Enviada especial em Manchester, Inglaterra

“Hi, guys”. Foi com um simpático “olá, pessoal” e o sorriso do costume que Ruben Amorim entrou pela primeira vez numa conferência de imprensa enquanto treinador do Manchester United. A ideia de que a primeira aparição pública do técnico português poderia ser feita com outro aparato, em Old Trafford e com direito a pompa e circunstância, pairou durante toda a semana — mas não chegou a confirmar-se.

A primeira conferência de imprensa de Ruben Amorim foi uma normal e obrigatória conferência de imprensa de antevisão ao próximo jogo, contra o Ipswich Town, no domingo. Contudo, a pequena sala do Jimmy Murphy Centre, em Carrington, tornou-se demasiado modesta para a enchente de jornalistas que quis ouvir o treinador português. Cerca de 50 profissionais acomodaram-se como puderam na sala — nove portugueses — e os responsáveis do Manchester United confirmaram que não têm memória de uma conferência tão preenchida.

Amorim respondeu a perguntas durante cerca de meia-hora, entre a comunicação social inglesa e a portuguesa, e ficou claro que a conferência de imprensa foi mais longa do que é normal na Premier League. Sobre o Ipswich, o primeiro adversário do treinador português no Manchester United, surgiram poucas questões. Mas multiplicaram-se as comparações com José Mourinho, as interrogações sobre a linha defensiva de três elementos e a sempre presente nuvem negra: será que aceitou o trabalho impossível?. “Claro que não”, atirou Amorim, que fez da ideia de que é “a pessoa certa no momento certo” uma das principais linhas de pensamento do dia.

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No fim da conferência de imprensa, existia um pormenor específico que tinha impressionado os jornalistas ingleses: a forma como Ruben Amorim dominou a língua, sem se atrapalhar ou ficar sem palavras, deixando claro que não terá qualquer problema de comunicação. “Foi uma performance muito bem conseguida. Ele fala muito bom inglês, a comunicação não será um problema”, explicou Dan Roan, editor de Desporto da BBC, ao Observador.

“Foi uma primeira conferência muito confiante. A confiança dele ficou logo imediatamente clara quando entrou na sala com um sorriso e disse ‘hi, guys’ a toda a gente. Parece que gostou da oportunidade de articular a forma como se está a sentir. Esteve sempre a sorrir e deixou claro que acredita nele e nos jogadores”, acrescentou o jornalista, vincando a diferença entre o ambiente simpático vivido esta sexta-feira e o clima tenso das últimas aparições de Erik ten Hag.

Dan Roan vincou ainda que Ruben Amorim não deixou transparecer qualquer tipo de pressão, apesar de estar agora “num dos papéis mais escrutinados do futebol mundial”. Na verdade, os jornalistas ingleses ficaram surpreendidos com a presença de vários elementos da comunicação social portuguesa em Carrington, atribuindo a deslocação à “relação próxima” que o treinador mantinha com a imprensa.

Do lado do jornal The Guardian, a prestação de Ruben Amorim foi avaliada numa “escala de treinadores portugueses”. “Não é um José [Mourinho], mas também não é um Bruno Lage ou um Nuno do Nottingham Forest. Também não houve a publicidade de André Villas-Boas. Houve momentos de consideração, onde tentou não tropeçar nas próprias palavras. Isso não acontecia com o José. Ou com o André, ainda que nesse caso talvez devesse ter acontecido”, escreveu Jamie Jackson, que também esteve em Carrington.

No The Telegraph, a opinião foi mais simpática. “É justo dizer que Amorim passou este primeiro teste com uma boa nota. Disse todas as coisas certas e deu a ideia de ser humilde, ainda que autoritário, oferecendo muita crença e elogios aos jogadores para dar confiança, mas deixando claro que os preguiçosos não terão muito tempo com ele. Existe uma certeza e uma determinação de aço atrás daquele sorriso caloroso”, defendeu James Ducker, outro dos jornalistas que marcou presença no centro de treinos do Manchester United.