Até à década de 70, era uma questão de escolher o país entre América do Sul e Europa e estava resolvida a questão. A partir daí, com o México-70, o menu de continentes ganhou uma nova alternativa, que chegaria nos anos 90 aos EUA mas sempre num só país. No início do século, quase como um primeiro sinal dos novos tempos, a Ásia chegou-se à frente para a primeira organização entre dois países, neste caso Japão e Coreia do Sul em 2002. As mudanças não ficariam por aí, com a África do Sul a receber a primeira grande competição em solo africano em 2010 e o Qatar a mostrar uma realidade alternativa onde impera a força dos milhões em 2022. Receber um Campeonato do Mundo tornou-se mais do que isso e 2030 não foi exceção.
O próximo Mundial, marcado para 2026, será o primeiro organizado entre três países: EUA (que antes tem a primeira edição do Campeonato do Mundo mas de clubes, no próximo ano), México e Canadá. Agora, para o certame que se seguia, a parte mais “política” e de diplomacia esteve bem mais em cima da mesa. Primeiro, numa parte mais europeia: Portugal e Espanha funcionaram como base de tudo, a Ucrânia chegou a estar no projeto mas caiu pela incerteza criada pela guerra. Depois, num plano mais continental, a integração de Marrocos, um país com várias ligações à Península Ibérica e com disposição para investir. Por fim, o toque final entre simbologia e história, com a integração de Argentina, Paraguai e Uruguai nos jogos iniciais para honrar aquela que será a edição centenária do Campeonato do Mundo. Estava “feito”.
O “feito” necessitava apenas, numa última instância, da confirmação final da atribuição da organização, que viria do congresso da FIFA. “Tomando todos os aspetos em consideração, a candidatura demonstrou claramente a capacidade para receber com sucesso o Mundial-2030. Se for bem sucedida, a FIFA está entusiasmada por trabalhar em conjunto com os anfitriões desde o início, para entregar uma edição memorável e de classe mundial do Campeonato do Mundo, um que representa o último num século de torneios, deixando um legado importante para o futebol e para a sua comunidade global”, explicara o órgão que tutela o futebol mundial, dando uma nota de 4,2 em cinco que “excedia os requisitos mínimos”.
“Com base nestes resultados, bem como as avaliações completas, a FIFA determinou que estas candidaturas se qualificaram para serem consideradas pelo Conselho FIFA e o Congresso FIFA, por excederem os requisitos mínimos nas avaliações técnicas para acolher o Mundial-2030 e a Celebração Centenária”, tinha rematado o órgão, remetendo para esta quarta-feira o ponto final de todo o processo de decisão sobre um torneio que passará a contar com 48 em vez de 32 equipas, aumentando para mais de 100 o número de encontros em causa em comparação com o que tem existido até aqui e haverá também no ano de 2026.
De recordar que a Espanha já organizou um Campeonato do Mundo em 1982, ao passo que para Portugal e para Marrocos será uma estreia. No plano nacional, o Europeu de 2004 continua a ser a grande organização desportiva no país, sendo que nos últimos anos houve outros eventos de relevo como finais da Champions na Luz e no Dragão (2020 e 2021) ou a Final Four da primeira edição da Liga das Nações (2019). Desta vez, e desde início, Portugal foi apresentando sempre aquilo que era visto como a solução “razoável” neste contexto, olhando para a perspetiva desportiva, social, económica e financeira: três estádios (Luz, Alvalade e Dragão), pouco mais de uma dezena de jogos e uma das meias-finais, neste caso na Luz.
Antes dessa confirmação, numa cerimónia que juntou os três continentes através de vídeo, os presidentes dos seis países que irão receber jogos no Mundial-2030 tiveram oportunidade de fazer discursos curtos onde iam agradecendo a várias entidades pela oportunidade oferecida, havendo depois lugar a mais um pequeno vídeo de apresentação da candidatura com Luís Figo a ser o representante português e com três principais ideias: respeito pela história, capacidade de promover a multiculturalidade e legado para as novas gerações. Faltava apenas a votação de todos os representantes da FIFA, sendo que antes houve também a apresentação da candidatura única da Arábia Saudita ao Mundial-2034 que foi iniciada em vídeo por… duas crianças. Após o pedido de aclamação além da unanimidade das 211 associações, Gianni Infantino fez o anúncio às 15h47.
De referir que, no Relatório do Impacto Económico e Social do Mundial-2030, feito a pedido da Federação pela PwC, estima-se que a organização do Campeonato do Mundo também em Portugal tenha um impacto de mais de 800 milhões de euros no PIB e esteja associada a 20.000 empregos no país. Em termos de números, está prevista a entrada de 300 a 500 mil visitantes em território nacional durante a prova, com impacto de 500 a 660 milhões de euros em comércio, produtos e serviços locais, e que os benefícios intangíveis (dois exemplos: bem-estar e utilidade percecionada pelos cidadãos) superem em 8.5 vezes o investimento feito na organização. “Para além do impacto económico e social imediato, o Mundial deixará um legado duradouro na marca Portugal, no turismo, na qualidade de emprego, na coesão social, na saúde das pessoas e nas relações internacionais do país”, remata o estudo feito a propósito da organização do Mundial-2030.
“Servirá como uma alavanca fundamental para o desenvolvimento que queremos”
“No plano estratégico, esta atribuição do Mundial-2030 servirá de certeza absoluta como uma alavanca fundamental para esse desenvolvimento que queremos para o nosso futebol. Estou convencido que o Mundial-2030, da mesma forma que o Euro-2004 serviu dessa alavanca, vai permitir ainda alavancar mais exatamente esse desenvolvimento do futebol português, que tem necessidade dessa alavanca para crescer mais, para desenvolver o talento, porque efetivamente Portugal e os clubes portugueses são acima de tudo clubes formadores e que têm que ser a base da sua sustentabilidade relativamente ao futuro. Não há dúvida que fizemos um bom trabalho, tivemos uma avaliação de 4,2 em 5, que é a mais alta, tanto quanto julgamos saber, avaliação de Campeonatos do Mundo e estamos muito satisfeitos porque Portugal pela primeira vez vai estar a organizar um Mundial”, referiu Fernando Gomes, presidente da Federação, num evento na Cidade do Futebol organizado para o anúncio da decisão “expectável” que iria sair do Congresso da FIFA.
“É uma grande alegria e um orgulho enorme saber que o meu país vai receber o Campeonato do Mundo de 2030 e que a seleção de Portugal vai poder jogar em casa e perante os seus adeptos os jogos de uma tão importante competição. É uma conquista extraordinária da Federação Portuguesa de Futebol e do seu presidente, Fernando Gomes, e a partir de hoje uma responsabilidade de todos os portugueses. Tenho a certeza que, juntamente com Espanha e Marrocos, farão deste Mundial uma oportunidade única de promoção do nosso país”, salientou Cristiano Ronaldo, capitão da Seleção, numa reação à agência Lusa.
“Estava na cerimónia, queria ter menos dez anos para poder disputar este Mundial, que tenho certeza que vai ser incrível. Mas acredito que Portugal possa sair vencedor. Esperamos que seja o próximo agora, que é melhor para nós todos, mas que em casa possamos dar uma alegria ao nosso povo e que possamos conquistar este título. É histórico para Portugal. É um Mundial, é o primeiro Mundial, é histórico para o nosso povo, para a nossa gente”, comentou Pepe, antigo capitão que terminou a carreira depois do último Europeu de seleções. “É muito importante, um privilégio para Portugal receber o Mundial que vai ser fantástico com países como Espanha e Marrocos. Temos muitos talentos que podem vir a praticar um excelente futebol nessa altura. Acho que estamo-nos a preparar para ter uma seleção muito forte. E esperamos que o Cristiano [Ronaldo] esteja lá também, a continuar a fazer golos”, referiu Nani, também ele um dos antigos internacionais campeão europeu em 2016 que anunciou o final da carreira no domingo.
Os estádios que vão receber jogos do Campeonato do Mundo de 2030
Argentina
- Estádio Monumental (Buenos Aires, 84.593 lugares)
Espanha
- Estádio Riazor (Corunha, 34.889 que terão de passar para acima de 40.000 lugares)
- Camp Nou (Barcelona, 105.000 lugares)
- Estádio El Prat (Barcelona, 40.000 lugares)
- Estádio San Mamés (Bilbau, 53.331 lugares)
- Estádio Gran Canária (Las Palmas, 32.392 que terão de passar para 40.000 lugares)
- Estádio Santiago Bernabéu (Madrid, 80.000 lugares)
- Estádio Metropolitano (Madrid, 70.460 lugares)
- Estádio La Rosaleda (Málaga, 30.044 que terão de passar para 40.000 lugares)
- Estádio Anoeta (San Sebastián, 39.313 que terão de passar para 40.000 lugares)
- Estádio de la Cartuja (Sevilha, 57.600 que poderão passar para 70.000/75.000 lugares)
- Estádio La Romareda (Saragoça, 42.500 lugares após remodelação)
Marrocos
- Estádio Adrar (Agadir, 45.480 que passarão a 70.000 lugares)
- Estádio Hassan II (Casablanca, 115.000 lugares construído para a prova)
- Estádio Fez (Fez, 45.000 que poderão passar a 55.800 lugares)
- Estádio Marraquexe (Marraquexe, 45.240 lugares)
- Estádio Príncipe Moulay Abdellah (Rabat, 65.000 lugares)
- Estádio Ibn Batouta (Tânger, 65.000 que poderão passar a 75.600 lugares)
Paraguai
- Estádio Nacional (Assunção, 47.128 lugares construído para a prova)
- Estádio Defensores del Chaco (Assunção, 41.186 lugares)
Portugal
- Estádio da Luz (Lisboa, 65.000 lugares)
- Estádio José Alvalade (Lisboa, 50.000 lugares)
- Estádio do Dragão (Porto, 50.000 lugares)
Uruguai
- Estádio Centenário (Montevideu, 62.782 lugares)