O antigo líder do PS, António José Seguro, disse esta noite que o seu regresso ao espaço público não está relacionado com as palavras do líder do PS que o inclui na lista de presidenciáveis, ainda que tenha ficado “muito sensibilizado” com a declaração de Pedro Nuno Santos. No entanto, quando questionado diretamente sobre se está a pensar candidatar-se a Belém em 2026, Seguro admitiu a hipótese: “Está tudo em aberto.Neste momento estou a ponderar”.

Numa entrevista à TVI e à CNN Portugal, Seguro disse que depois da declaração do secretario geral do PS várias pessoas têm falado com ele, referindo que se tratam de figuras que “considera e que são referências na sociedade portuguesa”. Mas diz que a decisão é sua, em conversa com a sua família, e que tirará uma conclusão quando “sentir a convicção” de que pode “servir o país e unir os portugueses numa fase extremamente difícil da vida do país e do mundo”. Mas não quer “contribuir para perturbar a reflexão de candidatos a candidatos” — quando questionado sobre Mário Centeno. A única coisa que tem mesmo fechada e que põe “completamente de lado” é a vida partidária: “Não tenciono voltar à vida partidária.”

O antigo líder socialista justificou o seu regresso nesta altura, dizendo que está “muito preocupado” com a situação do país, onde disse ver “o Estado a abrir fendas, a sociedade e deslaçar, a qualidade política e da democracia a diminuir e os serviços públicos a recuar”, sentido que deve dar o seu “contributo”. Já sobre estes anos de afastamento da vida pública, o socialista afirmou que o fez para contribuir “para a unidade do PS” e também para se dedicar à vida académica (está na fase final do doutoramento) e empresarial (na área do turismo, da alimentação e da agricultura).

Há um mês e meio, numa entrevista ao mesmo canal, o atual líder do PS, Pedro Nuno Santos, foi questionado sobre nomes que o PS poderá vir a apoiar nas presidenciais, nomeadamente o de Mário Centeno, e de mote próprio acrescentou o de António José Seguro à lista. Nessa altura, o Observador escreveu que o antigo líder estaria a ponderar, segundo o seu círculo mais próximo, e que o PS estava atento às movimentações.

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Seguro em Belém? Partido atento a movimentações, mais próximos falam em “ponderação”

Na entrevista disse que “há um conjunto de problemas que têm passado por sucessivos governos” e a que “é necessário dar resposta”, nomeando a área da saúde onde diz ver um “desinvestimento” nos últimos anos. “Um dos problemas da política portuguesa é o passa culpas”, diz Seguro que pede “convergência” e que não resolver os problemas que existem no país (na saúde, no emprego, na educação, nos serviços públicos e na segurança) alimenta o populismo. “Se os partidos tradicionais não os conseguem resolver e ver que há necessidade de dar resposta concreta aos problemas das pessoas, elas fogem e vão à procura de outras soluções, porventura instantâneas, que não resolvem os problemas mas a culpa é dos partidos tradicionais”, afirmou.

Casos de Justiça em governos: “Temos de ter uma exigência ética quando escolhemos as pessoas”

Sobre a Justiça e os dez anos sobre a detenção do antigo primeiro-ministro José Sócrates, Seguro notou que “neste século praticamente todos os governos tiveram membros do Governo com problemas com a justiça”: “Isto não pode continuar assim. Temos de ter uma exigência ética quando escolhemos as pessoas. Ir para um Governo é servir o país e não as pessoas servirem-se dele”. Em relação a Sócrates em concreto fala na “necessidade de um julgamento“, para que as pessoas “confiem” nas instituições e para os próprios visados.

Mais adiante, quando questionado sobre a ação da Justiça na Operação Influencer, Seguro disse que os atrasos no processo criaram “alarme público”. “Se o tempo está associado a falta de meios, deem-se meios, porque estávamos a falar de um primeiro-ministro”, disse defendendo que a política tomasse medidas na Justiça: “Precisamos que a Justiça faça Justiça em tempo certo, adequado e oportuno”. E que para essas mudanças é preciso “coragem política”.

“A memória não se apaga”, diz sobre Costa

Também fala do que se passou em 2014, quando era líder do PS e a sua liderança foi desafiada por António Costa, depois de um resultado do PS nas Europeias desse ano que o então autarca considerou “poucochinho”. Seguro era líder desde 2011 e o seu mandato foi interrompido, mas diz que não “guarda mágoa” — “o que se passou em 2014, ficou em 2014” –, embora também diga que “a memória não se apaga”. Deseja ainda “felicidades” a António Costa como presidente do Conselho Europeu, reconhecendo-lhe “experiência europeia” e “características para ser um bom presidente” e “criar consensos”.

“Estou convencido de que tem a arte e o engenho que podem fazer dele um bom presidente do Conselho Europeu porque hoje a Europa precisa de ter uma voz. Ele será uma, não a única, mas saberá gerar consensos”, disse ainda sobre Costa recusando falar de o ex-líder do PS como primeiro-ministro.

Mas este anos passados ainda diz que tem a “convicção” que teria ganho as legislativas de 2015. Quanto a se faria a “geringonça”, como Costa, Seguro respondeu que “aspirava a ter uma maioria absoluta”. E que mesmo assim defendia, nessa altura, que era “necessário convergir com outras forças políticas, dialogando”. Também lembra que dizia que “não governava em minoria” e que, havendo uma coligação, teria “linhas vermelhas” que os militantes decidiriam quais seriam num referendo.

Pede “convergência”. Não diz entre quem

Confrontado mais uma vez com a possibilidade de, nessa fase, ter avançado com a “geringonça”, Seguro diz que não gosta de “governos de turno”. “Mais importante do que quem nos aliamos é o conteúdo do programa do Governo, diz sem nunca responder diretamente à questão sempre que foi confrontado com ela.

Quanto ao atual Governo, insere-o na medida de “um Governo de turno”. “Mal chega tem de resolver problemas, emergências”, enumerou o antigo líder socialista que dá “crédito” ao primeiro-ministro por ter resolvido esses problemas. Mas também disse que “não vê estratégia” para resolver “problemas essenciais” do país, culpando não só este Governo. Como? “Não meter a cabeça na areia e parar de fingir”, respondeu Seguro sobre a solução para estes problemas.

A solução está na “competitividade do país”, diz o socialista que vai sempre falando na necessidade de “convergência”, sem dizer entre quem — recorde-se que Seguro esteve à beira de um acordo para manter o Governo de Pedro Passos Coelho, em troca de eleições antecipadas em 2014, mas acabou por romper as negociações em nome do PS, como recordava aqui, nesse mesmo ano, o Observador. Quando, nesta entrevista, o confrontaram com a a solução de um “bloco central”, Seguro diz que “não se trata disso e isso é que envenena a discussão”.

Quando os jornalistas insistiram na questão sobre quem deveria “convergir”, Seguro continuou sem dizer, defendendo apenas “soluções duradouras e estáveis que resistam ao ciclos políticos”. “Tem de haver diálogo e convergência”, criticando uma “política de trincheira” que hoje observa em “todos os partidos”, incluindo o PS.

A crítica a Marcelo e o elogio à geringonça

Seguro considerou que “há um problema com o ritmo que se faz eleições” e diz que é preciso mexer na Constituição para garantir que, não existindo Orçamento, ainda assim possa haver “estabilidade governativa”. “Uma das possibilidades era só haver chumbo do OE se houvesse um OE alternativo”, exemplifica. E acrescentou ainda que o Presidente da República “agiu muito mal” quando equiparou chumbo do OE à dissolução do Parlamento.

Disse mesmo que, em 2021 (quando dissolveu depois do chumbo do OE), Marcelo “devia ter tudo uma atitude mais discreta para criar condições para um entendimento” no Orçamento. E elogia o tempo da “geringonça” ao dizer que foi “uma das grandes conquistas”, entre 2015 e 2019, ter trazido o BE e o PCP para “o espaço da governação”.

Só elogia Marcelo no início do mandato em Belém, dizendo que o Presidente “banalizou a palavra” no segundo mandato”. E responsabiliza-o por se ter “colado” ao Governo de Costa: “Foi um co-primeiro-ministro e isso retirou espaço ao PSD, que era o principal partido da oposição”. “Passaria no primeiro mandato, mas a continuar assim vai a oral”, avaliou.

Sobre o líder do PS, diz que “precisa de tempo, espaço e estabilidade para lançar a sua alternativa”. “Tem todo o direito de ir legislativas”, disse defendendo que “as lideranças devem disputar pelo menos umas legislativas”.

O socialista está de volta à cena política, com um espaço de comentário na CNN Portugal que começará na próxima semana. Seguro foi líder do PS entre 2011 e 2014 (depois de José Sócrates e antes de António Costa) e afastou-se do espaço mediático depois de ter perdido a liderança para Costa — sem nunca ter conseguido disputar legislativas.