Nada fazia prever um final de jogo tão quente entre o gelo da noite na Invicta e o frio que marcou em grande parte o andamento da receção do FC Porto ao Estrela da Amadora mas a chegada do treinador do conjunto da Reboleira à sala de conferências do Estádio do Dragão com acompanhamento de três polícias e mais um elemento da segurança privada fazia antever aquilo que o próprio José Faria seria o primeiro a relatar.
“Fui expulso, nos últimos minutos vi o jogo numa sala anexa e, de repente, sem que nada o fizesse prever porque o FC Porto é um grande clube, de gente séria, humilde, que sabe perder e ganhar… Fiquei surpreendido porque houve uma confusão no túnel. Não vi, não estava presente mas sei que houve uma série de empurrões com várias pessoas envolvidas. As entidades competentes estão aí para avaliar, existem as câmaras. O árbitro da partida estava presente também, os delegados e pessoas que não estiveram no jogo também… A organização do jogo não era do Estrela e as autoridades responsáveis certamente poderão justificar. Os árbitros têm de ter responsabilidade também sobre isso. Deixe-me dizer que o árbitro fez um bom trabalho, embora não perceba porque foi expulso porque não disse nada”, referiu José Faria.
“O que aconteceu? Eu sou treinador, precisamos ter muito cuidado da forma como nos pronunciamos. O que eu disse é que não é da minha responsabilidade falar sobre isso. A Liga Portugal tem uma série de normas para se perceber o que aconteceu. Vi algumas coisas, não vi tudo, ouvi outras que não percebi de quem eram… O Estrela não veio aqui armar confusão, viemos fazer o nosso melhor. Quem de direito deve pedir as imagens e colocar tudo em pratos limpos, para o bem e para o mal. Segurança? Não solicitei à polícia para vir comigo, os senhores agentes é que acharam por bem virem…”, acrescentou na resposta seguinte.
Algo se tinha passado, ninguém sabia ao certo o quê. As primeiras notícias que foram começando a circular apontavam para uma desavença que colocava ao barulho o presidente dos dragões, André Villas-Boas, e o delegado do Estrela, Dinis Delgado, que estaria a falar com o árbitro Miguel Nogueira ainda a propósito da expulsão por acumulação de amarelos de Danilo Veiga. Gerou-se uma confusão, os visitantes falaram em empurrões, as autoridades separaram os intervenientes e foi feito uma espécie de cordão de segurança para que nada mais acontecesse. Antes, o líder dos azuis e brancos teria manifestado o seu descontentamento com o comportamento do banco do Estrela, até com os apanha bolas e com os adeptos que estavam na zona.
[Ouça aqui a análise do ex-árbitro Pedro Henriques no Sem Falta da Rádio Observador]
Agora, foram conhecidos os relatórios de todos os intervenientes do encontro realizado na noite de segunda-feira, que terminou com a vitória do FC Porto por 2-0 com golos de Nico González e Gonçalo Borges. O que advogam? Que não houve qualquer agressão no túnel mas que os ânimos estavam mesmo exaltados.
De acordo com o relatório de Miguel Nogueira, a que o jornal Record teve acesso, “André Villas-Boas, em tom exaltado e repetidamente, proferiu as as seguintes palavras aos dois elementos [Dinis Delgado e Danilo Veiga] da equipa B [Estrela da Amadora]: ‘Saiam daqui, esta não é a p*** da vossa casa!’. De seguida, o senhor presidente acompanhou esta equipa de arbitragem ao acesso do nosso balneário”, escreveu Miguel Nogueira, árbitro principal do jogo, numa versão confirmada e até mais pormenorizada do delegado da Liga.
[Clique nas imagens para ver as expulsões de Danilo Veiga e José Faria em vídeo]
“Na altura em que a equipa de arbitragem se dirigia para o balneário, parou para conversar com o delegado da equipa visitante, Dinis Delgado. Nessa altura juntou-se o jogador número 77 [Danilo Veiga], que tinha sido expulso e saiu do balneário da equipa visitante para se juntar à conversa. Instantes depois, entrou no mesmo espaço o presidente do FC Porto, André Villas-Boas, que disse: ‘O que é que se passa? Não é expulsão? Ide para a vossa casa’. ARD e elementos das duas equipas, com exceção dos jogadores do FC Porto que permaneciam no relvado, regressavam aos balneários e gerou-se uma confusão, com trocas de palavras mais exaltadas”, escreveu o responsável da Liga. “Relativamente à situação ocorrida após o final do jogo, na zona de acesso aos balneários, do que lhe foi transmitido e da observação das imagens sem som, não resulta nenhum facto grave”, defendeu o testemunho prestado pelo comandante da PSP a esse propósito.