O comandante dos Bombeiros Sapadores de Santa Cruz, na Madeira, rejeitou, esta terça-feira, tecer considerações sobre a adequação do combate inicial do incêndio de agosto, referindo que não estava no local e que ainda não há relatórios do sucedido.
“Eu não estive presente no ataque inicial, não posso comentar se foi adequado, se não foi adequado, porque aquilo que sei foi aquilo que foi veiculado na comunicação social”, afirmou Leonardo Pereira.
O comandante acrescentou que “não existe ainda nenhum relatório desta intervenção” e “não existe tão pouco um briefing entre elementos de comando e a estrutura de Proteção Civil” para que pudesse ser estudada a fita de tempo.
Leonardo Pereira falava na comissão de inquérito da Assembleia Legislativa da Madeira para apuramento de responsabilidades políticas no combate ao fogo rural de agosto, que lavrou durante 13 dias.
Questionado sobre se o Plano Regional de Emergência e Proteção Civil foi atempadamente ativado, Leonardo Pereira disse não ter informação oficial sobre o assunto.
Já sobre se deveria ter sido pedido apoio externo mais cedo, disse não estar “em condições de responder”, insistindo que não dispõe de informação.
Os Bombeiros Sapadores de Santa Cruz, concelho que não foi afetado pelo incêndio, iniciaram a sua participação no combate ao fogo em 17 de agosto, três dias depois do seu começo, tendo sido empenhados para a freguesia do Curral das Freiras e rendido no dia seguinte à tarde.
Após essa data, acrescentou, esta corporação apenas foi solicitada em 21 de agosto, na altura em que a região autónoma recebeu os Canadair provenientes de Espanha, para dar apoio nas descargas.
O comandante recusou fazer uma avaliação global do combate do incêndio, realçando que, sob o seu comando, “não houve descoordenação nenhuma entre os vários meios de bombeiros”.
Ainda assim, “falhas houve, senão não teria ardido o que ardeu”, ressalvou.
A comissão de inquérito de apuramento de responsabilidades políticas no combate aos incêndios ocorridos entre o dia 14 e o dia 26 de agosto foi requerida pelo PS e integra deputados dos sete partidos com representação parlamentar — PSD, PS, JPP, Chega, CDS-PP, IL e PAN —, sendo presidida pela deputada socialista Sancha Campanella.
A próxima audição parlamentar está agendada para quinta-feira, às 14h00, contando com a presença do presidente do Serviço Regional de Proteção Civil da Madeira, António Nunes, e do vogal do conselho diretivo, Marco Lobato.
O incêndio rural deflagrou na ilha da Madeira em 14 de agosto, nas serras do município da Ribeira Brava, propagando-se progressivamente aos concelhos de Câmara de Lobos, Ponta do Sol e Santana. Ao fim de 13 dias, a Proteção Civil regional indicou que o fogo estava “totalmente extinto”.
Dados do Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais apontam para mais de 5.104 hectares de área ardida, embora as autoridades regionais tenham sinalizado 5.116, dos quais 139 de floresta laurissilva, classificada como património natural da humanidade.
Segundo o executivo madeirense, não houve registo de feridos ou destruição de casas e infraestruturas públicas essenciais, mas os estragos ao nível da agricultura, da pecuária e da apicultura afetaram cerca de 200 produtores. Por outro lado, 120 moradores da Fajã das Galinhas, no concelho de Câmara de Lobos, foram retirados do local e continuam impedidos de regressar.