Protestos de apoiantes de Venâncio Mondlane, exigindo a “reposição da verdade eleitoral”, cortaram esta quinta-feira a circulação em Ressano Garcia, a principal fronteira entre Moçambique e África do Sul, fortemente vigiada por dezenas de militares e polícias.

Às primeiras horas da manhã já era visível a forte presença das Forças de Defesa e Segurança na fronteira, ponto de entrada das importações para a capital moçambicana e de saída das exportações sul-africanas, que usam o porto Maputo, com os veículos pesados a serem escoltados ao logo do trajeto de entrada em Moçambique por militares e polícia, fortemente armada.

Um grupo de dezenas de manifestantes, declarados apoiantes do candidato presidencial Venâncio Mondlane, reuniram-se junto à fronteira e marcharam pela vila, travando a passagem de pesados, alguns a recuar em plena estrada Nacional 4, face à proximidade dos protestos, envolvidos por dezenas de polícias e militares, que não intervieram.

“É o que estamos a ver, acho que cada dia tende a aumentar os polícias, ontem não era assim (…). Acho que os puxaram da cidade para aqui, em Maputo já não deve haver polícia“, afirmou à Lusa o comerciante Finiz Matavela, de 27 anos, antes de se juntar à marcha, explicando porquê logo de seguida: “A gente votou para quem nós queremos, então a coisa não está a funcionar do jeito que a gente quer, eis a razão de estarmos aqui”.

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Os manifestantes iam aumentando durante o percurso no acesso à fronteira, com cartazes de apoio ao candidato presidencial Venâncio Mondlane, paus e bandeiras de Moçambique, perante a forte presença policial, que os acompanhava.

Na principal fronteira do país, que movimenta diariamente cerca de mil pesados, a quase 100 quilómetros de Maputo, são visíveis camionistas a fazerem marcha-atrás, para evitarem os manifestantes, perante o constante vai vem de polícia e militares.

“Hoje está mais”, explicava também o comerciante Person Sitoe, 29 anos, de Ressano Garcia, que também se juntou aos outros manifestantes, muitos com tábuas de madeira simulando metralhadoras da polícia, na marcha que acabou por bloquear a fronteira.

“Como é que vão lutar com pessoas que só têm 20% [resultado anunciado para Venâncio Mondlane], nós só queremos ver os 70% a marchar (…) Só queremos a verdade eleitoral”, acrescentava.

“A marcha sempre foi pacífica, não há tiroteios nem nada”, disse ainda.

O candidato presidencial Venâncio Mondlane apelou segunda-feira a um novo período de manifestações nacionais em Moçambique, durante três dias, começando na quarta-feira, em todas as capitais provinciais e estendendo-se a portos e fronteiras, contestando o processo eleitoral.

Mondlane tinha antes convocado paralisações nos dias 21, 24 e 25 de outubro, que se seguiram outras de sete dias, desde 31 de outubro, com protestos nacionais e uma manifestação concentrada em Maputo, a 07 de novembro, que provocou o caos na capital, com diversas barricadas, pneus em chamas e disparos de tiros e gás lacrimogéneo pela polícia, durante todo o dia.