“Não andei de cabeça de fora a ver se o carro foi atingido ou não. Nessa noite estava nevoeiro e o que saiu na imprensa foi claramente empolado. Digo isto com clareza: danos no carro, zero”, garantiu Vítor Bruno no sábado, na primeira conferência de imprensa após a goleada frente ao Benfica na Luz realizada por volta da hora de almoço no Olival. “Cheguei ao Porto às 4h da manhã, estive em chamadas devido aos incidentes nos quais o nosso treinador esteve envolvido por alguns adeptos do FC Porto, que pontapearam a sua viatura à saída do Olival. Foi oferecida proteção pessoal em casa, pelo nosso prestador de serviços e foi dessa forma que arregacei as mangas em prol do FC Porto”, respondeu André Villas-Boas a um associado no sábado, na primeira Assembleia como presidente no Dragão Arena, da parte da tarde, no ponto 3 da reunião magna.

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As versões não batem propriamente certo mas a receção à comitiva do FC Porto depois do clássico fez soar os alarmes no Dragão. No entanto, e em termos internos, a derrota foi encarada como um percalço que, depois de devidamente escalpelizada, poderia dar lugar a um novo período de “retoma” até pelo discurso duro que Villas-Boas teve no balneário da Luz, onde chegou mesmo a utilizar o termo “vergonha” para catalogar a exibição frente às águias para pedir depois uma outra atitude daí para a frente. Para que não houvessem dúvidas, o próprio presidente dos azuis e brancos fez questão de expressar total confiança no técnico.

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“Escolhemos um treinador para encarar este projeto desportivo. Temos uma fé absoluta nele. Evidentemente vimos de um resultado muito negativo com uma exibição que não ficou à altura do FC Porto mas que os jogadores sabem perfeitamente as nossas responsabilidades, tenho a certeza que irão corresponder à altura do seu nível. Têm potencial para dar muito mais e vamos continuar a apoiar o treinador porque assim o merece”, fez questão de reforçar durante uma visita oficial de quatro dias que fez a Angola.

Villas-Boas garante ter uma “fé absoluta” em Vítor Bruno

Apesar de tudo isso, a resposta não apareceu. Pior: o encontro seguinte foi quase um prolongamento do que se tinha passado na Luz, com essa agravante de ter valido a eliminação da Taça de Portugal após a derrota com o Moreirense em Moreira de Cónegos. A contestação agravou-se: os adeptos pediram a demissão de Vítor Bruno, apontaram o dedo em forma de insultos no final da partida quando o grupo se aproximou da bancada onde estavam concentrados os azuis e brancos (que fizeram subir o tom dos protestos quando Vítor Bruno virou costas e alguns jogadores permanecerem no relvado) e a saída teve especiais cuidados para garantir que nada de anormal se passaria quando a equipa viajasse do Minho até ao Estádio do Dragão.

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Aí, dezenas de adeptos voltaram a fazer-se ouvir. Aproveitando uma proximidade que poderia ser evitada se a descida da Alameda do Dragão estivesse fechada, entoaram cânticos contra a exibição da equipa e contra o treinador, rebentaram dois petardos e ainda arremessaram uma tocha em direção do autocarro. Cerca de uma hora depois, o próprio André Villas-Boas, o diretor Jorge Costa e mais alguns dirigentes, rodeados por seguranças, saíram da garagem para ir falar com os adeptos. O “encontro” teve cerca de cinco minutos, com os adeptos à frente a pedirem calma aos de trás para falarem com os dirigentes enquanto os de trás iam continuando os cânticos por Pinto da Costa e a pedir a demissão de Vítor Bruno. Só mesmo quando voltou ao Dragão pela garagem houve uma palavra diretamente contra o líder portista: “Traidor”.

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Segundo explicaram ao Observador, Villas-Boas quis dar um sinal para fora de que não se deixa intimidar perante todos os protestos pela atual série de maus resultados e também que considera ser o presidente não só de quem votou em si, e foram cerca de 80% dos associados (a mesma percentagem que aprovou na AG o Relatório e Contas e a constituição da Fundação FC Porto), mas também de todos aqueles que continuam “agarrados” ao antigo líder do clube, Pinto da Costa. Assim, não haverá qualquer tomada de posição ou medida “condicionada” por todo o ruído criado – o que não quer dizer que a atual situação do futebol não esteja a ser analisada em termos internos, à luz daquilo que se passou este domingo com o Moreirense.

Esta segunda-feira, no regresso aos trabalhos, Vítor Bruno chegou ao Olival com duas viaturas da empresa de segurança que trabalha com o FC Porto (SPDE), algo que não tinha acontecido depois da derrota na Luz. Tal como se tinha visto nessa ocasião, a troika que lidera o futebol dos azuis e brancos marcou presença no treino e, no final, esteve à conversa com o treinador para dissecar a derrota na Taça de Portugal. Ponto mais importante da conversa: de acordo com informações recolhidas pelo Observador, André Villas-Boas voltou a querer saber o que pode fazer para que Vítor Bruno tenha o máximo de condições para reverter a situação, manifestando com isso a confiança no técnico… mas pedindo uma resposta que falhou com o Moreirense. Ou seja, mesmo acreditando que o antigo adjunto de Sérgio Conceição foi a melhor aposta no atual contexto, os resultados terão de aparecer ou a mensagem não estará a ser passada – e isso é o início do fim de linha.

No final da partida em Moreira de Cónegos, Vítor Bruno voltou a reclamar para si “toda a responsabilidade” pelo insucesso do FC Porto, deixando de parte os jogadores das críticas dos adeptos e da imprensa. Contudo, e num plano interno, o técnico ficou agastado com comportamentos da equipa em alguns momentos do encontro, até por tudo o que foi dito e trabalhado depois do desaire na Luz. Assim, o jogo na Bélgica com o Anderlecht a contar para a Liga Europa na quinta-feira será a “prova dos nove” para todos: para o treinador, para saber até que ponto as mudanças que prepara face ao último onze têm efeito prático; para os jogadores, que voltaram a ser chamados à pedra depois de outra exibição aquém do esperado na Taça.