O cardeal Américo Aguiar defende que “religiosos e militares” devem “refletir muitíssimo bem” na participação política e que os campos devem ser “estanques” sob pena de “criar confusões”.
Em declarações esta quarta-feira à Rádio Observador, no programa Explicador, o bispo de Setúbal foi questionado sobre um possível regresso à política — foi autarca pelo PS aos 19 anos –, quando expressou a sua opinião sobre a participação de figuras ligadas à Igreja e às Forças Armadas. “Os religiosos e os militares, gente que exerceu funções muito especiais na comunidade, têm que refletir muitíssimo bem quando significa uma opção de uma participação politico-partidária”, começou por dizer. “Vemos noutros países como são campos que se devem manter estanques para não criar confusões nem problemas que normalmente infelizmente acontecem.”
Interpelado sobre se se referia à potencial candidatura de Gouveia e Melo à Presidência da República, Aguiar respondeu: “Também a isso”. Sobre a participação da Igreja na vida política, o cardeal reconhece que há quem critique o seu “excesso de visibilidade de pronunciamento”. “Acham que os padres e os bispos não se devem meter na política. Eu acho que têm obrigação de se meter na política. Não na política partidária, que compete aos cidadãos e aos eleitores, mas na política que é o cuidado pela coisa pública acho temos obrigação de nos pronunciarmos e de provocar os nosso concidadãos a estarem atentos e a refletir e a tomar as decisões que têm de tomar”, continou.
Cardeal diz que grito dos bombeiros “é mais do que justo”, mas condena o crescimento das manifestações radicais
O também Capelão Nacional da Liga dos Bombeiros Portugueses comentou a situação atual vivida pelos bombeiros, que viram as negociações com o Governo ser interrompidas devido à manifestação esta terça-feira junto à sede do executivo, em Lisboa. No protesto, centenas de bombeiros lançaram petardos e bombas de fumo.
Américo Aguiar mostrou-se “surpreendido e preocupado”, diz à Rádio Observador. “Estou totalmente solidário com as reivindicações, as dificuldades, os problemas e as condições [dos bombeiros], nada disso está em causa”, sublinhou, frisando que “é mais do que justo o grito destes homens e mulheres”. No entanto, os “modos de reivindicar vão além daquilo a que estamos habituados”.
“Parece que para sermos ouvidos, entendidos ou compreendidos, muitos dos nossos concidadãos começam a convencer-se que quanto mais barulho, que quanto mais radicais somos, mais somos ouvidos e a nossa dor, o nosso grito, chega a quem de direito. Isto é perigoso seja qual for a classe ou profissão”, alertou, apelando à necessidade de negociações sérias “em que todos se ouçam, em que todos tenham oportunidade de apresentar as suas posições, seja da parte do Governo seja da parte dos representantes sindicais”.
Américo Aguiar reconheceu que tem ponderado intervir no processo. “Até me pergunto se pessoalmente devo colocar-me no terreno para interagir com os representantes sociais”, admitiu.