Um “choque” pela morte de um “homem bom com tanto para fazer”. A notícia da morte de Pedro Sobral, diretor da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros e da LeYa, depois de ter sido atropelado quando andava de bicicleta, chocou amigos e colegas e provocou reações ao mais alto nível no Estado português, incluindo do Presidente da República.

Marcelo Rebelo de Sousa não demorou, poucas horas depois de se saber da notícia, na manhã deste sábado — primeiro soube-se que um ciclista tinha sido atropelado em Lisboa, e rapidamente se confirmou que se tratava de Pedro Sobral — a reagir à notícia “trágica”.

Numa nota divulgada no site da Presidência da República, Marcelo destacou o trabalho de Sobral como presidente da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL), garantindo que fará “muita falta ao setor” e deixando uma nota mais particular de agradecimento pela parceria, em que Sobral era “um dos principais dinamizadores”, na construção da anual Festa do Livro em Belém.

A nível do Governo, a ministra da Cultura, Dalila Rodrigues, também assumiu estar “chocada” com a notícia, decidindo recordar, numa nota de pesar, o “espírito crítico e empreendedor” de Sobral, tal como a sua “dinâmica aberta ao diálogo”.

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Numa nota enviada à comunicação social, o gabinete de Carlos Moedas lamenta a “triste notícia” e fala mesmo em “profunda tristeza”. Era muito jovem, dinâmico e empreendedor, mas sobretudo um amigo que não esquecerei. Dedicava-se profundamente a aumentar os públicos e o prazer e os hábitos de leitura. Apresentou-nos uma nova forma de trabalhar o setor e, com base em estudos e abordagens inovadoras, desenhava uma estratégia assente no trabalho em conjunto para criar mudanças significativas e estruturais no sector do Livro”, escreve o presidente da Câmara Municipal de Lisboa.

Estas foram, aliás, qualidades destacadas pelos muitos amigos e colaboradores que se foram manifestando durante este sábado, muitos deles representantes do mundo editorial.

Em declarações ao Observador, e já depois de em comunicado a LeYa ter falado numa “perda com danos inultrapassáveis”, a CEO da editora, Ana Rita Bessa, reagiu à notícia referindo que Pedro Sobral gostaria de ser lembrado como alguém com “muitas inquietações” que se traduziam em “bons combates pelo valor do livro” e para que a leitura chegasse a cada vez mais pessoas.

“Era igualmente fervoroso no combate pela liberdade de expressão”, frisou. “Pautou a sua vida profissional, na LeYa mas também na APEL, por estas duas formas de estar”. E recordou a “capacidade de acolhimento” e a “gargalhada fácil” do colega e amigo.

Numa nota também mais pessoal, feita em declarações à rádio Observador, Clara Capitão, diretora da Penguin Random House e membro da direção da APEL, lembrou uma pessoa de uma “energia inesgotável” e uma “vontade tão grande de trabalhar, mudar, lutar”. Para a antiga colega, Pedro Sobral mostrava ter a atitude contrária da que muitas vezes se encontra num setor “difícil” como o dos livros: “Um otimista por natureza”, que trouxe à APEL “tempos absolutamente transformadores” graças ao seu “espírito incansável de resistência e transformação”.

“Raramente encontrei pessoas assim na vida”, acrescentou, lembrando que apesar de pertencerem a grupos “rivais” no setor editorial foi facilmente conquistada pela “energia e boa disposição” de Pedro Sobral, uma pessoa “com opiniões muito fortes, muito teimoso, mas que também tinha a humildade de escutar”.

Já a APEL falou numa “trágica notícia” e destacou Pedro Sobral como uma figura de “enorme relevo” na edição livreira. Em comunicado enviado à Agência Lusa, a associação destaca o trabalho de Sobral como tendo “promovido uma maior união entre editores e livreiros, bem como incentivado a excelência e a ética no mercado”.

Na rede social X, Francisco José Viegas, editor da Quetzal, reagiu à notícia também assumindo o seu “choque” com a morte de um “homem bom e com tanto para fazer”. “O Pedro Sobral mudou a APEL e o modo como a edição se apresentava em Portugal”, escreveu.

Recordando que o presidente da APEL “dedicou grande parte da sua carreira ao setor livreiro”, o Grupo Porto Editora destaca, em comunicado, que nos últimos anos Pedro Sobral “assumiu um papel timoneiro na defesa do livro, dos editores, dos autores, dos livreiros e de todos os profissionais da área da edição literária em Portugal”.

“Todos os que privaram com ele tiveram oportunidade de testemunhar a sua dedicação e compromisso na modernização e defesa do setor livreiro e na promoção da leitura no nosso país. O seu legado perdurará nas inúmeras iniciativas e projetos em que esteve envolvido, pautando a sua atuação pelo diálogo e espírito empreendedor”, lê-se no comunicado.

Também o Grupo BertrandCírculo recorda o “papel de liderança incontornável na defesa do livro, dos editores, dos autores, dos livreiros, e de todos os profissionais ligados à edição em Portugal”, assumido nos últimos anos por Pedro Sobral.

“Foi um verdadeiro promotor do livro e da leitura, defensor do diálogo e exemplo maior do espírito associativo. Que a sua memória perdure no legado que construiu, tanto a nível empresarial como associativo”, refere aquele grupo numa publicação partilhada das redes sociais.

O grupo editorial Penguin Random House lembra Pedro Sobral como um “férreo defensor do valor e do poder dos livros e uma das figuras mais dinâmicas e vibrantes do mundo editorial português, capaz de um entusiasmo sem fronteiras, alimentado pela crença inabalável na importância vital da leitura”.

A defesa “dinâmica e empenhada” que Pedro Sobral fazia do livro, da leitura e do leitor é também referida pela Imprensa Nacional Casa da Moeda, numa publicação nas redes sociais, salientando-se que “o universo editorial e livreiro português ficou, esta manhã, mais pobre”.

A Guerra e Paz Editores está “de luto”, pela morte de “um grande defensor” do livro, e a Tinta da China considera que “o mundo dos livros em Portugal fica sem dúvida mais pobre”.

Pedro Sobral era presidente da APEL desde 2021, depois de ter ocupado durante três anos o cargo de vice-presidente. Na Leya era coordenador da divisão editorial e diretor geral de edições, depois de ter passado pelo grupo Almedina na área do Marketing. Era licenciado em Economia e em Ciência Política, pela Universidade Católica de Lisboa, tendo frequentado o Programa de Gestão Geral na Harvard Business School.