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Centenas de Bombeiros Sapadores de vários pontos do país estiveram na manhã desta terça-feira a realizar uma manifestação não comunicada, em Lisboa, num dia em que arrancou a terceira negociação entre a classe profissional e o Governo. Exigem a revisão da carreira, com acertos salariais e ajustes no horário de trabalho. E durante o protesto ergueram cartazes com mensagens como: “Está a arder? Chamem os políticos” e “aldrabões”. Tendo em conta o ambiente de tensão junto à sede do Governo, o Executivo decidiu suspender a reunão.

Ao início da manhã, ao longo do percurso entre Alvalade e o Campo Pequeno, os bombeiros rebentaram petardos e lançaram bombas de fumo vermelho nas avenidas de Roma e João XXI. A tensão foi aumentando à medida que se aproximavam do Campus XXI, a sede do Governo, com os manifestantes a romper o cordão policial. O trânsito na avenida João XXI teve mesmo de ser cortado.

Os manifestantes fizeram um minuto de silêncio, cantaram o hino nacional e ajoelharam-se à porta do Campus XXI, onde decorria a reunião entre os sindicatos e o Governo, que estava prestes a ser interrompida devido ao ambiente de tensão.

Reunião com Governo foi suspensa. Executivo retoma se ficar assegurado “diálogo institucional sereno”

Ao Observador, na parte da manhã, fonte oficial do Governo indicou que “não aceita negociar perante formas não ordeiras de manifestação”. “Não estão em causa, até ao momento, as condições de segurança“, ressalva a mesma fonte. “As negociações poderão ser retomadas se e quando forem assegurados o respeito pelo diálogo e tranquilidade no exercício do direito de manifestação”, o que não deverá acontecer nas próximas horas. “As reuniões estão suspensas por tempo indeterminado e o mais provável é que não sejam retomadas hoje“, apurou o Observador junto de fonte do Governo, o que acabou por se confirmar.

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Ao início da noite, em comunicado, o Governo voltou a reforçar que “não negoceia em tais condições” e deixou um alerta: só se voltam a sentar à mesa das negociações, se a ordem pública estiver garantida. “O processo negocial poderá, eventualmente, ser retomado, se e quando assegurado o comprometimento das partes envolvidas com um diálogo institucional sereno, respeitador da ordem pública e da racionalidade deliberativa”, lê-se na missiva.

“Estamos à espera que eles saiam”. Bombeiros queriam explicações no lado de fora do edifício

À porta da sede do Governo, alguns bombeiros que participaram na manifestação foram explicando. durante a manhã ao Observador ter expectativa sobre o resultado das reuniões que decorriam entre sindicatos e Governo e que esperavam a saída dos seus representantes.

Estamos à espera que eles saiam e venham cá dizer o que saiu da reunião”, comenta um dos sapadores, garantindo que o objetivo não passa por entrar no edifício, mas por aguardar pela saída dos representantes sindicais.

Minutos depois, o cortejo de bombeiros sapadores — que se tinha afastado da porta do edifício em direção ao Campo Pequeno — dirigiu-se para a entrada principal do Campus XXI, com várias dezenas de bombeiros a praticamente bloquear a porta principal do edifício, continuando a empunhar cartazes, a gritar “sapadores, sapadores” e “vergonha, vergonha” e a rebentar petardos.

Outros bombeiros dispersaram pelas redondezas do edifício, incluindo pelos cafés da área. Na manifestação é possível ver bombeiros sapadores fardados de vários pontos do país, incluindo Lisboa, Coimbra, Leiria, Setúbal e Cartaxo.

“A proposta que nos chegou continua a não satisfazer”

António Pascoal, presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Município de Lisboa, foi o primeiro a falar aos bombeiros reunidos junto à sede do Governo, ainda antes das 13h00, anunciando que as negociações tinham sido suspensas “por razões de segurança”, o que contraria a versão do Governo.

“A proposta que nos chegou à mesa continua a não satisfazer o que os bombeiros querem. Enquanto o Governo não aceitar negociar e que venham ao encontro das propostas que traçámos para todos vocês nós não vamos ceder e não vamos baixar à guarda. Vamos lá para dentro e vamos continuar a negociação”, garantiu o dirigente sindical.

Leonel Mateus, vice-presidente do Sindicato dos Bombeiros Sapadores, também se dirigiu aos bombeiros em protesto para confirmar que “não há consenso” com o Governo e que espera que as negociações prossigam. “Não vamos ceder a um único item“, assegurou.

Ao Observador, depois de a reunião ter sido suspensa, José Abraão, secretário-geral da Federação de Sindicatos da Administração Pública (FESAP), disse que “o Governo apresentou uma nova proposta” de negociação da carreira e das condições salariais “que, nalguns aspetos, melhora a anterior”, sem concretizar medidas concretas.

Mas também refere que há “coisas inaceitáveis” na nova proposta do Governo: “Estamos a propor-nos 31 horas de disponibilidade e isto é inaceitável”, diz José Abraão. À mesa das negociações, do lado do Governo, estão o secretário de Estado da Administração Local, Hernâni Dias, e a secretária de Estado da Pública, Marisa Garrido. Do lado dos representantes dos bombeiros estão diversas plataformas sindicais e sindicatos: FESAP, SINTAP, STML, STAL e Sindicato Nacional dos Bombeiros Profissionais. José Abraão reafirmou ao Observador que a indicação para que a reunião tivesse sido suspensa foi a de que “não havia condições de segurança”.

“O Governo não vem com 100 euros comprar-nos”

Já depois das 14h00, Leonel Mateus, vice-presidente do Sindicato dos Bombeiros Sapadores, falou aos bombeiros que ainda se encontravam junto à sede do Governo. “Os sindicatos foram informados pelos chefes de gabinete [do Governo] que todas as negociações estão suspensas até ordem em contrário“, afirmou, notando que “não há data para reatar as negociações”. “Foi-nos informado que não foram as condições de segurança o motivo para suspender as negociações, dizem que foram as condições gerais da negociação”, acrescentou ainda.

O dirigente sindical disse ainda que a proposta do Governo “tinha um ligeiro avanço à proposta inicial”, mas que ficava “aquém” do compromisso que firmaram com a classe. “Comprometemo-nos convosco e é por isso que recusámos”, garantiu aos bombeiros sapadores.

“Em relação ao suplemento de função, o Governo queria que, a troco de 10%, trabalhássemos mais 30 horas por dia por mês e nós recusámos”, informou ainda Leonel Mateus. Além disso, foi proposto aos bombeiros sapadores um “aumento em relação ao que tinha apresentado inicialmente para chegar ao valor de 100 euros daqui a três anos”. “O Governo não vem com 100 euros comprar-nos”, assegurou.

“Não temos a reposta sobre o que vamos fazer a seguir, vamos analisar com os respetivos departamentos jurídicos e direções e entre todos devemos chegar à nossa próxima posição, que agora não sabemos qual é”, admitiu Leonel Mateus.

Na reação às palavras do sindicalistas vários bombeiros admitiram a possibilidade de avançar para o encerramento de quartéis como forma de protesto. “É parar! É parar tudo!”, gritou um bombeiro. Pouco depois, os bombeiros sapadores começaram a desmobilizar-se.

PSP confirma que bombeiros romperam cordão policial em manifestação não comunicada

Ao Observador, a Direção Nacional da PSP esclareceu na manhã desta terça-feira que se tratou de uma “manifestação não comunicada dos Bombeiros Sapadores”, que teve “concentração inicial no Quartel do Regimento de Sapadores de Bombeiros de Alvalade, na Av. Rio de Janeiro, seguindo-se desfile até ao edifício do Campus XXI, na Avenida João XXI, número 63”. Por volta das 8h10 já havia, no entanto, uma concentração dos bombeiros na avenida Rio de Janeiro e várias carrinhas da PSP no local.

A PSP adiantou ainda que, após terem chegado ao Campus XXI, os “manifestantes romperam cordão policial e dirigiram-se para junto da entrada do edifício na Rua Brito Aranha”.

A CNN Portugal noticiou que um dos repórteres da estação acabou por ser atingido por um petardo lançado pelos bombeiros.