O chefe do Estado-Maior da Armada, almirante Gouveia e Melo, afirmou esta terça-feira que a Marinha portuguesa vai preencher uma “lacuna grave” com a aquisição de dois navios reabastecedores, que deverão chegar ao país em 2028.
“Portugal, a Marinha Portuguesa, perdeu há seis anos a capacidade de operar com um reabastecedor no mar. Essa lacuna era uma lacuna grave que limitava e limita imenso as nossas operações no mar. Perdemos a capacidade de operar a longa distância, de forma independente, e perdemos a capacidade de operar por longos períodos no mar. Perdemos essa capacidade em 2018. Vamos reganhar essa capacidade em 2028″, realçou o chefe militar da Armada.
O almirante Gouveia e Melo falava na cerimónia de assinatura do contrato entre a Marinha Portuguesa e os estaleiros turcos STM para a aquisição de dois novos navios reabastecedores, que decorreu nas instalações Centrais da Marinha, em Lisboa, e contou com a presença do Secretário de Estado das Indústrias de Defesa da Turquia, Haluk Görgün, entre outras entidades.
O chefe militar disse estar em causa “um dia muito significativo para a Defesa Nacional e para o país”, afirmando que “quando se fala em transformação da Marinha portuguesa, ela não é uma palavra vã” e este navio é “a prova dessa transformação”.
Gouveia e Melo salientou que este “não é um navio reabastecedor no modelo habitual, que a maior parte das Marinhas ainda adquire”, mas sim uma embarcação que foi modificada para responder a “diferentes necessidades”.
“Tão simples como poder auxiliar populações que estejam em dificuldade nos nossos arquipélagos, para fazer transporte de material que não seja só da Marinha, incluindo material do Exército ou da Força Aérea, para operar de forma diferente a partir do navio com outro tipo de equipamentos, como sejam drones. E, portanto, este navio vem solidificar um novo conceito e uma nova maneira de olhar as operações marítimas”, concretizou.
De acordo com almirante, este é o segundo navio que “vem transformar a Marinha”, sendo que o primeiro foi o navio multiplataforma D. João II, que está a ser construído na Roménia e entrará ao serviço em 2026.
Gouveia e Melo destacou o facto de Portugal e Turquia serem duas “nações marítimas”, com a Turquia a ter “uma posição-chave na entrada do Mar Negro e Portugal uma posição-chave na saída e entrada do Mediterrâneo”.
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“Portanto, é com grande alegria, verdadeiramente com grande alegria, que estamos aqui todos a testemunhar este momento e, mais uma vez, com palavras, mas mais do que palavras, com verdadeiros atos, a transformar uma Marinha para um futuro mais promissor na proteção e na defesa dos interesses portugueses”, rematou.
Em declarações aos jornalistas, Gouveia e Melo adiantou que este investimento está inserido na Lei de Programação Militar (LPM) em vigor e que os dois navios foram adquiridos por “um preço muito bom”, sem especificar valores.
Ao lado do Secretário de Estado das Indústrias de Defesa turco, Haluk Görgün, Gouveia e Melo realçou que “para a Turquia este contrato tem uma importância muito grande, porque é a primeira vez que assinam um contrato na área naval entrando na Europa, e dentro da própria NATO”.
O governante Haluk Görgün elogiou a “visão tecnológica” do almirante Gouveia e Melo e realçou que “o desenvolvimento de uma forte cooperação no domínio da Defesa e da indústria da Defesa com os aliados da NATO é uma prioridade máxima para a Turquia”.
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À margem da cerimónia, Gouveia e Melo — nome que tem sido falado como potencial candidato às eleições presidenciais de janeiro de 2026 — foi questionado sobre o seu futuro e onde estará em 2028, ano da chegada dos dois reabastecedores, e respondeu: “Estarei em Portugal a ver os navios chegar com o maior prazer que posso ter de ter contribuído um bocadinho para que eles chegassem”.
Esta terça-feira também decorreu nas instalações da Marinha a assinatura do regulamento das marcas de qualificação da Marinha portuguesa com a IdD Portugal Defence, a ‘holding’ estatal que gere as participações públicas nas empresas da Defesa.
Estas marcas vão funcionar como “um selo de excelência” atribuído pela Marinha a produtos ou tecnologias testados e aprovados para uso em ambiente marítimo ou com aplicação naval. Este tipo de certificação já existe no Exército e estende-se agora à Marinha.