O PS decidiu voltar a abster-se no orçamento da Câmara Municipal de Lisboa, viabilizando assim pela quarta e última vez o documento mais importante para a governação de Carlos Moedas e permitindo que Lisboa entre no último ano deste mandato autárquico com orçamento aprovado.
A explicação é semelhante à que o PS usou, a nível nacional, para deixar o Orçamento de Luís Montenegro passar: “Sentido de responsabilidade”. “Manda o sentido de responsabilidade que o Partido Socialista coloque os atuais interesses da cidade acima de qualquer conveniência partidária”, explica a nota enviada pela concelhia lisboeta para explicar a decisão, proposta em primeiro lugar pelo secretariado do PS/Lisboa.
Ainda assim, dizem os socialistas, esta abstenção não se traduz num “cheque em branco”: “Pelo contrário, trata-se de não dar a Carlos Moedas qualquer álibi para, mais uma vez, não cumprir as promessas que fez. Ficará claro, mais uma vez, que a incompetência e a incapacidade de Carlos Moedas são a única força de bloqueio à governação de Lisboa”, atira o partido, depois de já ter viabilizado os três orçamentos anteriores de Moedas, eleito em 2021.
Apesar de a decisão ser pela abstenção, todo o argumentário usado pelo PS no resto deste texto parece puxar para o voto contra. Desde logo, o partido parte de uma ideia: com a passagem dos anos à frente da autarquia da capital, fica “evidente” que os compromissos que Carlos Moedas assumiu antes das eleições “não passavam de promessas de quem não contava ser presidente da maior câmara municipal do país”, antes de derrotar de forma surpreendente Fernando Medina.
O PS diz ainda que Carlos Moedas não conseguiu, nestes três anos, construir “nada” além da sua própria imagem; vai deixar uma cidade “sem obra e sem rumo”; conduziu uma governação com resultados “desastrosos”; só culpa a oposição; não se sente responsável pelo “lixo que se acumula” nas ruas de Lisboa, pelo trânsito caótico ou pela “preferência indisfarçável pelo alojamento local” em detrimento de uma política de habitações acessíveis.
Convencido de que os problemas da cidade se agravam, o PS junta a isto outra crítica: também as contas da própria câmara se “deterioraram”, apesar de a coligação Novos Tempos ter herdado “finanças saudáveis” e “endividamento em mínimos históricos” dos tempos do PS.
Em conclusão: para o PS, este não é um “bom orçamento”, não tem em conta as prioridades dos lisboetas, não traz soluções e “jamais seria um Orçamento do PS”. Apesar disso, o PS lembra que foi garantindo que a coligação liderada por Moedas “tivesse todas as condições de governabilidade”, e este ano acontecerá o mesmo, “embora para o PS seja mais fácil encontrar argumentos para votar contra”.
Em tempo pré-autárquicas, o PS privilegia o sentido de “responsabilidade” — e prefere não provocar uma crise inesperada em Lisboa.