O Chega colocou, esta sexta-feira, faixas na fachada do Parlamento para protestar contra o fim do corte de 5% nos salários dos políticos, medida que foi aprovada esta quinta-feira no debate de especialidade do Orçamento do Estado (OE2025).
A situação foi contestada por praticamente todos os partidos no hemiciclo. O presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco repudiou a ação do Chega, recordando que o Palácio de São Bento é um monumento nacional: “Tem regras de utilização para efeitos de publicidade, como os Jerónimos ou a Torre de Belém, não é permitida publicidade nas fachadas exteriores, não tem que ver com liberdade de expressão”.
Assim sendo, José Pedro Aguiar-Branco mandou retirar as tarjas. “Tentei, logo que tive conhecimento, mandar retirar, a do interior foi retirada, a de fora, tentei notificar o grupo parlamentar do Chega, mas a informação não chegou ao destinatário, ninguém atendeu os telefones, a comunicação foi feita por mensagem”, referiu.
Após um acesso debate do Parlamento, André Ventura, à margem dos trabalhos parlamentares, confirmou, a meio da manhã, que o Chega iria retirar as faixas depois da votação do Orçamento do Estado. “Quando temos uma votação a decorrer sobre aumentos salariais para políticos, que envergonha o país, entendemos temos o direito de mostrar ao país e ao Parlamento a nossa indignação”, indicou.
No entanto, os bombeiros chegaram mais cedo, a pedido do presidente da Assembleia da República. Ao mesmo tempo, a Polícia de Segurança Pública (PSP) montou um dispositivo policial junto ao Parlamento não só para acompanhar a manifestação da CGTP, como também para dar apoio aos bombeiros sapadores.
Ao Observador, fonte oficial da PSP esclareceu que os polícias estiveram a dar apoio na operação de corte de estradas, para a passagem do veículo pesado dos bombeiros, assim como estavam preparados para fazer a apreensão das faixas, caso tivessem sido os bombeiros a retirá-las pelo lado de fora.
À última hora, porém, quando os bombeiros já estavam no cimo das escadas, prontos para cumprir a ordem de Aguiar-Branco, é visível uma troca de palavras entre André Ventura e os bombeiros, que estavam ao nível da janela. Logo depois, André Ventura, contrariamente ao que tinha anunciado, de que só o faria no final do debate, aceitou retirar as tarjas pelo lado de dentro.
Apesar de se tratar de fim de um corte de salários e não de um aumento, no X (antigo Twitter), o líder do Chega, André Ventura, disse, no início da manhã, que “não podia deixar passar” o momento e colocou várias faixas, nas quais se lê “OE2025 aumenta o salário dos políticos”: “Vergonha”.
Políticos deixam de ter corte de 5% nos salários a partir de janeiro
Na mesma publicação, André Ventura escreveu que “num momento em que não há dinheiro para pensões ou baixar impostos, o partidos aumentaram o salário dos políticos neste orçamento”.
Hoje não podíamos deixar passar. Num momento em que não há dinheiro para pensões ou baixar impostos, os partidos aumentaram o salários dos políticos neste Orçamento.
Não passarão impunes! pic.twitter.com/yP1iea04CO— André Ventura (@AndreCVentura) November 29, 2024
No mesmo sentido, Pedro dos Santos Frazão, vice-presidente do Chega e deputado, mostrou uma fotografia de um cartaz perto do Parlamento de protesto contra o fim do corte dos salários dos políticos.
No cartaz, vê-se o primeiro-ministro e presidente do PSD, Luís Montenegro, o ministro da Defesa e presidente do CDS-PP, Nuno Melo, e o secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, com notas da mão, sinal do aumento salarial. “Este orçamento vai aumentar os salários dos políticos e mantém as subvenções milionárias aos partidos”, escreveu Pedro dos Santos Frazão no X.
Este orçamento vai aumentar os salários dos políticos e mantém as subvenções milionárias aos partidos! #VERGONHA pic.twitter.com/gzT0Cvq65N
— Pedro dos Santos Frazão (@Pedro_Frazao_) November 29, 2024
A proposta do fim do corte dos salários dos políticos em 5% foi feita pelo PSD. Obteve o voto a favor do CDS-PP, PS e PAN, ao passo que Chega, IL, Bloco de Esquerda e Livre se opuseram. O PCP absteve-se.
Na manhã de quinta-feira, o Chega já tinha anunciado o seu sentido de voto, tendo André Ventura garantido que todos os deputados do partido vão prescindir desta reposição salarial.