Esta segunda-feira, um homem de 90 anos sentiu-se mal quando estava em casa no Arnal, no concelho de Pombal. Os familiares ligaram para o 112, por volta das 16h00, e a chamada foi atendida. Mas depois de ser comunicado pelo operador que a ligação ia ser reencaminhada para um profissional de saúde, a chamada ficou em espera mais de 15 minutos sem haver uma resposta da linha de emergência. No total, os familiares relatam ao Observador que estiveram cerca de uma hora a tentar contactar o INEM — entre o contacto inicial para o 112, uma chamada para a linha de Saúde24 e o contacto direto para os bombeiros de Pombal, que também não conseguiram estabelecer ligação com o Centro de Orientação de Doentes Urgentes. O homem acabou por morrer no local.
Será o nono caso de uma morte relacionada com atrasos no socorro de emergência conhecido nos últimos dias e o segundo, só no concelho de Pombal, que ocorreu no mesmo dia em que um homem de 53 anos morreu sem assistência médica naquela localidade.
No início da semana, perante a indisponibilidade da linha 112, os familiares do homem, nessa altura ainda consciente, ligaram para a linha Saúde 24 na tentativa de lhe prestar os primeiros socorros no local, mas ninguém atendeu. Depois de mais de 15 minutos à espera optaram por ligar diretamente para o quartel dos Bombeiros Voluntários de Pombal. Foram elementos da própria corporação que, como está regulamentado e depois de já terem acionado uma viatura para o local, passaram a chamada para o Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU), Mas, mais uma vez, ninguém atendeu a chamada, segundo relata a família ao Observador.
Entretanto, tinham passado 45 minutos e o homem acabou por perder a consciência. “Disse-lhes que já não valia a pena virem, porque o meu sogro já tinha morrido”, relata ao Observador a nora da vítima. Passado cerca de uma hora da primeira chamada feita ao 112, os bombeiros chegaram ao local e iniciaram as manobras de reanimação, como confirmado ao Observador por fonte oficial dos Bombeiros Voluntários de Pombal.
Pouco depois, chegou uma Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER) de Leiria, com uma equipa de profissionais de saúde que realizou uma segunda tentativa de reanimação no local, mas sem sucesso. Foi esta equipa que acabou por declarar o óbito do homem no local.
Os Bombeiros Voluntários de Pombal confirmam ainda um aumento da afluência de chamadas para o número direto do quartel por situações relacionadas com emergências médicas no dia 4 de novembro, quando foram registados atrasos no atendimento da linha 112.
Já tinha sido noticiado pela TVI/CNN Portugal o caso de um homem de 53 anos, na localidade de Grilos, que acabou por morrer quando estava a ser transportado para o hospital, depois de ter estado 28 minutos à espera e não ter conseguido resposta do 112. Os dois casos aconteceram num raio de 5 km, na União de Freguesias de Santiago e São Simão de Litém e Albergaria dos Doze e com poucas horas de diferença.
INEM: PGR confirma investigação a mais três mortes. Já são quatro os casos analisados
O Observador contactou o INEM sobre o novo caso, mas até ao momento não obteve resposta.
Desde o último fim de semana, foram relatados vários casos de pessoas em situação crítica que morreram sem que o INEM tivesse dado resposta aos pedidos de socorro. Serão agora nove as mortes eventualmente relacionados com atrasos do serviço de emergência. Os dois novos casos aconteceram na segunda-feira passada, em Pombal. Eram conhecidas já sete mortes relacionadas com atraso no socorro de emergência a juntar aos casos já noticiados em Almada, Tondela, Castelo de Vide, Cacela Velha, Vendas Novas, Bragança e Ansião.
O INEM admite não ter funcionários suficientes para atender o elevado número de chamadas e já confirmou o impacto da greve dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar. A Procuradoria-geral da Republica confirmou esta sexta-feira que, além do caso de Almada, estão também a ser investigados as mortes em Bragança, Cacela Velha e Vendas Novas, todos alegadamente relacionados com atrasos do 112.
Greve dificultou respostas a pedidos de socorro para o INEM
A maioria dos casos de mortes que poderão estar relacionadas com dificuldades na resposta da linha de emergência aconteceram no dia 4 de novembro.
À falta de técnicos para atender as chamadas para o 112 (um problema crónico, que se agrava com a incapacidade de atração de trabalhadores) juntou-se na semana passada uma greve às horas extraordinárias que afetou, ainda mais, o socorro às populações.
Na última segunda-feira, o capacidade de resposta agravou-se ainda mais: a greve da Função Pública registou uma elevada adesão entre os técnicos de emergência pré-hospitalar, o que acabou por reduzir a um terço o número (já deficitário) de trabalhadores nos CODU. O resultado foi a acumulação de dezenas de chamadas em espera, com algumas a demorarem mais de 30 minutos para serem atendidas — um tempo demasiado longo, quando em causa estão situações emergentes, suscetíveis de provocar a morte em pouco tempo.
Dos nove casos de situações críticas de saúde que ficaram sem resposta dos serviços de urgência, sete ocorreram precisamente no dia em que as duas greves coincidiram: 4 de novembro, segunda-feira.
INEM. Sindicato dos técnicos de emergência terminam greve depois de reunião com ministra da Saúde
Entretanto, esta quinta-feira, Ana Paula Martins chamou o Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar (STEPH) para uma reunião com caráter de urgência ao Ministério da Saúde. Depois de uma hora e meia, o sindicato anunciou que ia pôr termo à paralisação por ter sido possível chegar a acordo com a tutela sobre os pressupostos para uma negociação centrada na revisão das carreiras e de reivindicações salariais.
“Convergimos quanto às soluções que é necessário implementar, no que diz respeito à valorização da carreira dos técnicos e à valorização dos salários. Acabámos por assinar um protocolo negocial para que possamos pôr em prática as medidas em que convergimos e, sendo assim, estão reunidas as condições para que possamos, de imediato, levantar a greve às horas extras, que está em vigor desde o dia 30”, disse o presidente do STEPH, Rui Lázaro à saída do encontro.
Ministério Público e IGAS investigam mortes
Depois de terem sido noticiadas várias mortes que podem estar relacionadas com as dificuldades de resposta do INEM, o Ministério Público confirmou estar a investigar cinco casos de alegados atrasos na prestação de socorro, devido a demoras no atendimento através da linha 112, e que resultaram em vítimas mortais — um deles foi, entretanto, arquivado por não haver indícios de crime.
A Procuradoria-geral da República confirmou que, além do caso de Almada, estão também a ser investigados os de Bragança, Cacela Velha e Vendas Novas e Ansião.
Todos estão em investigação, exceto este último. “Relativamente aos factos de Ansião, na sequência da comunicação do óbito, foi aberto um inquérito. Coligidos os elementos de prova – designadamente a informação da GNR, as declarações prestadas por testemunhas, bem como do relatório do hábito externo realizado – concluiu o Ministério Público não haver indícios da prática de crime, tendo o inquérito sido arquivado”, citava a Agência Lusa.
Relativamente aos outros quatro casos, a Procuradoria-geral da República dizia esta sexta-feira estar “a aguardar informação”.
INEM: PGR confirma investigação a mais três mortes. Já são quatro os casos analisados
Também a Inspeção-geral das Atividades em Saúde confirmou, entretanto, estar a analisar os contornos de cada uma destas situações.