Os casos de gripe registados em Portugal aumentaram para 386 na semana entre 9 e 15 de dezembro, um aumento acentuado em relação à semana anterior. Segundo os dados mais recentes, do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, há uma tendência crescente das infeções respiratórias — uma realidade que já está a ser sentida nos serviços de urgência hospitalares, principalmente na região de Lisboa.
Segundo o boletim de vigilância epidemiológica da gripe e outros vírus respiratórios, dos 386 casos de gripe identificados, 353 são do grupo B e outros 33 do grupo A — o que representa um aumento de 32% em relação ao boletim anterior, que reportava à semana entre 2 e 8 de dezembro. Os casos de infeção por SARS-CoV-2 (o vírus que causa a Covid-19) são ainda residuais.
Foram também detetados pela Rede Portuguesa de Laboratórios outros agentes respiratórios em 162 casos, sendo o rinovírus o mais comum neste grupo. Nos hospitais, foram admitidos 61 casos de infeção respiratória aguda grave na semana entre 9 e 15 de dezembro. Este boletim já abarca o período em que as temperaturas desceram significativamente, até para valores inferiores ao normal para esta altura do ano. Foi precisamente a partir de dia 9, um domingo, que se registou uma descida generalizada das temperaturas em todo o território do continente, tendo sido emitidos avisos à população para o tempo frio.
Hospitais da área de Lisboa sentem aumento da afluência, com doentes mais graves
Alguns hospitais já começam a sentir o aumento da afluência às urgências, principalmente às pediátricas, devido ao maior número de infeções respiratórias. Ao Observador, o Hospital Fernando Fonseca (Amadora-Sintra) explica que tem “registado uma maior afluência no serviço de Urgência Geral, não apenas devido ao aumento das infeções respiratórias, mas também à descompensação de doenças crónicas“. Ao serviço de urgência, têm chegado, nos últimos dias, casos com “maior gravidade clínica”, uma realidade também relatada, à rádio Observador, pela responsável da urgência polivalente do Hospital de São José.
“Temos a noção de que o doente vem mais grave, com muitas comorbilidades, muitas vezes com necessidade de internamento em Cuidados Intensivos, o que acaba por influenciar muito a nossa capacidade de resposta no serviço de urgência e depois a drenagem para o internamento”, diz Catarina Pereira, reconhecendo que muitos doentes ficam “mais de 48 horas na urgência” a aguardar vaga de internamento. A responsável adianta que serviço de urgência “tem registado alguns picos de procura, acima dos 400 [atendimentos diários], até aos 500 doentes”, mas sem registar um “aumento significativo” da afluência nesta fase.
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Sem avançar números, o Hospital Amadora-Sintra refere um “aumento significativo [dos atendimentos] face à média habitual” e explica que tem reforçado o número de profissionais escalados de forma a aumentar a capacidade de resposta. “Para lidarmos de forma mais eficaz com esta situação, reforçámos as escalas de profissionais, incluindo médicos especialistas, enfermeiros”, realça.
Hospitais de Lisboa limitam acesso às urgências gerais e pediátricas a partir desta quinta-feira
No Hospital de Santa Maria, o diretor da urgência refere um aumento da afluência à urgência, ainda que não muito significativo nesta fase. “Temos tido uma maior afluência, não tanto como estávamos à espera por causa destes dias mais frios. Notamos mais infeções respiratórias, mas ainda não em números preocupantes”, sublinha João Gouveia. O responsável adianta que, na urgência pediátrica, a situação é diferente, com um aumento dos atendimentos mais acentuados desde o início de dezembro.
No norte e centro, impacto nos hospitais ainda está limitado às urgências pediátricas
Na região norte, o Hospital de São João também tem sentido uma maior pressão nas urgências, sobretudo na pediátrica, devido à maior circulação do vírus sincicial respiratório, explica ao Observador a diretora da urgência, Cristina Marujo. “Tem havido um incremento da afluência à urgência [geral], embora discreto nos últimos dois, três dias, embora sem ser problemático”, vinca a responsável, acrescentando que os idosos chegam à urgência com as doenças de base “mais descompensadas”.
No entanto, a maior parte do impacto das infeções respiratórias está a ‘desaguar’ na urgência pediátrica. “Há cerca de duas semanas que temos uma afluência grande das crianças por problemas respiratórios“, realça Cristina Marujo. O mesmo cenário regista-se na região centro. Em Coimbra, as urgências têm registado um “aumento paulatino [dos doentes com] infeções respiratórias, sobretudo nas idade pediátrica”, diz ao Observador a diretor clínica da Unidade Local de Saúde de Coimbra, Cláudia Nazareth. Quanto aos adultos, o maior aumento da afluência está a ocorrer, realça, nos centros de saúde, mais concretamente nas consultas abertas para doentes agudos.
Nesta fase, estão também a aumentar as infeções respiratórias nesta região do país, sobretudo pelo “vírus influenza tipo B (gripe) e pelo vírus sincicial respiratório”, que afeta mais as crianças e também os mais idosos. No entanto, explica a responsável, estes vírus estão, nesta fase, ainda com uma “fraca disseminação na comunidade”.