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A poetisa Adília Lopes, pseudónimo de Maria José da Silva Viana Fidalgo de Oliveira, morreu esta segunda-feira ao final da tarde aos 64 anos. A notícia foi avançada pelo jornal Público e confirmada pelo Observador junto de fonte da editora Assírio & Alvim.

A poetisa que editou 36 livros estava internada há algum tempo, no Hospital de São José, em Lisboa, onde acabou por morrer vítima de doença prolongada.

O velório realiza-se a partir das 18h00 de quarta-feira na Capela do Rato, seguindo o funeral quinta-feira para o Cemitério dos Prazeres, revelou a Assírio & Alvim. A missa será às 13h00 com o cardeal José Tolentino Mendonça, e o funeral prossegue às 14h00 para o Cemitério dos Prazeres, na freguesia da Estrela.

Nascida em Lisboa em 1960, Adília Lopes cumpriu este ano 40 anos de vida literária, desde que se revelou na primeira edição do Anuário de Poetas não Publicados da Assírio & Alvim, em 1984.

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A sua obra inclui títulos como O Poeta de Pondichéry, Manhã, Irmã Batata, Bandolim, Estar em Casa, Dias e Dias e Choupos. Este ano reuniu a sua obra em Dobra (2024), numa edição com poemas inéditos.

Adília Lopes ingressou no curso de Física na Universidade de Lisboa, mas acabou por desistir quando estava a ponto de completá-lo. Ingressou depois na licenciatura de Literatura e Linguística Portuguesa e Francesa, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, especializando-se em Ciências Documentais..

A meio da segunda licenciatura, a escritora publicou, em 1985, o seu primeiro livro de poesia: Um Jogo Bastante Perigoso.

Numa entrevista em 2005 ao suplemento DNA do Diário de Notícias, Adília Lopes explicou a escolha de um pseudónimo: “Dava-me mal com o meu nome. Tinha problemas com os meus pais e o meu verdadeiro nome, o do bilhete de identidade, era o dos meus pais: Silva Viana da minha mãe, Fidalgo de Oliveira do meu pai. E Maria José por causa dos pais, dos avós, de não sei o quê”.

A escolha de Adília Lopes surgiu sem “razão nenhuma”. Na mesma entrevista, a poetisa assinalou que “concorreu a um concurso de texto literário” e “fazia parte do regulamento usar um pseudónimo”. “Então pedi a um amigo que me inventasse um pseudónimo e ele inventou este. Surgiu este nome e então eu adoptei-o. Ficou com um nome.”

Mais tarde, em 1999, a companhia de teatro Sensurround, da atriz e encenadora Lúcia Sigalho, realizou um espetáculo baseado em textos da autora, intitulado A Birra da Viva.

Em 2001, Adília Lopes fez a versão portuguesa das Nursery Rhymes (Rimas de Berço), escolhidas pela pintora Paula Rego (1935-2022) para a sua série de ilustrações, originalmente publicada em Londres, em 1989. Na bibliografia da escritora encontra-se igualmente o livro O Poeta de Pondichéry, com ilustrações do pintor Pedro Proença.

Ministra da Cultura destaca “dimensão afetiva dos versos” de Adília Lopes. Marcelo fala numa “visão alternativa do que é a poesia”

Numa nota enviada às redações, a ministra da Cultura, Dalila Rodrigues, lembrou que, ao longo das últimas quatro décadas de produção literária, Adília Lopes “afirmou-se como uma das mais originais e inconfundíveis vozes da poesia portuguesa”.

“A partir da dimensão afetiva que atravessa os seus versos, soube inovar através de uma exploração linguística profundamente original, sendo por isso reconhecida e acarinhada pelos seus leitores”, destacou ainda a ministra, que apresentou as condolências à família e amigos.

O Presidente da República também lamentou a morte de Adília Lopes. Numa nota de pesar publicada no site da Presidência, Marcelo Rebelo de Sousa destacou como a poetisa jogava com as palavras “de forma lúdica ou sofrida, com o trivial, o confessional, o falsamente inocente, o humorístico, o desarmante e até o perverso”. A sua vida “tão intensa quanto discreta”, escreve o Presidente, a par do “seu aparente prosaísmo” deu ao país, diz “uma visão alternativa do que é a poesia”.