Foi a imagem mais impressionante da noite. Pouco depois de o Manchester City desperdiçar uma vantagem de três golos e empatar com o Feyenoord, somando o sexto jogo consecutivo sem ganhar, Pep Guardiola surgiu na zona de entrevistas rápidas com um corte visível no nariz e vários arranhões na cabeça. Quando foi questionado sobre o óbvio elefante na sala, já na conferência de imprensa, deu uma resposta ainda mais estranha.

“Aqui no nariz foi com o dedo, com a unha. Queria magoar-me a mim próprio”, atirou o treinador espanhol, entre alguns sorrisos e antes de se levantar da cadeira, num momento que abriu a portas a muitas críticas — e alguma consternação. “Em que outra indústria é que isto seria considerado normal? As pessoas iriam oferecer apoio e ajuda profissional. Por que razão deveria ser diferente no futebol? É difícil de ver”, referiu Nicky Crosby, apresentadora da beIN Sports, ainda esta terça-feira.

Já esta quarta-feira, depois de muitos o terem acusado de fazer piadas com a saúde mental e a autoflagelação, Pep Guardiola decidiu retratar-se. “Fui apanhado desprevenido, ontem à noite, por uma pergunta no final da conferência de imprensa acerca de um arranhão que apareceu na minha cara e expliquei que foi causado acidentalmente por uma unha mais afiada. A minha resposta não teve, de maneira alguma, a intenção de ‘aliviar’ o tema muito sério que é a automutilação”, começou por escrever o treinador espanhol no Instagram.

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“Sei que muitas pessoas lidam todos os dias com problemas relacionados com a saúde mental e gostaria de aproveitar o momento para destacar uma das maneiras através das quais podem procurar ajuda”, acrescentou, deixando o email e o número de telefone da associação Samaritans, que se dedica ao apoio a pessoas “em angústia emocional, com dificuldades ou em risco de suicídio” no Reino Unido e na Irlanda.

City e um compromisso que deu em comprometido: ingleses desperdiçam vantagem de três golos e somam seis jogos sem ganhar

Certo é que, com o empate contra o Feyenoord em pleno Etihad, o Manchester City leva agora seis jogos consecutivos sem ganhar — sendo que os cinco anteriores foram mesmo derrotas, contra Tottenham (Taça da Liga), Bournemouth (Premier League), Sporting (Liga dos Campeões), Brighton (Liga dos Campeões) e novamente Tottenham (Premier League). Os citizens não vencem desde o fim de outubro, quando derrotaram o Southampton pela margem mínimo, e sofreram uns impressionantes 17 golos nestas últimas seis partidas.

O mau momento da equipa de Pep Guardiola tornou-se ainda mais grave esta terça-feira já que o Manchester City chegou a ter três golos de vantagem, um marcado na primeira parte e outros dois já no segundo tempo, e acabou por conceder o empate no espaço de 14 minutos e com claros erros defensivos. Os citizens já estão a oito pontos da liderança do Liverpool na Premier League, sendo que na Liga dos Campeões estão no 15.º lugar, na zona de apuramento para o playoff que dá acesso aos oitavos de final da competição.

Depois do apito final e pela primeira vez dentro deste período negativo, Guardiola demonstrou alguma preocupação e disse não perceber se as fragilidades defensivas são “uma questão mental”. “Estava tudo bem, 3-0, estávamos a jogar bem, mas depois sofremos muitos golos porque não estamos estáveis. Oferecemos o primeiro golo e depois o segundo, tornou-se difícil. A situação é o que é. Jogámos bem, mas a este nível não podemos oferecer estes golos”, começou por dizer.

“Neste momento não estou pronto para pensar na necessidade de ganhar os três jogos que faltam para ficar nos oito primeiros lugares. Temos de recuperar e prepararmo-nos para o próximo jogo. Se não formos capazes de ganhar jogos, como não fomos hoje, torna-se tudo muito difícil”, acrescentou o treinador espanhol, antecipando desde já o confronto direto com o Liverpool agendado para o próximo domingo, dia 1 de dezembro.

“Temos perdido muitos jogos, estamos frágeis, claro que precisamos de uma vitória. O jogo era bom para ganharmos essa confiança. Estávamos a jogar a um bom nível, mas começámos a ter problemas assim que alguma coisa aconteceu. Depois do segundo golo esquecemo-nos de tudo, estávamos desesperados por ganhar. Jogamos bem, mas não ganhamos jogos”, concluiu.