O ex-presidente do BES Angola (BESA), Álvaro Sobrinho, disse, esta quarta-feira, que, durante 40 anos, “nunca foi notificado” pelo Instituto dos Registos e do Notariado (IRN) sobre o facto de ter perdido a nacionalidade portuguesa. Só a 11 de agosto de 2024, no aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, o antigo banqueiro indicou que lhe “comunicaram que havia uma espécie de notificação do IRN para a apreensão” do seu “cartão de cidadão e passaporte, porque tinha perdido a nacionalidade”.

Em entrevista à SIC Notícias esta quarta-feira, o ex-banqueiro lembrou que, em 1984, fez um “requerimento de renúncia de nacionalidade” portuguesa, que tinha conseguido três anos antes por ter um avô português, para usufruiu uma “bolsa de estudo” do governo angolano, que não permitia que pessoas que tivessem dupla nacionalidade a pudessem obter.

Desde aí, até agosto, Álvaro Sobrinho garantiu que nunca foi “notificado” sobre a renúncia à nacionalidade e continuava a ser português, deixando as “coisas andar”. “Não consegui ter a bolsa de estudo. O meu pai financiou-me”. “As questões, na altura, eram muito mais burocráticas e a perda de nacionalidade meramente feita por um requerimento”, assinalou, frisando que “não podia fazer nada sem ser notificado”.

Registos sabiam há sete meses que Álvaro Sobrinho usava indevidamente nacionalidade portuguesa

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“Quando fui tratar do cartão de estrangeiro residente, disseram-me que não o podia fazer, que eu tinha de renunciar à nacionalidade portuguesa”, contou ainda, acrescentando que, depois disso, por questões familiares, foi “renovando o bilhete de identidade” por várias vezes.

Questionado sobre quem pediu a certidão de nascimento no Instituto dos Registos e do Notariado em abril de 2024, que detetou a falha do IRN, Álvaro Sobrinho assegurou que “desconhece” quem foi.

Além disso, o ex-presidente do BES frisou que nunca “faltou a nenhuma notificação, mesmo estando no estrangeiro”. “Caso houver a novidade de eu ser notificado a ir a Portugal, vou. Não estou fugido de lado nenhum”, garantiu. “Não fui eu que quis sair de Portugal”, disse também, explicando: “Fui notificado com um visto de saída com um prazo de 15 dias para sair de Portugal.”

Recorde-se que Álvaro Sobrinho está prestes a ser julgado por 18 crimes de abuso de confiança e cinco de branqueamento de capitais no processo do BESA. Não podendo ser extraditado, ao viver em Angola, só comparecerá perante a justiça portuguesa apresentando-se voluntariamente.

O ex-banqueiro assegurou que em Portugal não vai “investir mais”, uma vez que o seu dinheiro é considerado “sujo”. Sobre as suas atividades profissionais, Álvaro Sobrinho disse ter “empresas em Angola, na Suíça e em algumas partes do mundo”.