O estudo Prognos analisa a transformação da indústria automóvel germânica para a próxima década, prevendo que a Alemanha perca um total de 186.000 postos de trabalho entre os diferentes construtores que fabricam no país, de motores a veículos, até 2035. O estudo foi encomendado pela Associação Alemã da Indústria Automóvel (VDA) e visa preparar as empresas e os trabalhadores para o que vem aí.

As conclusões deste estudo vêm a público em simultâneo com o anúncio do encerramento de três fábricas na Alemanha, por parte do Grupo Volkswagen, o maior e o mais poderoso do país. Para evitar males maiores, o construtor já fez saber que pretende reduzir os custos de produção, tendo proposto aos sindicatos um corte de 10% nos salários, mas o estudo encomendado pela VDA conclui que tal não vai impedir a perda de 186.000 empregos até 2035, comparativamente ao volume de funcionários em 2019.

A indústria automóvel alemã é uma das actividades económicas mais representativas do país, empregando em 2023 um total de 779.662 trabalhadores, de acordo com a Statista, pelo que o expectável corte de 43% na força laboral para os próximos 10 anos está longe de ser uma redução de somenos importância. Contudo, os danos sociais poderão ser mitigados e diluídos no tempo por meio de (muitas) reformas antecipadas e rescisões amigáveis.

Segundo o relatório Prognos, há vários tipos de empregos que estão mais em risco de extinção do que outros, como é o caso dos que se encarregam da zona de soldadura e montagem do chassi, uma vez que hoje é possível realizar todas estas operações automaticamente e sem intervenção de humanos. A Volkswagen planeia igualmente reduzir o número de funcionários ligados à gestão e administração, mas, por outro lado, deverão surgir contratações em áreas como tecnologias de informação, engenharia electrónica e até engenharia mecânica.

A avaliar pelo Prognos, era bem possível reduzir (ou anular) os despedimentos caso o Grupo Volkswagen decidisse investir em fábricas para produzir as suas próprias baterias, em vez de as adquirir a fornecedores externos, o que também incrementaria os lucros. De recordar que tanto a VW como a BMW, a Mercedes e a Porsche não fabricam os acumuladores de que necessitam para os seus veículos, o que em parte poderá explicar a falta de rentabilidade de que se queixam.

Analisando os dados fornecidos pela própria VDA, que encomendou este estudo a pedido da indústria que representa, é bem possível que estes 186.000 postos de trabalho que vão desaparecer até 2035 sejam apenas a última manobra de diversão do lobby da indústria automóvel germânica. Basta recordar que, em 2019, esta indústria empregava 833.000 pessoas, valor que caiu para 779.662 em 2023. Trata-se de um “tropeção” de 53.338 postos de trabalho em apenas quatro anos, que corresponde a uma média de 13.334/ano e que não difere assim tanto dos 18.600 empregos que deverão desaparecer anualmente, em média, até 2035.

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