No 25.º aniversário da transferência da administração de Portugal para a China, Pequim está a aproveitar o êxito de Macau para devolver legitimidade à fórmula ‘um país, dois sistemas’, enfraquecida pelas tensões em Taiwan e Hong Kong.
“Eu diria que, para o Governo central e para as 1,4 mil milhões de pessoas no continente chinês, Macau tem sido um exemplo de grande sucesso da fórmula ‘um país, dois sistemas'”, disse à agência Lusa Gao Zhikai, que serviu como intérprete do antigo líder chinês Deng Xiaoping e é atualmente um dos mais conhecidos comentadores da televisão chinesa.
Aquela fórmula, que permitiu definir para Macau e Hong Kong um elevado grau de autonomia a nível executivo, legislativo e judiciário, foi originalmente proposta por Deng, no final dos anos 1970, como solução para reunificar Taiwan.
Mas a ilha onde se refugiou o antigo Governo chinês, após perder a guerra civil contra os comunistas, em 1949, continua a funcionar como entidade política soberana. Nos últimos anos, a relação entre Pequim e Taipé deteriorou-se, à medida que a atual liderança taiwanesa reitera a soberania do território.
Já Hong Kong foi abalada, em 2019, por protestos antigovernamentais, marcados por violentos confrontos entre manifestantes e a polícia, mergulhando a região semiautónoma numa crise política e económica.
Em Macau, a “melhoria dos índices”, desde a transferência da administração de Portugal para a China, “falam por si”, destacou Gao.
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“Macau alcançou estabilidade, crescimento, paz e rápido desenvolvimento económico”, disse.
A imprensa estatal chinesa enfatizou igualmente o desenvolvimento da região nos últimos 25 anos.
Num artigo intitulado “A prosperidade de Macau dissipa as dúvidas sobre [o modelo] ‘um país, dois sistemas'” a agência noticiosa oficial Xinhua escreveu que “outrora conhecida como a ‘cidade dos casinos’ e cenário frequente de filmes de ‘gangsters’, [Macau] transformou-se numa cidade dinâmica, celebrada pela sua vitalidade económica, baixas taxas de criminalidade e excecional bem-estar público”.
Em apenas uma geração, o território tornou-se no maior centro de jogo do mundo. A economia cresceu 15,7%, no primeiro semestre de 2024, em termos homólogos. Segundo a revista Forbes, Macau tem agora o segundo PIB ‘per capita’ mais alto do mundo, ascendendo a 134.141 dólares (127 mil euros), valor apenas superado por Luxemburgo.
Da passagem da administração portuguesa ficou, entre outros, os edifícios coloniais, a calçada portuguesa, os azulejos, mas também património imaterial como a língua portuguesa, que continua a ser oficial nos serviços públicos e o Direito, que é de matriz portuguesa.
Gao Zhikai disse que a China vê como “positiva” a manutenção dessa herança, e estabelece um contraste com a política da Índia para a região de Goa, “onde a influência portuguesa foi eliminada após a integração”.
“A China e o seu povo não têm qualquer problema em manter a herança portuguesa em Macau”, sublinhou.