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Foi vaiada por ucranianos e emocionou-se a recordar o marido. Na Web Summit, Navalnaya foi obrigada a falar sobre a guerra na Ucrânia

Num discurso sobre autocracia e tecnologia, viúva de Alexei Navalny foi vaiada por manifestantes ucranianos. Garantiu, na Web Summit, que é "contra a guerra na Ucrânia": "Devia ter terminado ontem".

Viúva de Alexei Navalny confessou estar "nervosa", uma vez ser a "primeira vez" que estava num evento tecnológico "tão grande".
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Viúva de Alexei Navalny confessou estar "nervosa", uma vez ser a "primeira vez" que estava num evento tecnológico "tão grande".

Sportsfile

Viúva de Alexei Navalny confessou estar "nervosa", uma vez ser a "primeira vez" que estava num evento tecnológico "tão grande".

Sportsfile

Passavam já dez minutos da primeira intervenção de Yulia Navalnaya na Web Summit, sobre “ditadores e dissidência digital”, quando a viúva do principal opositor a Vladimir Putin se emocionou ao recordar o marido, Alexei Navalny, que apareceu morto numa prisão no Ártico em fevereiro. Após alguns segundos, e acompanhada por aplausos, a viúva de Navalny tentou voltar ao discurso, em que criticava as grandes empresas de tecnologia pela forma como operam em autocracias, mas foi interrompida. Dezenas de cidadãos ucranianos começaram a vaiar a mulher que pretende candidatar-se à presidência da Rússia.

“Propaganda! A Rússia é um estado terrorista!”, gritavam os ucranianos a alguns metros do palco. Yulia Navalnaya manteve-se em silêncio até que desafiou os manifestantes a juntarem-se a ela no palco e a exporem o motivo dos protestos. “Não ouço o que dizem. Se quiserem vir ao palco, podem vir. Convido-vos. Venham”, disse a viúva do opositor russo. Após alguns segundos de indecisão com a equipa de seguranças, uma mulher ucraniana acabou por subir ao palco.

A ucraniana, que se apresentou como Nadia Kulibaba, pergunta diretamente a Yuliya Navalnaya: “Gostava de lhe perguntar, enquanto líder da oposição na Rússia, se apoia a guerra na Ucrânia”. “Nós, como ucranianos, somos vítimas desta guerra. Estamos a defender o nosso país. Só se nos enviarem as armas é que podemos acabar com a guerra, destruindo as bases militares e armas da Rússia”, acrescentou.

O motivo da questão relaciona-se com o facto de Alexei Navalny ter deixado, ao longo da sua carreira política, alguns comentários que não foram bem recebido por vários ucranianos. Em declarações ao Observador em meados de fevereiro, Volodymyr Dubovyk, diretor e investigador do Centro de Estudos Internacionais de Odessa, explicou que o principal opositor a Vladimir Putin “não era definitivamente visto como um amigo da Ucrânia pelos ucranianos”. “Ele era visto como um tipo de marca diferente do nacionalismo russo.”

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Navalny “não era um bom russo” para os ucranianos. Mas a morte do político pode ajudar a Ucrânia

Yuliya Navalnaya, numa primeira reação, disse que a pergunta da ucraniana era “estranha”, mas agradeceu. E aproveitou para recordar o marido: “Alexei Navalny foi o líder da oposição na Rússia de Putin durante muito anos. Lutou contra o regime de Putin, mesmo na prisão. Contra a guerra. Foi colocado um tribunal na prisão para o julgar, mas ele continuou a resistir”. E indignou-se: “Não acredito que haja pessoas que venham para este palco e me perguntem isto”.

“Quero dizer desde este palco que sou abertamente contra a guerra na Ucrânia. Sempre o disse”, prosseguiu a viúva de Alexei Navalny, reforçando: “Não apoio o regime de Putin. Não apoio a guerra. As guerras devem parar. Imediatamente. As tropas russas devem voltar à Rússia. Deviam até ter voltado ontem”. Depois, claramente enervada, Yulia Navalnaya afirmou que há russos que não estão de acordo com o conflito na Ucrânia. “Há muitos russos que são contra a guerra. E há russos que são contra o regime de Putin. Não tentem encontrar inimigos entre os vossos amigos”, frisou.

"Quero dizer desde este palco que sou abertamente contra a guerra na Ucrânia. Sempre o disse", garantiu a viúva de Alexei Navalny

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A manifestante ucraniana saiu depois do palco, mas outro ucraniano tentou também interpelar Yulia Navalnaya na Web Summit. No entanto, a segurança presente no recinto não deixou que o homem chegasse perto da viúva de Alexei Navalny. Houve depois um momento de tensão, sendo que Navalnaya ponderou terminar o discurso após a intervenção. Porém, decidiu, visivelmente emocionada, continuar a abordar o tópico que a tinha trazido à Web Summit: o uso da tecnologia nas autocracias.

Navalnaya estava “nervosa”, mas mandou mensagem a grandes tecnológicas

No início do discurso, em que nada fazia prever as manifestações de ucranianos, a viúva de Alexei Navalny confessou estar “nervosa”, dado que era a “primeira vez” que estava num evento tecnológico “tão grande”. “Não teria estado neste palco se não fosse importante”, lamentou, aludindo ao facto de se ter tornado o principal rosto da oposição russa desde a morte do marido.

“Algumas pessoas pensam que a política e a tecnologia devem estar separadas. Vamos ser honestos: isso não é possível. Está conectado quer se queira, quer não”, disse a mulher, acrescentando que as ações dos CEOs de grandes tecnológicas “afetam a vida de mil milhões de pessoas em países que não são livres”. A viúva de Alexei Navalny criticou depois a abordagem de grandes empresas como a Google ou a Apple, que seguem as “leis do países” autocratas, adotando a máxima de que “lei é lei e claro que deve ser seguida”.

“Mas é claro que há lugar para discutir isso”, rebateu Yulia Navalnaya, que pediu que se “abrisse” essa discussão. E sugeriu “princípios” para as empresas de tecnologia seguirem: “Ponham os direitos humanos em primeiro lugar. Ponham os interesses dos utilizadores acima dos interesses dos governos. Pensem nas consequências das decisões e protejam os utilizadores”.

Yulia Navalnaya avisou que o que a ditadura diz ser “legal” nem sempre o é: “Numa ditadura, o que está escrito num papel nem sempre é seguido”. “Criem um mecanismo de diálogo com a sociedade civil. Há muitas ONGs nacionais e internacionais que protegem os direitos dos cidadãos no espaço digital”. Em Lisboa, no final do discurso, a mulher rematou que era do “interesse” das grandes tecnológicas “a luta contra ditaduras”: “Ou pelo menos não as ajudar”.

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