fazer omeletes com menos ovos, saem um bocadinho mais pequeninas, e os cortes todos, os aumentos com gastos, com tudo, têm sido feitos à custa de cortes na grelha”, lamentou.

Pedro Teichgräber recordou a abertura do ministro da Presidência, Pedro Duarte, a uma possível revisão do plano caso algumas das medidas não funcionem conforme previsto.

Também ouvida esta terça-feira pela comissão parlamentar foi a subcomissão de trabalhadores da RTP do Porto.

Nélson Silva, da subcomissão, considerou que para acomodar o corte da capitalização decorrente da publicidade na RTP, há três hipóteses: ou se deixa cair a programação e grelha, ou se deixa cair trabalhadores — “e aí temos mesmo de ir para despedimentos, não há volta a dar”, ou se trava a digitalização da empresa.

Os elementos da subcomissão de trabalhadores da RTP no Porto alertaram que as regiões têm um défice de representação regional, não apenas na informação, como na parte cultural.

“Hoje em dia, as nossas delegações limitam-se muito à parte informativa porque foi-se encolhendo e encolhendo a manta e, obviamente, não chega para tudo”, lamentou Nélson Silva.

Tanto a Comissão de Trabalhadores da RTP como a subcomissão apresentaram preocupações com o elevado número de trabalhadores com contratos de prestação de serviços que se encontram em situação de ‘falsos recibos verdes’, por realizarem trabalho essencial, mas com vínculos precários.

Segundo o órgão de representação de trabalhadores do Porto, há 140 trabalhadores precários da RTP sinalizados na Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT).

O Sindicato dos Jornalistas, a Comissão de Trabalhadores da RTP e a subcomissão de trabalhadores da RTP no Porto foram esta terça-feira ouvidos no parlamento no âmbito do Plano de Ação para a Comunicação Social, apresentado este mês pelo Governo e que contém 30 medidas para o setor.

Uma destas medidas compreende a eliminação gradual da publicidade da RTP ao longo de vários anos, que se traduzirá numa perda de receita anual de cerca de 20 milhões de euros.