O motorista da Carris que ficou em estado grave depois de o autocarro que conduzia ter sido incendiado, durante os tumultos que se seguiram à morte de Odair Moniz, reagiu à notícia das detenções de pessoas suspeitas pelo crime dizendo que este é “um dia de alívio”.

Em declarações ao Diário de Notícias e à CNN, o motorista, identificado apenas como Tiago, disse esperar que os responsáveis “paguem” e sejam condenados pelo crime que cometeram. “Eu não faço mal a ninguém. A minha revolta é essa. Estava no dia errado, na hora errada”.

E contou detalhes do momento em que estava a acabar o serviço, pelas 2h da madrugada do dia 24 de outubro, quando chegou à última paragem e viu que um grupo de pessoas vinha em direção ao autocarro com “garrafas na mão” — garrafas essas que continham combustível — e tentou, sem sucesso, fechar as portas do autocarro para escapar ao perigo. “Eu pedi para me deixarem sair”, recorda agora.

Sem ter conseguido fazê-lo a tempo, acabou por ter um dos indivíduos a apontar-lhe uma pistola à cabeça.”Eles começam a mandar cocktails [molotov] tanto de fora, para o vidro do autocarro, como da porta para o meu lugar, para cima de mim. Sinto logo que fico com um cheiro a combustível”. E foi então que viu o combustível que estava nas garrafas a “escorrer” — e que um dos culpados pegou fogo ao autocarro, fazendo “faísca com o isqueiro”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Impossibilitado de fugir e tendo voltado atrás para pegar no telemóvel, já com a mão a começar a arder, o motorista começou mesmo a “pegar fogo”, começando a correr pela rua fora e “aos gritos, com fogo na cara e na cabeça”. As descrições são impressionantes: quando parou de correr começou a sentir dores pelo corpo, esperou por uma ambulância sozinho, até à qual teve de caminhar, uma vez que o autocarro em chamas bloqueava o caminho. “A certa altura, percebi que iria morrer ali”, descreve em declarações ao jornal.

Não morreu, mas ficou internado em estado grave no hospital de Santa Maria depois do ataque, que aconteceu na zona de Santo António de Cavaleiros, em Loures. Acordou uma semana depois do “pior momento” da sua vida, conta à CNN. “Eu estava todo ligado, ventilado, e tinha os olhos fora da cara. O inchaço era tanto na cabeça que os meus olhos ficaram fora da cara”. Agora, tem sequelas visíveis no corpo e está a fazer exames para perceber se tem sequelas a nível pulmonar.

Esta quarta-feira a Polícia Judiciária interrogados dez suspeitos, que respondem em coautoria por crimes como homicídio na forma tentada.

Protestos violentos em Lisboa. PJ fez diversas buscas e suspeitos de ataque que deixou motorista de autocarro ferido já estão na sede da PJ